Saxon dá aula de heavy metal em SP com direito a convidados especiais

Fotos por: André Tedim

Como legítimos representantes do clássico movimento do final dos anos 70 conhecido como New Wave of British Heavy Metal, é impressionante que os ingleses do Saxon ainda tenham energia de sobra para fazer turnês globais de divulgação de novos trabalhos – a passagem pela América Latina para promover “Carpe Diem“, lançado no ano passado, começou justamente pelo Brasil, com apresentações em 4 cidades – Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, e segue para mais 4 países.

São Paulo foi beneficiada com o show ocorrendo em pleno feriado de 15 de novembro, garantindo assim um quórum excepcional na Tokyo Marine Hall, para uma quarta-feira na capital do trânsito, num dia com fortes chuvas pela cidade. Como banda de suporte, Saxon trouxe a norte-americana Madzilla, que se auto-classifica como pertencente ao gênero Thrash-Metal melódico. Com pouco tempo de atividade – fundada em 2018, e que portanto, teve muitas de suas atividades interrompidas devido à pandemia – o show de aproximadamente 40 minutos apresentou todos os singles que o grupo tem disponíveis nas plataformas digitais e, embora não empolgasse tanto a plateia e tenha sofrido uma falha técnica ao final, teve uma respeitosa receptividade, em grande parte devida ao vocalista e guitarrista David Cabezas ter se esforçado para falar português.

Após os motores do público serem devidamente aquecidos, a expectativa pela chegada dos ingleses era grande – e com um pequeno atraso de pouco mais de 15 minutos, finalmente às 20:48 as luzes se apagam e os músicos começam a tomar seus postos no palco. Importante ressaltar que o guitarrista Brian Tatler, do Diamond Head, está assumindo o lugar do membro fundador Paul Quinn, que se afastou da vida na estrada no começo desse ano.

A faixa-título do novo álbum abre o setlist, para deixar claro a quê vieram, e os fãs mostram que fizeram a lição de casa gritando Carpe Diem! no refrão. Mas logo na sequência, o playback com roncos de motores de moto e os efeitos produzidos pela guitarra de Doug Scarrat anunciam o hit que rendeu ao grupo um patch vitalício nos coletes de muitos motociclistas mundo afora: “Motorcycle Man“, clássico do álbum “Wheels of Steel“, de 1980, que faz todo mundo bater cabeça e imitar o riff fazendo air-guitar.

Mais uma faixa do álbum novo, “Age of Steam“, é iniciada, e o carismático vocalista dos cabelos lisos já prateados, Biff Byford, incita a plateia a bater palmas e acompanhar o ritmo da canção. Feliz com a interação dos fãs, antes de ir para o próximo som, ele solicita: Let me hear your power! e todos urram o mais alto que podem para que venha “Power and the Glory“, do álbum de mesmo nome, de 1983, com o baixo de “Nibs Carter” moendo a todo momento. Ao final da música, Biff começa a “confiscar” os coletes de alguns fãs na primeira fila – ele os analisa cuidadosamente para ver quais são os patches, elogia e escolhe um para vestir por cima de seu casaco militar vintage cheio de abotoaduras; como ele aguentou o calor durante todo o show permanece um mistério – e também entrega um para o franzino Brian, brincando – “oh, esse é muito pequeno para mim, use você – é daquela moça simpática ali”. Em sequência, Doug puxa o riff de “Dambusters”, mais uma das novas.

Brincando sobre o fato de ser feriado e que, portanto, o público não poderia estar cansado, mandam dois clássicos de “1980 – Dallas 1 PM” e “Heavy Metal Thunder”, na qual Biff exibe toda sua potência vocal e bate cabeça vigorosamente junto a seus companheiros de estrada, o que é muito gratificante de se ver, tendo em vista que o cantor passou por uma cirurgia cardíaca em 2020, deixando os fãs bastante preocupados. Sempre lembrando que o Saxon não vive só de passado, muito pelo contrário, ele comenta que ainda esse mês será lançado um novo vídeo nos canais da banda, do vindouro álbum de tributos, previsto para março, e então mandam um som de 2013, “Sacrifice”. Chegando à metade do primeiro set, o frontman pergunta aos fãs o que querem ouvir agora, e vários sons são requisitados, mas certamente é hora de outro hino: “Crusader”, cantado em uníssono pela plateia, o que arrancou sorrisos de Brian, visivelmente feliz por poder proporcionar esse momento icônico para os fãs.

