Resenha: Crypta – “Shades of Sorrow” (2023)

Se você chegou até aqui esperando que essa resenha venha ridicularizar ou criar qualquer conexão com o recente caso da vocalista/ baixista Fernanda Lira que pediu ajuda via pix aos seus seguidores, sinto muito lhe desapontar, mas  você acabou vindo ao lugar errado. Aqui vamos falar de música. E música muito bem feita por sinal, que é o que temos neste “Shades of Sorrow”, lançado na última sexta-feira, 4.

Nos dois anos que separaram “Echoes of the Soul” de “Shades of Sorrow“, a banda passou por uma mudança na formação, saiu Sonia Annubis e entrou Jéssica di Falchi, que deu a banda ainda mais peso. Sem falar na estrada, com direito a festivais como Rock in Rio, Wacken, Summer Breeze e mais recentemente, tour pela Europa. E há os que se sintam bem em malhar a banda simplesmente por puro ódio e dor de cotovelo por ver uma banda formada por mulheres e o que é melhor, brasileiras, brilhando. Enfim, coisas do headbanger conservador, ainda que essas duas palavras sejam anacrônicas e não combinem na mesma frase, mas é o que acontece por aqui.

A bagagem que as meninas acumularam ao longo destes dois anos aumentou o sarrafo a ser vencido por elas neste novo lançamento e, elas estavam ciente disso, portanto deram o melhor de si e produziram um álbum bem diferente do espetacular disco de estreia. Novamente lançado pela Napalm Records, gravado no badalado Family Mob, em São Paulo, produzido por Rafael Augusto Lopes, que tem em seu currículo trabalhos no Hangar e também no álbum solo de Kiko Loureiro. Masterizado por ninguém menos que Jens Bogren, requisitado produtor sueco.

A baterista Luana Dametto impressiona pela evolução em seu instrumento entre um álbum e outro. Quem já viu a banda ao vivo, certamente irá concordar, pois ela consegue deixar as músicas de ‘”Echoes of the Soul” ainda mais destruidoras. Jéssica Di Falchi também agregou muito, deixando as guitarras ainda mais pesadas e brutais do que a sua antecessora. E aqui não há comparação de quem é melhor ou pior, apenas uma constatação que fez muito bem para a banda.

Os grandes destaques do álbum são a esporrenta “Dark Clouds“, que abre o álbum de maneira apoteótica, “Poisonus Apathy“, que traz uma certa quantidade de melodia, principalmente no refrão, que lembra muito o que o Arch Enemy fazia nos tempos da diva Angela Gossow, além das já conhecidas do público “Trail of Traitors” e “Lord of Ruins“, esta última, une velocidade, peso e um clima atmosférico que faz o ouvinte viajar.

Em 51 minutos e 13 faixas, sendo 10 músicas e três intros, temos uma banda madura, sabendo cadenciar partes rápidas com outras mais arrastadas e o resultado é um excelente disco de Death Metal. Claro que os headbangers que não suportam mulheres irão colocar defeitos nas garotas. Uma coisa é não gostar do som delas e isso, desde que se utilizem bons argumentos, é super válido. Agora falar mal pelo simples fato de ser uma banda feminina ou pelo posicionamento político da Fernanda Lira (N. do R: sim, ela está do lado certo da história) é no mínimo ser leviano.

Shades of Sorrow” veio para mostrar sim, que a Crypta é a grande banda nacional do momento. E Fernanda, um grande exemplo para as minas que estão na cena. A boa notícia é que teremos mais um álbum que vai fazer história no Metal nacional. Vai figurar fácil nas listas de melhores álbuns do ano.

NOTA: 9,0

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