S.O.D.: 38 anos de “Speak English or Die”, o projeto despretensioso que virou referência do Crossover

Há 38 anos, em 30 de agosto de 1985, o Stormtroopers of Death, ou simplesmente S.O.D., lançava seu disco de estreia, “Speak English or Die“. O título é uma frase tipicamente xenófoba utilizado por alguns estadunidenses que rejeitam os imigrantes, mas era somente uma curtição por parte dos seus integrantes, ninguém menos que Scott Ian, Charlie Benante, Dan Lilker e Billy Milano.

Scott Ian sempre se referiu às letras do aniversariante do dia como sendo “ridículas” e que elas não passavam de piadas internas. Claro que nem todos compreenderam o humor ácido dos caras e hoje certamente eles seriam cancelados pela patrulha do politicamente correto. Certa vez, o guitarrista falou sobre quem os taxou de racistas. Aspas para ele.

“Algumas pessoas pensaram que éramos racistas, e essas pessoas são estúpidas.”

Dan Lilker também falou que as letras eram “somente para irritar pessoas”. Elas continuam temas como homossexualidade, mulheres e culturas de outros países. Ou seja, era um projeto completamente despretensioso, que nasceu logo depois que o Anthrax lançou o álbum “Speeading the Disease“, quando Scott Ian desenhou um personagem e deu a ele o nome de Sargent D. Então ele passou a escrever letras inspiradas neste personagem e recrutou os demais músicos para formar uma banda de Hardcore.

Uma vez com a banda formada, eles gravaram uma demo com 63 músicas e fecharam um acordo com a Megaforce Records para gravar e lançar o aniversariante do dia, que foi gravado em três dias e teve a produção de Scott Ian e Alex Perialas. O grande mérito de “Speak English or Die” é o de ter sido um dos primeiros a misturar dois estilos: o Hardcore e o Thrash Metal, formando o que conhecemos hoje como Crossover Thrash.

A música “Milk” traz consigo elementos do que veio a se tornar o blastbeat, que muitos consideram invenção de Charlie Benante. Em uma declaração bastante modesta, o batera recusou este título:

“Se você quer dizer que decidi sentar no meu quarto e inventá-lo, não, não foi assim. A coisa era algo que já existia na cena hardcore de Nova York . há muito tempo, mas não tinha sido usado para outras coisas. A primeira vez que isso realmente aconteceu foi na música ‘Milk’ do SO D, então acho que você poderia dizer que tive muito a ver com isso. Agora muitas bandas estão usando isso e fazendo isso muito bem.”

Das 63 músicas gravadas na demo, o quarteto reaproveitou 21. Algumas delas nem chegam a ser músicas, são apenas vinhetas que duram alguns poucos segundos. Algumas músicas se destacaram, como “March of S.O.D.“, “Milano Mosh”, “Chromatic Death” e “Sargent D and the S.O.D.” foram veiculadas no programa Headbanger’s Ball, da MTV dos Estados Unidos. Já a faixa “Kill Yourself“, ganhou uma versão do Lamb of God, quando eles gravaram o álbum de covers “Legion XX“, sob o nome Burn the Priest.

O álbum exerce uma influência muito grande, tanto entre os fãs quanto entre os artistas. Al Jourgensen, líder do Ministry, disse que “Speak English or Die” o inspirou a colocar elementos de Thrash Metal na guitarra de sua banda. Já Eddie Vedder parou Scott Ian por 25 minutos em uma festa para lhe dizer que o play é um de seus favoritos e de como sua vida mudou depois que ouviu o álbum pela primeira vez. O álbum vendeu mais de um milhão de cópias em todo o mundo.

Se na época, poucas pessoas deram importância ao conteúdo lírico, as gerações posteriores começaram a prestar atenção nas letras. Em 2014, Dan Lilker falou se ele se sentia arrependido sobre ter passado dos limites na hora de compôr o álbum:

“Provavelmente teria foi um momento mais difícil só porque as pessoas parecem estar mais tensas agora. No entanto, era o que era, o que significa que é o que é, mas naquela época. E não me arrependo. Talvez pequenos aspectos tenham exagerado com certas letras coisas, mas, novamente, nós realmente não queríamos dizer isso. Talvez se as pessoas perceberem isso, então será mais engraçado.”

A banda saiu em turnê abrindo shows para o Motörhead e o The Plasmatics. Após a turnê, Scott Ian e Charlie Benante voltaram ao Anthrax, Dan Lilker voltou ao Nuclear Assault e Billy Milano formou o MOD, cujo primeiro álbum tem muitas letras escritas por Scott Ian. Após algumas reuniões esporádicas, o lançamento do segundo álbum “Bigger Than the Devil“, eles se separaram e não têm intenção de voltar. Scott Ian havia dito que o projeto era apenas uma brincadeira e que não fazia sentido aquilo virar um trabalho. Em 2018, Dan Lilker se reuniu com João Gordo, Guilhermina Martin e Cleber Orsioli e se apresentaram sob o nome de Not S.O.D., tocando o aniversariante do dia em show de abertura para o D.R.I., em São Paulo.

Apesar de as letras parecerem ofensivas, ainda que eles tenham deixado claro que era apenas uma brincadeira (N. do R: de gosto bastante duvidoso, é bem verdade), o fato é que o álbum não pode, nem deve passar em branco. Por isso ele é merecedor da homenagem do dia.

 

Speak English or Die – S.O.D.

Data de lançamento – 30/08/1985

Gravadora – Megaforce

 

Faixas:

01 – March of the S.O.D.

02 – Sargent “D” and the S.O.D.

03 – Kill Yourself

04 – Milano Mosh

05 – Speak English or Die

06 –  United Forces

07 – Chromatic Death

08 – Pi Alpha Nu

09 – Anti-Procrastination Song

10 – What’s That Noise

11 – Freddy Krueger

12 – Milk

13 – Pre-Menstrual Princess Blues

14 – Pussy Whipped

15 – Fist Banging Mania

16 – No Turning Back

17 – Fuck the Middle East

18 – Douche Crew

19 – Hey Gordy!

20 – The Ballad of Jimi Hendrix

21 – Diamonds and Rust (Extended Version)

Formação:

Billy Milano – vocal

Scott Ian – guitarra

Dan Lilker – baixo

Charlie Benante – bateria

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

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