Resenha: Nile – “The Underworld Awaits Us All” (2024)

Ao longo das últimas duas décadas, o death metal percorreu caminhos inusitados, mas o Nile sempre se manteve fiel à sua essência. Com uma abordagem técnica e brutal, a banda se destaca não apenas pela musicalidade, mas pela rica mitologia que permeia suas letras, especialmente as que exploram o antigo Egito. Desde o último álbum, muitas mudanças ocorreram no mundo ao redor do Nile, incluindo alterações em sua formação e no selo que lança sua música. No entanto, a identidade única do Nile permanece intacta, e “The Underworld Awaits Us All“, lançado pela Napalm Records e distribuído no Brasil Pela Shimigami Records, é uma demonstração brilhante dessa continuidade. Preparem-se para uma análise ousada deste disco, que promete ser tanto dinâmico quanto consistente.

Desde sua introdução, “The Underworld Awaits Us All” é uma explosão de energia frenética e desequilibrada. A faixa de abertura, “Chapter for Not Being Hung Upside Down on a Stake in the Underworld and Made to Eat Feces by the Four Apes”, possui o título mais longo do death metal deste ano e encapsula tudo que torna o Nile inconfundível. Embora o título possa parecer absurdo, ele é inspirado em punições para aqueles que falham na vida após a morte. Musicalmente, a canção impressiona com riffs técnicos, solos arrebatadores e uma bateria de primeira linha — todos elementos que definem o som do Nile. Essa faixa é um verdadeiro testemunho do que a banda tem a oferecer, e sua qualidade fez com que eu me sentisse mais investido no novo material do que em qualquer outro álbum desde “Ithyphallic”. Aqui está uma afirmação ousada para começar.

Uma crítica comum ao Nile é a duração de seus álbuns, que frequentemente ultrapassa uma hora. Para alguns, isso pode ser maravilhoso, mas, para mim, essa duração pode se tornar exaustiva, especialmente sem uma dinâmica que mantenha o ouvinte engajado. Contudo, em “The Underworld Awaits Us All“, a banda implementou estratégias que evitam a fadiga. Uma delas é a variação na duração das faixas ao longo do álbum. Apenas algumas músicas possuem tempos semelhantes no final do disco, criando uma progressão intencional que mantém o fluxo entre as canções. Apesar da intensidade, o ritmo e a cadência tornam a experiência agradável e acessível.

Um dos aspectos mais fascinantes da trajetória do Nile é sua habilidade de incorporar diferentes ângulos e emoções em suas composições. Essa diversidade foi marcante em seus primeiros álbuns, mas foi diminuindo ao longo do tempo. Felizmente, “The Underworld Awaits Us All” traz de volta essa riqueza. Harmonias corais em “Naqada II Enter the Golden Age“, passagens instrumentais como “The Pentagrammathion of Nephren-Ka” e outros momentos sutis conferem ao álbum uma sensação de completude e complexidade.

A ideia de um álbum “completo” ressoa fortemente durante as audições. Não há um excesso de faixas explosivas no início, apenas para perder energia mais tarde. Em vez disso, o álbum se constrói de maneira intencional, revelando novas camadas de forma gradual e impactante. “True Gods of the Desert” destaca-se como uma faixa multifacetada, expandindo o alcance vocal dos cantores e levando a banda a um território quase doom, com passagens melódicas e intrincadas. A penúltima faixa, que leva o nome do álbum, é a mais complexa e expansiva, oferecendo uma verdadeira delícia para os fãs de Nile e do death metal em geral, com suas mudanças de tempo, riffs angulares e uma estrutura envolvente.

A expectativa por um novo disco do Nile estava alta, e, embora eu tenha um carinho especial por essa banda, confesso que estava ansioso para ver o que Karl Sanders e sua equipe estavam preparando nos últimos cinco anos. A surpresa veio na forma de um álbum que supera as minhas expectativas. Apesar da consistência da banda ao longo das décadas, a centelha criativa de seus primeiros trabalhos parecia ter se apagado em alguns momentos. Felizmente, “The Underworld Awaits Us All” resgata o que torna o Nile essencial e único. Com um dos melhores — senão o melhor — bateristas do death metal técnico, riffs incríveis, estrutura dinâmica e solos impressionantes, este álbum é tudo o que eu esperava e muito mais. Na minha opinião, é o melhor trabalho do Nile desde o clássico “Annihilation of the Wicked”. É um excelente ano para os fãs de death metal brutal e técnico, e a expectativa de onde este álbum pode chegar é realmente empolgante.

NOTA: 7 

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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