Resenha: The Exploited – “Fuck the System” (relançamento)
Com “Fuck the System”, o The Exploited entrega um dos seus mais viscerais manifestos sonoros. Lançado originalmente em 2003, este álbum carrega toda a fúria punk de sempre, agora temperada com doses generosas de metal, numa fusão crossover que reforça a mensagem de revolta e descrença no status quo. Recentemente, chegou novamente ao mercado uma edição em digipack — fruto da parceria entre a Nuclear Blast e a Shinigami Records —, trazendo ainda mais peso simbólico para um trabalho que, desde o começo, já se posicionava como um grito de liberdade.
A estrutura do disco impressiona pela objetividade: 13 faixas curtas, rápidas e diretas, quase todas ultrapassando pouco mais de dois minutos, seguindo a lógica do punk hardcore. A faixa-título, “Fuck the System”, abre com um soco na cara, letra agressiva, ritmo acelerado, e logo dá o tom para o que virá — resistência, raiva, desafio. Já em “Fucking Liar”, a banda investe num ritmo ainda mais frenético, enquanto “Holiday in the Sun” traz um contraponto irônico, quase sarcástico, às noções de lazer e normalidade.
Algumas músicas, como “There Is No Point”, revelam um momento mais introspectivo dentro do caos: a fúria continua, mas é acompanhada por uma certa desilusão, aquela sensação de que gritar pode não bastar. Em “Never Sell Out”, o The Exploited reafirma seus princípios — comercialismo? jamais. “Noize Annoys” é um brado sonoro contra a complacência, com guitarras furiosas e bateria impiedosa.
Um dos momentos mais pessoais aparece em “I Never Changed”: Wattie Buchan (vocal) entrega versos que soam como confissão e autoafirmação. Já “Chaos Is My Life” não deixa margem para dúvidas sobre de onde vem essa energia — da desordem, da pulsão anárquica que sempre foi o coração do The Exploited. Para fechar, “Was It Me”, com seus quase cinco minutos, é uma das raras faixas mais longas do álbum, e funciona como uma espécie de reflexão final, uma pergunta desafiadora para si mesmo e para o mundo.
Quanto à banda, aqui a formação é especialmente significativa: Wattie Buchan na voz, acompanhado por Robbie “Steed” Davidson na guitarra, Mikie Jacobs no baixo e Willie Buchan na bateria. Esta combinação insere um frescor ao som tradicional da banda, sem abandonar a brutalidade característica.
Produzido por Russ Russell e Simon Efemey, o álbum consegue elevar a agressividade a outro patamar, mantendo a clareza nas guitarras e garantindo que a força das letras não se perca em meio ao barulho. O resultado é um registro honesto, fiel à identidade do grupo, mas sem se tornar repetitivo ou datado.
Em termos de impacto, “Fuck the System” é clássico na veia do punk de protesto. Não é apenas um disco para ouvir — é um convite para questionar, para se posicionar, para não aceitar o mundo como ele está. E a reedição via Nuclear Blast / Shinigami Records reforça que esse discurso segue vivo e atual.
Se você é daqueles que ainda acredita na urgência do punk, que acha que desafiar é um dever permanente, esse disco é uma parada obrigatória. É que nem o bom jornalismo: irrita, provoca, incomoda — e, no fim, faz pensar.
NOTA: 7
