Resenha: Host – “IX” (2023)

Mudanças sonoras em bandas consagradas não são nada fáceis de serem aceitas pelos fãs. Quando se trata do metal extremo então, as coisas são um tanto mais complicadas. Imagine isso para uma banda como o Paradise Lost que trabalha aquele doom metal climático e denso, de uma hora para outra, decidiu que seria mais “palatável”, lançando uma série de discos no final dos anos 90, começo dos 2000, em que eles se tornaram uma nova banda.

Até hoje as opiniões são um tanto divididas em relação a esses trabalhos. O Paradise Lost voltou as suas linhas primárias e abandonou esse momento “clean”, ou talvez não. Foi o que nos pareceu quando Nick Holmes e Greg Mackintosh resolveram lançar o projeto Host, justamente o nome do primeiro disco de sua banda principal e que trouxe essa nova roupagem, lá em 1999. A proposta da nova empreitada era justamente captar os ares desses registros, mas para não haver mais “embaraços”, sob o nome de uma nova ideia.

E assim nasceu, “IX”, o disco de estreia do Host, lançado em 2023 pela Nuclear Blast e distribuído no Brasil pela Shinigami Records, e agora, sem as o peso do nome tradicional, as pessoas pode apreciar essa nova vertente sem preocupações, e para os que forem se aventurar nesses novos prados, com certeza não irão se arrepender.

Ao darmos o play em “Wretched Soul”, antes de mais nada, há um sentimento de nostalgia, a volta no tempo daquele Paradise Lost mais “mtvistico”, e é impossível não dar um sorriso de canto de boca. Bateria eletrônicas, climas feitos por sintetizadores, aquela ambientação gótica e algo que se torna uma viagem sonora. Duas coisas são vistas de cara aqui. A qualidade e densidade da voz de Holmes, e suas letras obscuras, aliadas a música sombria e soturna de Greg, mostrando serem nada menos do que dois grandes gênios da música atual! “Tomorrow’s Sky” da seguimento trazendo um ar oitentista, embalado facilmente pelo Depeche Mode e cria nada menos do que uma das melhores faixas do disco. Sintetizadores mais uma vez dão o tom aqui, e te embalam em uma viagem sonora maluca e ao mesmo tempo, divina. “Divine Emotion” não é nada menos do que o que o seu nome sugere. Daquelas músicas para se fechar os olhos e só deixar ir. O disco ainda cria alguns momentos mais dançantes, como “Hidding From Tomorrow“, música que estampa a parte traseira do encarte do disco e parece ter saído diretamente de algum clube dos anos 80 em uma viela escura e iluminado por alguma luz vermelha. “Inquisition” é algo em crescendo e traz uma vibe que capta o ouvinte de uma forma única e passeia por lugares densos, como uma nevoa de um sonho que a qualquer hora pode se tornar um pesadelo.

Entre outros grandes momentos que o registro nos proporciona, talvez não houvesse espaço no Paradise Lost para algo desse formato e quem ganha somos nós com a entrega de algo tão bem feito como o que encontramos por aqui. O Host é para apreciadores de boa música, independente de estilos. Se você procura algo como um sonho melancólico e que soe preocupado com o amanhã, mergulhe agora mesmo nessa viagem que Holmes e Mackintosh criaram. Você não se arrependerá pois eis aqui, sem dúvida alguma, um dos discos do ano.

NOTA: 9

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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