Na sequência, somos surpreendidos com um convidado não anunciado previamente, mas que, devido ao momento de sua carreira, é facilmente encontrado no Brasil: o italiano Fabio Lione (ANGRA, ex-RHAPSODY, entre outras) sobe ao palco para anunciar (em seu já quase perfeito português) “Ride like the Wind“, dividindo os vocais com Biff. Durante a música, todos fazem “olas” puxadas por Fabio, que sabe muito bem como interagir com a plateia brasileira. Sem dúvida, a incrível e inesperada performance em dueto ficou registrada na memória dos presentes. Revisitando os anos 90, temos duas faixas mais cadenciadas, “Dogs of War” e “Solid Ball of Rock“, e então, com Biff puxando um coro de vocalizações da plateia, mais alguns clássicos são intercalados no set – “And the Bands Played On“, e “Never Surrender“, com destaque para a bateria incansável de Nigel Glockler. Finalmente o calor parece ter ficado insuportável a ponto de Biff comentar sobre e perguntar se todos estavam bem e prontos para mais uma canção inexorável da carreira: “Wheels of Steel“. Para o encerramento dessa parte, o vocalista fez questão de filmar a plateia com seu próprio celular, pedindo para todos pularem, baterem palmas e cantarem a plenos pulmões, mostrando ao mundo como é a energia de São Paulo.

Uma breve saída do palco para se hidratar foi o suficiente para o público gritar “Ole ole ola” e clamar pela volta dos músicos, já que ainda tinha muito combustível pra queimar. E, prontamente, eles retornam com “The Pilgrimage“, também de “Carpe Diem“. Antes de introduzir a próxima, Biff brinca que muitos ali eram crianças ou sequer haviam nascido em 1980 – o que demonstra que a banda atravessou gerações -, mas que eles já estavam trilhando seu caminho na música, e assim, vem um som de destaque na carreira do grupo: 747 (Strangers in the Night). Durante essa música, o público é novamente surpreendido com a presença de mais um vocalista de destaque na cena do heavy metal – ainda que pareça ter sido arrastado meio sem querer para o palco por Biff e que a plateia tenha tido que se esforçar para reconhecê-lo, cabisbaixo e de boné -, o americano Tim Ripper Owens (KK’s PRIEST, ex-JUDAS PRIEST, entre outras), que também se encontrava no país após ter realizado diversas apresentações com seus parceiros de banda brasileiros. Tim cantou brevemente no refrão e logo se recolheu ao backstage, já que essa noite estava de folga e queria apenas assistir aos veteranos. Ao término, mais uma breve saída da banda, e agora sim estávamos chegando à reta final.

Entre tantos clássicos, é difícil eleger um como favorito, mas a letra de “Denim and Leather” (jeans e couro) representa bem o sentimento de pertencimento e união que o heavy metal traz – e após todos cantarem juntos, Biff finalmente devolve os coletes a seus respectivos donos, não sem antes pedir que na próxima vez tragam mais coletes, pois ele adora analisar as customizações. E, claro, outra que não poderia faltar – “Princess of the Night“, poderosa canção que apesar das aparências, não fala sobre uma bela musa, e sim, sobre uma linha expressa de trem noturno que fazia o trajeto Londres-Edimburgo, a ‘Princess Elizabeth‘, marcante na infância de Biff.

Se aqui, o público paulista já poderia se dar por muito satisfeito em relação ao show da noite anterior em Curitiba, imagina a felicidade quando a banda encarou o desafio proposto – os fãs clamavam por “one more song!”. E após entregarem diversas palhetas e cumprimentarem fãs, não hesitaram em trazer ainda mais um clássico: “Strong Arm of the Law” foi o derradeiro encerramento, após o qual, um fã extasiado subiu ao palco para abraçar seus ídolos. Biff, apesar de surpreso, realizou o sonho do rapaz, já os outros músicos, como bons ingleses, preferiram acenar à distância enquanto se encaminhavam para o backstage e o descanso merecido após entregarem tudo e mais um pouco nessas quase duas horas de aula de heavy metal. Mal podemos esperar pelas próximas.

Agradecimentos a TopLink e ao sempre atencioso e ao sempre pronto para ajudar Clóvis Roman.

 

One thought on “Saxon dá aula de heavy metal em SP com direito a convidados especiais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *