Sepultura: há 28 anos, banda chegava ao topo com o lançamento de “Roots”

Em 20 de fevereiro de 1996, o Sepultura lançava “Roots“, álbum que é amado por muitos e odiado por outros tantos e que hoje é tema do nosso bate-papo por aqui.

O Sepultura já trazia consigo, há alguns anos, algumas influências da música brasileira e que nada tem a ver com o Heavy Metal. Em “Arise“, lançado em 1991, podemos perceber um flerte bem tímido com a musicalidade brasileira na introdução de “Altered State“; dois anos depois, em “Chaos A.D.”, o flerte de transformou em namoro sério, principalmente na faixa acústica “Kaiowas“, em homenagem à tribo homônima. E em 1995, Max Cavalera teve a ideia insana de gravar com os índios Caiapós, mas foi logo desencorajado, dado ao fato de que esta tribo é muito pouco amistosa para com forasteiros. Então lhes foram sugeridos uma tribo mais amigável, os Xavantes.

Quando Max Cavalera expôs sua ideia inusitada de ideia inusitada de gravar Heavy Metal misturado com índios, ao CEO da Roadrunner, Monte Conner, o frontman do Sepultura ouviu do chefão uma frase que ele acabou usando como título do álbum ao vivo que ele lançaria, quase que na mesma época, por um de seus projetos paralelos, o Nailbomb: “Proud to Commit Commercial Suicide” (Produto para cometer um suicídio comercial, em livre tradução). Mas Max seguiu em frente e o tempo mostrou que ele estava certo.

Max tentou levar o percussionista Naná Vasconcelos para gravar o aniversariante do dia, mas eles chegaram até Carlinhos Brown. E com tudo definido, eles foram para o Indigo Ranch, em Malibu, para onde gravaram quase todas as faixas do play, à exceção da faixa “Itsári“, que foi gravada no Mato Grosso, junto à tribo Xavante, onde os membros do Sepultura passaram alguns dias gravando com eles. Há quase trinta anos, um belo exemplo de inclusão que a banda brasileira dava, ao não só homenagear os primeiros habitantes desta terra antes mesmo da exploração desumana praticada pelos portugueses, há quase 524 anos atrás. O headbanger conservador certamente vai querer cancelar o Sepultura depois de saber dessa. A produção é assinada por Ross Robinson.

Caro leitor, é impossível falar de “Roots” e não falar de aspectos políticos e sociais, então se você por acaso é do tipo que defende as elites, o inelegível do ex-presidente ou faz pouco caso da importância dos indígenas para a nossa história, faça nos um grande favor: pare agora de ler este artigo, você não vai entender jamais o contexto disso tudo aqui. Mas se ainda assim, você prosseguiu com a leitura, saiba que Max deu um belo exemplo de engajamento social em suas letras aqui em “Roots“. Os grandes exemplos estão em “Ambush“, que se preocupa com as queimadas na Amazônia e “Dictatoshit“, que trata da ditadura militar no Brasil que perseguiu, torturou e matou opositores. E de pensar que há uma grande parcela da sociedade que vota em fascista e defende que esse período tem que voltar. Um sujeito desses tem que levar uma surra com livros de história e se defende esse tipo de coisa e ainda se diz fã de Sepultura, precisa rever seus conceitos. E com urgência.

Na sonoridade, o Sepultura abaixou ainda mais a afinação de suas guitarras, deixando-as ainda mais pesadas, incorporou as batidas de Carlinhos Brown, e também o berimbau, instrumento musical tipicamente brasileiro. Há quem diga que Max se espelhou no primeiro álbum do Korn, lançado em 1994, mas a grande verdade foi que “Roots” influenciou toda uma geração e talvez seja o álbum que mais represente para o New Metal mesmo sem ser necessariamente um álbum de New Metal. Grandes clássicos foram criados aqui, como “Roots Bloody Roots“, “Attitude” e “Rattamahatta“, mas também temos uma veia punk em “Spit“, muito Groove e peso em faixas como “Attitude“, “Cut-Throat” e “Endangered Species” e a rápida e fantástica “Born Stubborn“. São mais de 66 minutos e a versão brasileira ainda conta com dois covers: “Procreation (Of the Wicked)” e “Symphton of the Universe”, de Celtic Frost e Black Sabbath, respectivamente.

O álbum é aclamado por muitos e talvez o fã mais famoso seja Dave Grohl, líder do Foo Fighters. Há um vídeo bem famoso em que ele fala com uma brasileira durante um talk-show na TV lá dos Estados Unidos e a pobre moça achando que ele vai dizer que gosta de músicas mais tradicionais de nosso país. Para surpresa de todos, ele diz que a banda do Brasil que ele mais gosta é o Sepultura e o álbum é o “Roots“. O álbum figurou em diversos charts mundo afora: 2° na Áustria e na Europa, 3° na Austrália e Bélgica, 4° no Reino Unido, 5° na Finlândia e Suécia, 6° nos Países Baixos, 7° na Alemanha, 8° na Nova Zelândia e Noruega, 13° na Escócia, 16° na Suíça, 18° na Espanha e 27° na “Billboard 200”. Foi certificado com Disco de Ouro na Austrália, Áustria, Canadá, França, Países Baixos, Reino Unido e Estados Unidos. Não é pouco.

Por muito pouco o Sepultura não se tornou o novo Metallica e “Roots” foi o álbum que elevou a banda a outro patamar. Mas os conflitos internos fizeram com que Max saísse, se sentindo traído pelos seus companheiros, quando estes optaram por não renovar o contrato com sua esposa e empresária da banda, Glória Cavalera. Vez por outra, os irmãos se reúnem e tocam o álbum na íntegra. O que restou daquele Sepultura está se preparando para a turnê de despedida. E o álbum, mesmo que provocando uma divisão entre aqueles que amam e os que odeiam, segue sendo um dos mais importantes do Heavy Metal mundial.

Hoje é dia de celebrar essa belezura de disco, botando ele para tocar no volume máximo. É para nos encher de orgulho saber que essa bolacha tem o selo de “Made in Brazil”. Apesar de subestimado por muitos, “Roots” é uma obra prima do Sepultura, pela mensagem, pelo som. E merece ser exaltado todos os dias.

Roots – Sepultura

Data de lançamento: 20/02/1996

Gravadora: Roadrunner

Faixas:

01 – Roots Bloody Roots

02 – Attitude

03 – Cut-Throat

04 – Rattamahatta

05 – Breed Appart

06 – Straighthate

07 – Spit

08 – Lookaway

09 – Dusted

10 – Born Stubborn

11 – Jasco

12 – Itsári

13 – Endangered Species

14 – Dictatorshit

15 – Procreation (Of the Wicked) (Bônus Track)

16 – Sympthon of the Universe (Bônus Track)

Formação:

Max Cavalrea – vocal/guitarra

Iggor Cavalera – bateria

Andreas Kisser – guitarra

Paulo Junior – baixo

Participações Especiais:

Carlinhos Brown – vocal/percussão/berimbau/

Johnatan Davis – vocal (Lookaway)

Mike Patton – vocal (Lookaway)

Dj Lethal – toca-discos (Lookaway)

Ross Robinson – percussão (Rattamahatta)

Tribo Xavantes – canto (Born Stubborn e Ítsari) e Percussão (Ítsari)

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

One thought on “Sepultura: há 28 anos, banda chegava ao topo com o lançamento de “Roots”

  • fevereiro 21, 2024 em 10:20 pm
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    Curto muito a banda. Meu pai me presenteou com um CD deste álbum. Tinha LP do Chaos A.D.
    Sepultura é muito bom. Muito boa banda. 🤘🏻

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