Resenha: Vader – “Black to the Blind” (relançamento)

Em 1997, o Vader cravou mais um capítulo feroz em sua trajetória com o lançamento de “Black to the Blind”, terceiro disco de estúdio da banda polonesa de death metal. Dois anos após o poderoso “De Profundis”, o grupo retorna ainda mais afiado, com mudanças na formação, mas mantendo o núcleo criativo intacto: o vocalista e guitarrista Piotr Wiwczarek e o baterista Krzysztof Raczkowski, este último entregando uma performance que beira o sobre-humano. O álbum chega agora ao mercado brasileiro pela parceria entre a Nuclear Blast e a Shinigami Records, trazendo nova vida a um clássico que ajudou a consolidar a reputação da banda nos anos 90.

“Black to the Blind” é um soco direto no estômago: são pouco mais de 28 minutos de um death metal brutal, direto e eficiente. A sonoridade se mantém fiel às raízes do estilo norte-americano, com claras influências de Morbid Angel e Deicide, tanto na construção dos riffs quanto na abordagem vocal de Wiwczarek, que oscila entre a brutalidade de David Vincent e a ferocidade de Glen Benton.

Apesar da agressividade constante, o disco surpreende pela dinâmica. As faixas variam entre andamentos velozes e seções mais cadenciadas, com destaque para a execução técnica de Raczkowski, cujo trabalho na bateria imprime não só velocidade, mas um groove orgânico e preciso. Músicas como “Distant Dream”, “Foetus God” e a destruidora “Black to the Blind” demonstram como o grupo domina os contrastes entre fúria e controle.

Há ainda espaço para solos de guitarra estridentes e bem encaixados, que surgem como rajadas entre as bases ríspidas. O instrumental de “Fractal Light” é um bom exemplo da capacidade do Vader de equilibrar caos e técnica sem sacrificar a coesão. Já “Carnal”, ainda que fortíssima, traz um breve trecho vocal que remete à agressividade do Robb Flynn, do Machine Head, destoando um pouco do restante — talvez o único momento em que a fórmula se aproxima de um certo exagero.

A produção é crua e poderosa, reforçando a urgência do álbum. Nada soa artificial ou plastificado; tudo respira suor, fúria e peso. “Black to the Blind” não é apenas um dos pontos altos da discografia do Vader, mas também uma joia do death metal europeu dos anos 90, feito com competência, paixão e brutalidade na medida certa.

Para quem aprecia a escola clássica do death metal — e especialmente os trabalhos mais intensos de bandas como Sepultura em sua fase inicial — este disco segue sendo um petardo indispensável. Uma prova de que a Polônia sabe rugir tão alto quanto qualquer outro berço do metal extremo.

NOTA: 7

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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