Sepultura: há 25 anos, Derrick Green estreava com “Against”

Os anos de 1997 e 1998 foram sem sombra de dúvidas, os mais difíceis do Sepultura. A banda perdeu seu vocalista, Max Cavalera, que saiu em solidariedade à esposa, Gloria, que havia sido demitida e de uma hora para outra toda aquela bela história estava a meio passo das ruínas. Os caras conseguiram driblar isso e há 25 anos, em 6 de outubro de 1998 lançaram “Against“, o primeiro álbum sem o fundador da banda.

A banda, que por um momento chegou a tentar como trio, o que segundo Andreas Kisser, não ficou bom, porém foi um aprendizado e a banda teria acabado caso eles tivessem incluído um integrante novo ali no meio daquele turbilhão. A experiência de atuar como um trio não era novidade: em 1996, quando Dana Wells, enteado de Max foi assassinado e a banda estava na Inglaterra para tocar em Donington Park, Max e Gloria retornaram às pressas com a ajuda de Ozzy Osbourne, que gentilmente emprestou seu jatinho particular para que ambos pudessem voltar aos Estados Unidos. E a banda honrou o contrato e os fãs, se apresentando com Andreas no vocal, com a ajuda de muitos músicos que subiram para dar aquela força.

Porém, ao final daquele ano, ser um trio era uma coisa a vera e foi uma tentativa válida e honesta de a banda continuar. Choveram demos com candidatos ao posto deixado por Max, o mais famoso talvez seja Chuck Billy, vocalista do Testament, mas o escolhido foi um desconhecido Derrick Green, americano e negro, para desespero de alguns racistas. Derrick vinha de bandas de Hardcore e sofria resistência até mesmo da gravadora, a Roadrunner. Mas o trio bateu o pé e insistiu que ele deveria ser o cara, pois segundo a própria banda diz, Derrick foi quem mais agradou, quando enviou os vocais gravados em cima do instrumental que viria a ser a música “Choke“. O nome de Billy foi descartado porque na época, esse não era o estilo de vocal que eles procuravam. 20

A decisão de trazer Derrick, um sujeito que não tem muita intimidade com a guitarra, implicaria em Andreas Kisser assumir a bronca de fazer sozinho, o papel das duas guitarras, o que no estúdio não é tarefa difícil, basta dobrar as guitarras na hora da mixagem e qualquer produtor faz um disco parecer que dez guitarristas gravaram o play, se assim ele o quiser. O baixo também deveria ganhar mais responsabilidade, com um preguiçoso Paulo Xisto, mas em 2021 a gente vê que nada mudou neste quesito. Voltando a guitarra, para um guitarrista do poderio de Andreas, isso não foi difícil, bastou ele usar várias guitarras com diferentes afinacões, coisa que ele já vinha fazendo desde os tempos de “Chaos A D.“.

Se em “Roots” houve uma série de participações especiais, em “Against” as participações mais que dobraram, sendo as mais notáveis presenças de João Gordo, que fez uma brilhante performance na música “Reza“, Jason Newsted, então baixista do Metallica, participou cantando e tocando guitarra em “Hatred Aside“. o ex- guitarrista do próprio Sepultura, Jairo Guedz  Zé do Caixão, que participou narrando a letra de Prelúdio, uma das faixas bônus das edições brasileira e japonesa. A participação de Gordo rendeu uma ferida aberta até hoje: Max Cavalera não gostou da letra de “Reza“, a qual ele entendeu como uma indireta à sua religião e vinte e cinco anos depois, os dois não se falam mais. Triste isso, pois parecia ser uma amizade que nada iria abalar.

Against” não é um disco de fácil compreensão e muito disso é devido a diferença abismal que a banda colocou em sua sonoridade. Nada do Thrash Metal de “Arise“, pouco do Groove Metal de “Chaos A.D.” e do “Roots” restaram apenas alguns lampejos e batucadas, que nada lembram o antecessor. O aniversariante do dia é calcado no Hardcore, com muita coisa experimental, mas que tem seus bons momentos… Mas havia perdido a magia daquele Sepultura, mesmo tendo ainda um dos Cavaleras no lineup. Vários foram os estúdios utilizados para a gravação deste play: “ION”, em São Paulo; “House of Blues Studios”, na Califórnia; “The Hook Studios”, em Hollywood; “Sparky Dark Studios”, “Image Studios”, “Chophouse Studios”, “Golden Track Studios”, todos estes na Califórnia e também no “Kodo Village”, no Japão, de onde o grupo de percussão japonês Kodo gravou a sua participação. A produção foi de Howard Benson em conjunto com a própria banda.

Depois de 55 minutos e 17 intermináveis faixas, temos a sensação de que o esforço da banda foi válido, mas o resultado foi longe de ser alcançado. Se a intenção era se distanciar do que foi feito em “Roots“, eles conseguiram, mas isso não coloca “Against” nem de perto como sendo um dos melhores discos da era Derrick Green. Um fator relevante foi a Roadrunner ter continuado o contrato com a banda, ainda que “Nation“, o sucessor fosse o último play da banda pela gravadora. Mas o selo que abriu as portas do mundo para os brasileiros, deu um voto de confiança para a nova formação.

O álbum não é de todo ruim, temos bons momentos como na faixa título, que é rápida, “Choke” que tem um clima tribal bem interessante, “Boycott“, que mescla vocais rasgados e limpos do estreante Derrick Green, além da já citada “Reza“, brilhantemente cantada por João Gordo. Poucas músicas são lembradas nas apresentações da banda, “Choke” é a única que vez por outra surge no setlist.

Se comparado com “Roots“, o que chega a ser uma covardia, “Against” foi uma verdadeira decepção em termos de vendas: foram apenas 18 mil cópias adquiridas na primeira semana de vendas nos Estados Unidos. O único chart que o disco figurou foi na “Billboard 200”, onde chegou a 82ª posição. Em 2019, Derrick Green deu a seguinte declaração sobre o play:

“Eu me sinto muito orgulhoso e feliz com isso, porque afetou tantas pessoas que eu não percebia (naquela época). Na época em que estávamos fazendo os shows, as pessoas tinham acabado de entrar nas mudanças da banda, mas muitas pessoas têm ótimas histórias desde a primeira vez que ouviram este álbum. Então eu realmente sinto isso agora, quando tocamos essas músicas, o quão animadas as pessoas ficam, sabe? É ótimo ver essa evolução das pessoas tendo tempo para ‘ingerir’ todas as mudanças e tudo mais. É um álbum tão importante para manter a banda unida.”

Em 1999, o Sepultura desembarcou no Brasil para fazer alguns shows abrindo para o Metallica, que vinha mal das pernas após os lançamentos de “Load” e “Reload” (N.do R: o fã mais xiita irá gritar “o Black Album também” quando ler essas linhas) e reza a lenda de que após os brasileiros agitarem mais a platéia do que os cabeças do The Big 4, estes ordenaram aos técnicos de som que deixassem o som do Sepultura com qualidade inferior que o deles. Mas isso em nada adiantaria, a galera estava p… da vida com a banda de James Hetfield e Lars Ulrich, que há relatos de um headbanger que conseguiu acertar um coturno bem na cara do frontman da banda, que ficou pistola, com total razão, pois se o fã tá insatisfeito com o trabalho de um artista, a melhor forma de se protestar é não indo ao show e não fazendo esse tipo de papelão. Na época, ainda que a banda carregasse o fardo de ter perdido seu vocalista e fundador, não era difícil ser melhor que o Metallica em cima dos palcos, pois os grandes hits da banda ainda estavam bem fresquinhos.

Apesar de estar longe de figurar entre os preferidos pelos fãs, “Against” tem a sua importância, e permitiu a continuidade da maior banda de Heavy Metal da história do Brasil. Hoje completa ¼ de século. O Sepultura hoje tem uma formação bastante diferente e sem nenhum membro original. Mas seguem por aí fazendo barulho.

Against – Sepultura

Data de lançamento – 06/10/1998

Gravadora – Roadrunner

Faixas:

01 – Against

02 – Choke

03 – Rumors

04 – Old Earth

05 – Floaters in Mud

06 – Boycott

07 – Tribus

08 – Common Bounds

09 – F.O.E.

10 – Reza

11 – Unconsious

12- Kamaitachi

13 – Drowned Out 

14 – Hatred Aside

15 – T3rcemillenium

16 – Gene Machine/ Don’t Bother me

17 – Prenúncio

Formação:

Derrick Green – vocal/udu/ caixa (de bateria) Andreas Kisser – guitarra/

violão/ backing vocal/ djembe/ chocalho/

timbales/ bandolim/ cítara/ bongô

Igor Cavalera – bateria/ conga/ chocalho/ agogô/

percussão/ djembe/ timbales/ sinos/

Paulo Júnior – baixo/udu/ berimbau

Participações especiais:

Myotofumi Yamaguchi – percussão

Tomohiro Mitome – percussão

Tesuro Naito – percussão

Silvio Bibika – Djembe

Jason Newsted – guitarra/

vocal/ teremim/ percussão

Takahito Nishino – percussão

Hideyuki Saito – percussão

Gringo – backing vocal Judd Kalish – rototom

Zé do Caixão – vocal

Takesshi Arai – percussão Eiichi Saito – percussão

Zebrahead – backing vocal

João Gordo – vocal

Miles Tackett – violoncelo

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

One thought on “Sepultura: há 25 anos, Derrick Green estreava com “Against”

  • junho 11, 2024 em 8:42 pm
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    Foi uma época boa essa do Against, bons tempos!!!! Valeu!!!!

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