Resenha: Gorefest – “Soul Survivor” (relançamento)
Gorefest sempre foi sinônimo de peso e brutalidade. Desde os tempos de “Mindloss” e “False”, a banda holandesa construiu sua reputação como uma força implacável do death metal europeu. No entanto, com o passar dos anos, o grupo passou a explorar caminhos mais ousados, e esse espírito de reinvenção atinge seu auge em “Soul Survivor”, relançado pela parceria entre Nuclear Blast e Shinigami Records.
Desde a primeira olhada na capa e no novo logotipo, fica claro que Gorefest não pretende repetir fórmulas. A sonoridade aqui é mais lenta, densa e carregada de groove — uma guinada que distancia o grupo da brutalidade crua de outrora e o aproxima de um terreno híbrido entre o death metal e o rock’n’roll. É a consolidação do chamado death’n’roll, um estilo que encontra equilíbrio entre riffs pesados e uma pegada mais solta e rítmica.
Faixas como “Forty Shades”, “River”, “Electric Poet” e “Dragon Man” são exemplos claros dessa nova direção. Os teclados inseridos por toda parte criam atmosferas sutis e intensas, enquanto as guitarras de Boudewijn Bonebakker exploram solos melódicos e wah-wah com naturalidade, dando às músicas uma identidade quase psicodélica. Há até momentos de voz sussurrada, como em “Dragon Man”, e efeitos vocais inusitados em “Demon Seed”, o que reforça a busca da banda por novas texturas.
Apesar da mudança de rota, Gorefest não perdeu sua essência. A voz gutural e inconfundível de Jan Chris de Koeijer continua sendo o fio condutor do disco, ainda que agora se destaque menos pela agressividade e mais pelo peso interpretativo. As letras seguem tratando de liberdade de pensamento e de uma visão crítica da existência — temas que acompanham o grupo desde o início.
A base rítmica, formada por Ed Warby (bateria) e Frank Harthoorn (baixo e guitarras), mantém o groove sólido, embora mais contido do que nos primeiros discos. A bateria de Warby, sempre técnica, aqui atua mais em prol da fluidez das composições do que do impacto. Isso não diminui sua importância; apenas reflete a maturidade de uma banda que sabe onde colocar cada elemento.
É verdade que a estrutura das músicas tende à repetição em alguns momentos, e a falta de variações vocais pode tornar certas faixas previsíveis. No entanto, os solos de Bonebakker resgatam o brilho melódico que já se destacava em clássicos como “Mental Misery” e “Confessions of a Serial Killer”, reafirmando o talento da banda em construir camadas expressivas dentro do caos.
Entre os destaques do álbum, “Electric Poet”, “Dog Day”, “Demon Seed”, “Chamaleon” e “Dragon Man” resumem bem a proposta do Gorefest nesta nova fase: peso, groove e experimentação equilibrados por uma musicalidade refinada.
A nova versão em digipack ainda traz um bônus gigante para os fãs, com demos do disco e faixas não lançadas, aumentando o apetite do fã pelo registro.
No fim das contas, “Soul Survivor” é o retrato de uma banda que se recusa a envelhecer dentro das próprias fórmulas. Longe de ser um retrocesso, é uma evolução natural — a prova de que o verdadeiro metal não precisa ser apenas brutal, mas também criativo.
NOTA: 8
