Resenha: Sinistra – (2022)
Nos 45 do segundo tempo, quando as listas de melhores do ano estava quase pronta, eis que chega o Sinistra e seu álbum homônimo de estreia, e assim, tudo muda no jogo de peças já colocadas.
Há alguns anos anunciado e com alguns singles revelados, muitos se perguntaram se a banda seguiria ou não, e se seu disco em algum momento veria a luz do dia. Aí está! Composto por Nando Fernandes, o monstro das vozes, Luís Mariutti e um baixo cavalar, o mestre “bluesistíco” e rock n’roll, Edu Ardanuy nas seis cordas e fechando a equipe, Rafael Rosa na bateria, o registro é cheio de presença e qualidade.
Cantado em português, ali estão as influências do Sabbath, com o poder desse time destilando seu peso e sua bagagem imensa, construindo um disco muito bem amarrado, com o toque de cada um dos seus membros e o mais puro heavy metal transpirando em cada nota!
“Mente Vazia” abre o caminho e faz em grande forma. Pesada como um bigorna, densa e ágil, com uma letra forte e a banda já mostrando de cara que o tempo fez bem em amarrar as quatro pontas aqui. Nando é simplesmente magistral, soando com imponência e sua marcante voz rasgada e ainda com tempo de no final soar mais melódico, mostrando o extremo domínio do canhnão que tem na garganta. “Viver” começa truculenta com a bateria de Rafael, e segue mais cadenciada, com Ardanuy ditando o ritmo e uma outra letra impactante, que nos remete a bandas nacionais de pegada bruta assim, como o Carro Bomba. “O Amanhã” traz ares do Rainbow, e uma música carregada de groove, letra retratando medos e Nando interpretando palavra por palavra de forma que soa gigante, principalmente em seu refrão, “o amanhã pode ser diferente/que a luz volte a brilha/que você volte a sorrir“. É de se aplaudir de pé. “Santa Inquisição” é um monstro chegando soturno, embalada por teclados na intro, que dão um baita ambiente. Tony Iommi estaria feliz ouvindo isso (e tomara que ouça), uma letra com o dedo entochado numa ferida da sociedade, e assim está armado palco para um dos melhores momentos do disco. “Quem é Você” é dona de ritmo lento, e senhor, como Mariutti soa pesado aqui, um monstro gritando nos timbres graves. Que linhas vocais encontramos, e as seis cordas de Ardanuy trabalham para acompanhar essa tarefa, mas obviamente tudo sai na risca! Aqui estamos na metade do registro ainda e já se mostra grande. Na sua segunda parte, as coisas caem um pouco no andamento, talvez pelo grande impacto do ouvido até aqui, mas nem de longe a qualidade cai, pois ainda encontramos pela frente, “Umbral”, seguindo no ritmo cadenciado, “Livre Para Seguir“, que é mais agitada e dinâmica, “Rock and Roll na Veia“, que como o nome sugere, é uma homenagem ao gênero, e que bela homenagem. O solo de Ardanuy nessa última mostra que o homem está criativo e com a criatividade fervilhando! Indo para o final, “Nada Mais é Igual” soa um pouco perdida em meio as demais, e só abre alas para “Insônia”. Fechando em tom dramático, a música nos transporta para dentro de um pesadelo, contradizendo seu nome, mas daqueles em que não sabemos estar acordados ou dormindo, criando um clima quase palpável nos seus segundos de execução.
Se houve um ano grande para o metal nacional nos últimos tempos, 2022 pode figurar entre os melhores com toda certeza. Esse ano desfilaram Krisiun, Claustrofobia, The Troops of Doom, Ratos de Porão, e entre outros, o Sinistra que galga seu espaço entre nomes mais velhos sem vergonha de ser o novato da turma, acompanhando e abrilhantando esse nosso time. Que tenha vida longa e nos presenteie com mais momentos como esse, nós agradecemos!
NOTA: 8
