Resenha: Destruction – “Spiritual Genocide” (relançamento)
Chegar aos 30 anos de carreira no thrash metal não é para qualquer um — e o Destruction é, sem dúvida, uma das bandas que ajudaram a moldar o gênero. Ícones da cena alemã ao lado de Sodom e Kreator, eles atravessaram crises, mudanças, reinvenções e, desde os anos 2000, vinham mantendo uma fase bastante sólida. Após o competente Day of Reckoning (2011), o grupo decidiu celebrar sua trajetória com Spiritual Genocide, lançado já no fim de 2012. A expectativa era alta, mas o resultado revela um disco que soa apressado, irregular e longe da força que o nome Destruction carrega.
O começo até engana. Após a introdução, “Cyanide” chega como um chute na porta: rápida, agressiva, direta. É thrash puro, com a fúria característica da banda. Mas logo se percebe que falta algo — a faísca criativa que transforma um petardo agressivo em um clássico. O refrão em coro, por exemplo, parece mais um recurso repetido do que algo que sustente a energia da faixa.
A sequência melhora com a faixa-título “Spiritual Genocide”, que traz riffs que remetem aos tempos de “Eternal Devastation” e “Release From Agony”. É a banda evocando sua fase mais inspirada, com peso, velocidade e personalidade. Porém, essa chama não dura muito. A partir daí, o álbum entra num vai e vem constante entre boas ideias e músicas que parecem recicladas do manual do thrash.
“Renegades” e “City of Doom” são exemplos claros disso: composições previsíveis, sem força, e que em vários momentos soam como imitações pálidas de outros grupos europeus. Falta identidade — algo impensável num disco comemorativo.
Essa oscilação se mantém até o fim. Há lampejos de qualidade em “To Dust You Will Decay”, com riffs mais marcantes, e no ataque certeiro de “No Signs of Repentance”. Mas logo o ouvinte tropeça em faixas esquecíveis como “Riot Squad” e “Under Violent Sledge”, que passam sem deixar impacto.
O grande momento do álbum surge quase como um presente aos fãs: “Legacy of the Past”. Aqui, Schmier divide vocais com Tom Angelripper (Sodom) e Gerre (Tankard) — uma reunião histórica do thrash alemão. A música é pura nostalgia, com os três celebrando a própria história e mencionando clássicos do gênero no refrão. É simples, até meio boba, mas irresistível para quem viveu (ou reverencia) a época.
Mesmo quando as composições cambaleiam, os músicos entregam performances sólidas. Schmier continua com seu vocal cortante; Mike Sifringer, embora com menos riffs memoráveis desta vez, ainda exibe aquela pegada inconfundível; e o baterista Vaaver é, sem exagero, um dos pontos altos do disco — técnico, veloz, cheio de variações criativas. Ol Drake, convidado especial do Evile, também deixa solos competentes em algumas faixas.
No fim das contas, Spiritual Genocide é um álbum com bons momentos, mas incapaz de sustentar o peso simbólico da celebração de três décadas de carreira. Não é ruim — está longe disso. Mas soa apressado, pouco inspirado e sem a consistência que o Destruction provou tantas vezes ser capaz de entregar. Para uma banda que ajudou a escrever capítulos essenciais do thrash metal, é um registro menor dentro de uma discografia gigante.
Ainda assim, o marco de 30 anos merece ser celebrado. Que venham mais discos, mais turnês e, principalmente, mais tempo para que o próximo lançamento volte a mostrar o Destruction em sua forma mais destrutiva — sem pressa, sem compromissos e com a fúria que sempre os definiu.
NOTA: 7
