Resenha: Edguy – “Rocket Ride” (relançamento)

O Edguy nunca esteve entre as minhas bandas favoritas. Mandrake foi um disco sólido, claro, mas no geral o grupo sempre me pareceu ocupar um segundo escalão dentro do power metal alemão: competente, divertido em alguns momentos, mas raramente essencial. Ainda assim, mesmo quando os álbuns apresentavam partes fracas, o resultado final quase sempre acabava sendo satisfatório. Isso, no entanto, mudou drasticamente em 2006, quando a banda lançou Rocket Ride, que agora retorna as prateleiras pela parceria Nuclear Blast e Shinigami Records, um dos tropeços mais inexplicáveis da carreira de Tobias Sammet e companhia.

Desde a arte da capa até escolhas musicais como “Fing with Fire (Hair Force One)”, fica difícil entender o que exatamente o Edguy pretendia ao montar esse disco. A tentativa de misturar power metal com hard rock e hair metal oitentista até poderia ter rendido algo interessante, mas aqui resulta em um álbum genérico, repetitivo e carente de identidade. Faixas como “Save Me”, “Trinidad” e a já mencionada “Fing With Fire” parecem extraídas de um baú de riffs descartados dos anos 80, daqueles que deveriam permanecer fechados para sempre. São músicas que às vezes até soam pegajosas, mas cuja previsibilidade e falta de inspiração anulam qualquer mérito imediato.

Mesmo quando os elementos de power metal ainda dão as caras, como em “Out of the Vogue”, “Return to the Tribe” e “The Asylum”, o ímpeto inicial logo se perde em composições sem brilho, que reciclam fórmulas e rapidamente se tornam indistinguíveis umas das outras. A sensação é de que a banda abandonou qualquer preocupação com estrutura ou impacto, resultando em um disco que se arrasta e parece cada vez mais desinteressante conforme avança.

Outro problema evidente é o humor. O Edguy sempre flertou com irreverência, assim como Helloween e Gamma Ray, e às vezes isso funcionava bem. Aqui, porém, a banda atravessa a linha do bom senso e cai direto no ridículo. A capa, as letras e faixas como “Superheroes” e “Trinidad” soam como piadas internas transformadas em músicas — mas sem a graça necessária para sustentar a ideia. O resultado é um álbum que, na maior parte do tempo, parece zombar de si mesmo sem entregar nada de realmente divertido. Há apenas um momento genuinamente engraçado: o surto falado de Tobias no final de “Catch of the Century”. Mas um lampejo isolado não resgata um trabalho inteiro.

E é justamente Tobias Sammet o ponto alto do disco. Ironia ou não, o vocalista entrega aqui uma das suas melhores performances até então. Mesmo sem mudar seu estilo, ele canta com mais firmeza, melodia e controle. Os refrões de “Superheroes” e “Catch of the Century” são exemplos de como sua voz consegue carregar músicas que, de outra forma, seriam completamente esquecíveis. Se o material ao redor estivesse à altura, talvez Rocket Ride tivesse algum brilho. Mas a verdade é que não há vocais que salvem arranjos tão pobres e composições tão desinteressantes.

No fim das contas, Rocket Ride é um dos maiores desapontamentos que já tive com um álbum de power metal. É raso, repetitivo e incapaz de sustentar a mistura de estilos que tenta propor. Hardcore fans podem até encontrar algum conforto na irreverência ou nas melodias ocasionalmente pegajosas. Fãs de hard rock farofa podem achar tolerável. Mas para quem espera música consistente, ideias bem desenvolvidas e um mínimo de inspiração, este disco simplesmente não entrega. Se estiver conhecendo o Edguy agora, passe longe desta rota. Volte para Mandrake, onde a banda realmente tinha algo a dizer.

NOTA: 6

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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