Sanctuary: 34 anos de “Into the Mirror Black”

Há 34 anos, em 27 de fevereiro de 1990, o Sanctuary lançava “Into the Mirror Black“, o segundo álbum da banda que Warrel Dane e Jim Sheppard tinham antes de fundaram o Nevermore. Esse álbum, que fecha o primeiro ciclo da banda, é assunto do nosso bate-papo por aqui.

A banda que foi o embrião do Nevermore havia terminado a turnê de seu bem sucedido álbum de estreia, “Refuge Denied”, lançado em 1988. A turnê foi como banda de abertura do Megadeth e o álbum contava com a produção de ninguém menos que Dave Mustaine. Com os bons frutos colhidos com o bem sucedido debut, era hora de se superar. Todos esperavam por isso.

Bem antes de ser conhecida pela cidade do movimento Grunge, Seattle já era um polo do Heavy Metal: bandas como Queensryche e Metal Church eram os expoentes da cidade, eis que o Sanctuary veio para reforçar o status da cidade. Pelo menos até o início da década de 1990.

Colaborou para o êxito o fato de a banda estar sob contrato com uma major, a Epic Records e a parceria seria repetida aqui. Para tanto, o quarteto se reuniu no Sound City Studios, em Van Nuys, California no ano de 1989. A produção assinada por Howard Benson. Vamos passear pelas nove faixas que compõem este “Into the Mirror Black”.

Duas músicas que já nasceram clássicas abrem de maneira irretocável: “Future Tense” com uma pegada mais prog, já dava uma pista, ainda que inconsciente, do que seria o som do Nevermore futuramente e a brilhante “Taste Revenge”, com seu Power Metal empolgante. Warrel Dane no ápice de sua performance vocal, no que tange seus agudos. São minhas duas músicas preferidas de toda a carreira do Sanctuary.

Long Since Dark” viaja entre o Prog e o Power, em uma bela canção, enquanto que “Epitaph”, com seus seis minutos, começa como se fosse uma balada, mas a medida que ela se desenvolve, ela fica densa e com um ótimo clima. “Eden Lies Obscured” tem ótimos riffs e é bem pesada. A voz de Warrel casou muito bem aqui.

The Mirror Black”, a faixa título, abre a segunda parte do play e ela viaja novamente pelo Prog Metal os riffs são muito bons, os caras impuseram um peso fenomenal, ajudados pelo baixo de Jim Sheppard, que foi brilhante em diversos pontos do álbum, mas aqui foi sua melhor performance. “Seasons of Destruction” traz mais riffs matadores em uma música que mescla partes bem Heavy com outras mais sombrias.

One More Murder” tem muito punch nas guitarras, ótimos riffs e no refrão as coisas descambam para um Power Metal de muito respeito, que podemos classificá-la no Top 3, juntamente com as duas faixas que abrem o aniversariante do dia. “Communion” é a faixa derradeira e se caracteriza por ser uma música bem densa, com menos vigor que as demais, mas isso não significa menos feeling, pelo contrário, é uma excelente composição e fecha muito bem a bolacha.

São 46 minutos muito bem proveitosos, onde podemos ver que se trata de uma banda que tinha muito potencial à época. Como estavam em uma gravadora major, esta quis impor a mudança de sonoridade da banda, afim de que ela soasse como as bandas grunge que surgiriam pouco tempo depois, na mesma Seattle, condição que Warrel Dane, Jim Sheppard e Jeff Loomis, que entrou na banda pouco tempo depois do lançamento deste play, se opuseram, enquanto que os outros integrantes concordava com a proposta da Epic e eram favoráveis a mudança, resultando no final da banda da pior maneira possível: na mão. Isso mesmo, caro leitor, a banda se separou porque os caras chegaram as vias de fato.

Com isso, Dane, Sheppard e Loomis recrutaram o baterista Mark Arrington e depois Van Williams, formando assim o Nevermore e o resto da história todos nós já sabemos. O Sanctuary entrou em um hiato de 18 anos, quando os integrantes apararam as arestas e se reuniram em 2010 e estão na ativa até os dias atuais, porém, da formação original somente o guitarrista Lenny Rutledge e o baterista Dave Budbill permanecem no lineup.

Uma outra curiosidade é que o Sanctuary gravou um show ao vivo na turnê do “Into the Mirror Black“, no dia 12 de maio de 1990, na Califórnia. Esse show virou um EP chamado “Into the Mirror Live” e contou com apenas 6 faixas. É item raríssimo, pois metade dessas cópias foram distribuídas para rádios e lojas e quem tem não vende por dinheiro nenhum. A Epic fez o que pôde para embarreirar o lançamento, inclusive destruindo mais de 500 cópias. Warrel Dane afirmou diversas vezes que possuía as fitas master e os direitos para lançar o show. De fato, o show acabou sendo lançado como bônus do relançamento especial dos 30 anos de “Into the Mirror Black”, no ano passado. Infelizmente, Warrel não estava mais entre nós para testemunhar o relançamento.

20% dos royalties referentes às vendas não só de “Into the Mirror Black”, como também de “Refuge Denied”, o álbum de estréia, são doados para instituições que ajudam a prevenir o abuso infantil nos Estados Unidos. Um golaço de placa marcado pelos integrantes da banda. Não sei afirmar ao certo quem tomou essa atitude, mas não me surpreenderia nem um pouco se o autor fosse o brilhante Warrel Dane, sempre preocupado com as questões sociais do mundo.

Assim temos uma obra prima de uma banda que se separou prematuramente. No caso deste redator que vos escreve, foi um grande acontecimento, dado que assim acabou se formando a sua banda favorita. Tempos depois eu me interessei pelo Sanctuary e descobri esse play, o qual me apaixonei e hoje me considero honrado em ter espaço em um grande site como a CONFERE ROCK para poder não só compartilhar com o leitor essa experiência, mas também a minha relação pessoal com ele.

A banda segue na ativa, infelizmente sem a voz de Warrel. Hoje é dia de celebrar esse disco maravilhoso, que mostra que Seattle, antes de ficar conhecida como a cidade do Grunge, já era um belo celeiro de bandas de Heavy Metal. Como eu sempre costumo dizer aqui: eu ouço gente morta. Com muito orgulho.

Into the Mirror Black – Sanctuary

Data de lançamento – 27/02/1990

Gravadora – Epic Records

Faixas:

01 – Future Tense

02 – Taste Revenge

03 – Long Since Dark

04 – Epitaph

05 – Eden Lies Obscured

06 – The Mirror Black

07 – Seasons of Destruction

08 – One More Murder

09 – Communion

Formação:

Warrel Dane – vocal

Jim Sheppard – baixo

Lenny Rutledge – guitarra

Sean Blosl – guitarra

Dave Budbill – bateria

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

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