Resenha: The Night Flight Orchestra – “Give Us the Moon” (2025)

Em uma longa trajetória musical, até mesmo as bandas mais consistentes apresentam momentos em que a inspiração dá uma leve oscilada. Não é um problema — desde que o nível continue alto. No caso do The Night Flight Orchestra, conhecido por seu padrão elevado de criatividade e produção, essa pequena queda veio com “Give Us the Moon”, lançado pela Napalm Records e distribuído pela Shinigami Records. Ainda assim, estamos falando de um trabalho excelente, só que um pouco abaixo dos clássicos já entregues pela banda.

A identidade sonora permanece intacta: aquele irresistível AOR/Hard Rock com alma dos anos 70, temperado com pitadas generosas de pop rock, rock progressivo, disco music e soul. As melodias seguem envolventes, os refrões grudentos continuam ali, e a produção — mais uma vez a cargo de Sebastian Forslund (mixagem), Thomas “Plec” Johansson (gravação e masterização) e Mikko Viitala (gravação) — mantém o equilíbrio entre o som orgânico e o moderno, fiel à proposta retrô mas com acabamento limpo e definido.

Visualmente, a capa assinada por Giorgia Carteri também segue a estética estabelecida desde “Aeromantic”, reforçando essa sensação de continuidade e identidade visual.

Mas vamos ao ponto central: apesar de todas essas qualidades, “Give Us the Moon” não entrega o mesmo nível de impacto de discos como “Internal Affairs”, “Amber Galactic” ou “Sometimes the World Ain’t Enough”. As faixas são muito boas, mas falta aquele brilho a mais que costumava transformar cada música em um evento à parte.

Após a introdução breve com “Final Call”, a viagem sonora começa de fato com “Stratus”, puro AOR setentista, com camadas envolventes de teclados e um refrão cativante. Em seguida, temos “Shooting Velvet”, acessível e com coros muito bem trabalhados, e “Like the Beating of a Heart”, uma música mais suave, fortemente influenciada pela soul music, com destaque para o groove da bateria e do baixo.

“Melbourne, May I?” traz uma dose a mais de energia, onde as guitarras ganham mais espaço sem perder o bom gosto melódico típico da banda. Faixas como “Miraculous” e “Paloma” se aproximam bastante da sonoridade de bandas como Journey e Toto, com vocais especialmente belos. Já “Cosmic Tide” chama atenção pelo peso e precisão rítmica, evocando a força da bateria de Ian Paice nos anos de ouro do Deep Purple.

O título do álbum, “Give Us the Moon”, é também o nome de uma faixa marcada por referências claras à disco music, assim como “A Paris Point of View”, ambas oferecendo aquele clima dançante que o The Night Flight Orchestra sabe entregar tão bem. E então vem a sequência final com “Runaways”, “Way to Spend the Night” — com todos os músicos trabalhando como uma unidade impecável — e “Stewardess, Empress, Hot Mess (and the Captain of Pain)”, encerrando com estilo, ainda que sem aquele brilho especial dos discos anteriores.

No fim das contas, “Give Us the Moon” é um ótimo álbum. Vai agradar os fãs e merece estar na coleção de qualquer admirador da banda (sim, vou garantir o meu também). Mas, conhecendo o potencial do The Night Flight Orchestra, sabemos que eles podem ir ainda mais longe — e provavelmente irão.

NOTA: 7 

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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