Sleep Token recua no peso e aposta em melancolia, drama em seu disco mais emocional da carreira

O Sleep Token é uma das maiores forças do metal moderno e isso é incontestável quer você goste da banda ou não. Ouso soar repetitivo todas as vezes que escrevo algo sobre o grupo e começo dessa mesma forma, porém, não há muitas formas de adjetivar o que é hoje o Sleep Token dentro da música pesada, junto com outros nomes como o Ghost e o Spiritbox.

Assim como esses outros dois, finalmente o ST vai lançar seu novo álbum este ano, “Even In Arcadia“, que desacelera no peso, em vista com os lançamentos anteriores, e aposta em drama, melancolia e resulta em seu disco, o quarto da discografia, mais emocional da carreira que o Sleep Token vem construindo.

Look To Windward” é quem abre o registro, e faz isso com alguns acordes eletrônicos de sintetizadores, remetendo a trilha de algum jogo do Zelda mais antigo. Vessel e sua voz hipnotizante trilham o caminho por ali, até que por volta dos três minutos, há uma pausa dramática e uma explosão monstruosa acontece com o vocalista gastando a sua voz rasgada e fazendo isso cheio de impacto, com um instrumental pesado e arrepiante. A música então volta para uma batida de um beat, mas continua cheia de força. A faixa é uma homenagem ao poema de T. S. Elliot, de 1922, The Waste Land.  Um início gigantesco. Na sequência, o single “Emergence” traz linhas de piano muito bem construídas, pautadas em uma melancolia adjacente, alinhada a voz de Vessel. A música se transforma em um trap na sequência, e coloca seu nome a prova. A faixa aposta em uma montanha russa, e finaliza com um solo lindo de saxofone. “Past Self” vem na sequência e é uma batida mais em loop e não apresenta muito além de suas repetições. “Dangerous” é uma balada com força, presença e vai em ritmo crescente, o que deixa o ouvinte ansioso pelo que vem pela frente e para onde a música vai avançar. O tom do beat obscuro é um charme a parte. Em sua reta final, a banda aparece, com um grande destaque a bateria de “II”, como é chamado o baterista. “Caramel”, também single já mostrado ao público, já está sendo considerada por alguns críticos como a melhor música que o Sleep Token já lançou em sua carreira. Aqui, Vessel canta toda as suas frustrações e raiva de somente querer cantar, sem se preocupar em se mostrar ao mundo com sua real identidade, o que até hoje foi mantida em segredo e nada passou de rumores. Na letra, o cantor fala sobre como o palco é sua prisão, com a plateia grita nomes que supostamente seriam o dele e como isso causa incômodo. Tudo isso alinhado a algo que vai crescendo, mais uma vez com grande destaque para “II”, que dá traços brilhantes ao andamento e todo o drama da letra é sentido no instrumental e força da música, que é realmente uma das melhores obras que a banda já nos presenteou. Ainda há tempo para um final brutalmente pesado e denso, imponente e que mostra a genialidade da banda em misturar tantos rítmos em uma única música. A faixa título vem em seguida, e ganha nas teclas suaves e linhas vocais profundas e climáticas. Aqui, o peso é o drama, mas diferente de outras que apostam em peso de guitarras de oito cordas, as coisas são mais profundas e pesam de outra forma. “Provider” é uma música que poderia estar tocando em qualquer rádio de qualquer lugar do mundo facilmente, se passando por uma faixa de Usher ou algum cantor mais pop. “Damocles” é de uma delicadeza indescritível com piano e voz fazendo as guias, e com Vessel se mostrando frágil ao expor em parte da letra “Eu sei que esses acordes são chatos“, em referência a talvez quem espere algum peso de guitarras ou algo mais moderno, mas indo na contramão, a banda opta por algo que poderia soar como um encontro do Deftones com o Queen. “Gethsemane” coloca Vessel se provando, com lugares de sua voz antes não usados, e cria melodias dobradas e ilustres, além da banda arriscar algo mais em uma linha prog/funky, mostrando que eles ainda tem cartas na manga para lançar novidades no decorrer de sua história. Encerrando o registro, “Infinite Baths” começa remetendo ao início do disco, com pianos, sons de sintetizadores, e claro, a voz profunda e melacólica da entidade Vessel. Aos poucos, a música vai ganhando mais apoio, modificando sua estrutura, até chegar em um final sufocante, agoniante, denso e carregado de peso, mais uma vez se assemelhando ao instrumental do Deftones. Um final arrebatador que só coroa o que foi ouvido até aqui, nada menos, do que surreal. De verdade, se esse não é o final mais sufocante de um disco do Sleep Token, não sei onde mais poderia estar essa classificação.

A música do Sleep Token de fato, e infelizmente, é para poucos em que se arriscam na quebra de paradigmas que o metal tem, e mesmo para seus fãs que possam estar esperando uma sequência direta de “Take Me Back to Eden” (leia resenha aqui), podem se frustrar e até mesmo terem um princípio de raiva com o que ouviram aqui. Mas se você consegue entender o que de fato é essa banda e o que ela tem a oferecer, você estará diante de uma obra gigantesca e de qualidade ímpar em um mundo tão caótico e poluído musicalmente como é o de hoje.

NOTA: 9

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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