Resenha: Death Angel – “Relentless Retribution” (relançamento)

Quando o Death Angel surgiu na cena californiana e lançou The Ultra-Violence em 1987, poucos esperavam que uma banda tão jovem fosse capaz de colocar no mapa um dos registros mais impactantes do thrash metal oitentista. Aquele disco moldou a formação musical de muita gente — inclusive a de quem escreve — e continua sendo um clássico absoluto. O problema é que o grupo nunca conseguiu repetir aquela combinação de espontaneidade, agressão e criatividade nos trabalhos posteriores. E Relentless Retribution, sexto álbum da carreira e que é relançado pela parceria Nuclear Blast e Shinigami Records, deixou essa distância ainda mais evidente.

Seguindo a trilha menos agressiva já visível em Killing Season (2008), o Death Angel se afasta ainda mais de suas raízes thrash para flertar com um metal moderno, melodioso e bastante próximo do que bandas como Trivium e Shadows Fall faziam na metade dos anos 2000. Não é uma guinada total — alguns momentos preservam a veia old school —, mas a mudança é grande o suficiente para afastar parte dos fãs mais antigos. A impressão é que a banda tenta dialogar com tendências mais comerciais, apostando em refrãos limpos e estruturas polidas.

“Relentless Revolution” abre o álbum de forma promissora: riffs fortes, vocais agressivos e uma energia que remete aos bons tempos. Mas a esperança dura pouco. Assim que “Claws in So Deep” começa, fica evidente que o Death Angel está mirando outro público. O refrão limpo e acessível soa claramente radiofônico e destoa do restante da composição, lembrando diretamente a fase mais melódica do Trivium — e não no melhor sentido. A produção responsável por discos recentes de All That Remains, Black Dahlia Murder e dos próprios Trivium ajuda a explicar essa estética mais moderna, mas a execução deixa a desejar, soando derivativa.

Depois desse tropeço, algumas faixas recuperam um pouco da essência antiga, ainda que de forma mais comportada. “Truce”, “Into the Arms of Righteous Anger” e “River of Rapture” trazem ataques rápidos, melódicos e com mais cara de thrash, embora não consigam atingir a intensidade dos anos 80. Contudo, essa retomada dura pouco: “Absence of Light” e “Opponents at Side” mergulham novamente no metal moderno, chegando perigosamente perto do emo-core em certos trechos. Mesmo quando o peso aparece, a sensação é de algo diluído, como um Death Angel suavizado para agradar rádios e novos ouvintes.

Alguns detalhes agravam esse sentido de perda de identidade. O final acústico de “Claws in So Deep” parece deslocado, sem agregar ao clima do álbum. “Volcanic”, uma balada acústica inteira, reforça ainda mais a estranheza — algo difícil de imaginar na banda que criou The Ultra-Violence. Em várias faixas, os refrãos melódicos parecem colados sobre bases mais agressivas, prejudicando o fluxo natural das músicas. O resultado é um disco que tenta conciliar duas eras e duas filosofias sonoras incompatíveis.

Relentless Retribution acaba sendo um álbum frustrante, com bons momentos perdidos em meio a escolhas duvidosas e uma direção artística pouco convincente. Para quem acompanha o Death Angel desde os anos de glória, a sensação é de fim de ciclo — talvez até de ruptura emocional. Há faixas decentes, sem dúvida, mas o conjunto carece de autenticidade, deixando no ar a impressão de que a banda deixou para trás parte do que a tornou especial. Para alguns, será apenas evolução; para outros, um triste ponto de virada.

NOTA: 8

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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