Resenha: Gorefest – “La Muerte” (relançamento)
O Gorefest lançou quatro discos de sucesso relevante com os fãs da música pesada, mas a banda encerrou atividades de forma amarga após Chapter 13, com os membros sem nem sequer se falar. Oito anos depois, diferenças resolvidas, a Nuclear Blast os recebeu de volta e lançaram um de seus discos mais pesados desde o clássico False.
Musicalmente, La Muerte, que ganhou relançamento pela Shinigami Records, se encaixa exatamente entre False e Erase. Traz o andamento urgente e tipicamente europeu de False, mas conserva um pouco do groove death ’n’ roll de Erase, só que sem a sonoridade tão “limpa”. Até a arte lembra uma fusão desses dois discos. A masterização de Tue Madsen confere modernidade, mas preserva a identidade do Gorefest. Já os vocais de Jan C seguem sua linha mais grave da fase tardia: muitos “roars” prolongados, muita presença, e ainda assim totalmente reconhecíveis.
O álbum anuncia seu retorno com “For the Masses”, talvez a melhor música de comeback que a banda poderia ter composto — grandiosa, expansiva e com a mesma força que “The Glorious Dead” teve na abertura de False. Aliás, os fãs mais atentos perceberão que várias composições aqui dialogam diretamente com faixas clássicas do grupo. Para citar algumas aproximações: “For the Masses” remete a “The Glorious Dead”; “Malicious Intent”/“Man to Fall” lembram “Piece of Paper”/“To Hell and Back”; “Exorcism” evoca “Soul Survivor”; “Rogue State” se conecta a “Reality – When You Die”; “Of Death and Chaos” conversa com “False”; e por aí vai. Isso, por si só, deve tranquilizar qualquer fã desconfiado.
Mas não se trata apenas de nostalgia. Cada faixa possui identidade própria, variedade de andamento, dinâmica e personalidade — algo ausente em Chapter 13, que, além disso, era longo demais. Aqui não há o órgão Hammond (que eu até gostava) nem as viagens psicodélicas setentistas de Soul Survivor, tampouco a postura quase rock de Chapter 13. Este é o Gorefest em sua forma mais direta e essencial, tocando pesado, focado e com vigor renovado. Existem alguns vocais alternativos que lembram discretamente as tentativas de Chapter 13, mas eles aparecem pouco e nunca comprometem.
A única novidade inesperada é a faixa-título que encerra o álbum: um instrumental de dez minutos. É um bom tema, bem construído, mas talvez funcionasse melhor no meio do disco, já que não entrega o impacto final que “‘Til Fingers Bleed” ofereceria como encerramento.
O Gorefest podia ter perdido a mão após tantos anos parados, mas Jan, Boudewijn, Ed e Frank retornaram mais famintos do que nunca — especialmente Boudewijn, que despeja solos inspirados, e Ed Warby, que surpreende até com alguns blast beats.
Num cenário dominado por velocidade excessiva e técnica pela técnica, o Gorefest prova o valor de uma composição bem pensada. Mostra aos novatos como se fazia — e como ainda se pode fazer — death metal de verdade. Tentei não soar como um fã completamente parcial, e teria criticado La Muerte sem hesitar se ele tivesse fracassado. Mas não consegui: é exatamente assim que um álbum de retorno deve soar.
NOTA: 7
