Steve Hackett levou sua progressão ao Espaço Unimed em noite de luxo

No domingo, 20 de agosto de 2023, o Espaço Unimed, na capital paulista, recebeu a última das três apresentações do guitarrista inglês Steve Hackett em sua passagem pelo país como parte de uma mini-turnê pela América Latina para reproduzir na íntegra o show histórico do GENESIS da turnê de 1977: Seconds Out, que de tão bem-sucedida, rendeu um disco gravado em Paris; turnê essa que é uma memória afetiva muito preciosa para os brasileiros, pois naquela época em que poucos artistas estrangeiros tinham o costume de incluir em suas agendas datas na terra brasilis, os ingleses nos agraciaram com 14 shows em estádios lotados.

Acompanhado pela GENETICS, banda tributo argentina que há mais de 10 anos tem a missão de executar faixas do início da carreira do Genesis com a maior fidelidade possível, o guitarrista provou que apesar de não ser o músico mais conhecido de um dos maiores nomes do rock progressivo de todos os tempos, ainda consegue arrastar uma grande quantidade de fãs do estilo, com uma casa praticamente sold-out, mesmo após terem realizado um show gratuito no Rio de Janeiro.

Com um pouco mais de 15 minutos de atraso, o espetáculo se inicia com as três (e únicas) canções da carreira solo de Steve:Ace of Wands” – onde houve uma pequena falha técnica na amplificação – seguida de “Spectral Mornings” e “Shadow of the Hierophant” – somente a parte instrumental, devido a ausência de uma cantora, mas ainda assim suficientemente hipnotizante, com seus tappings de guitarra que contrastam com os lúdicos “sons de fada” emitidos pelo teclado: essa é, de fato, a magia do rock progressivo e o poder de ser teleportado para um mundo de fantasia através da imersão musical.

Steve esteve bastante comunicativo (inclusive falando em português) com a plateia, fazendo piadas sobre seu sotaque e fazendo questão de dizer que estava muito feliz de poder nos trazer esse espetáculo, e sem mais delongas, anuncia então o início do repertório de Seconds Out.

Talvez em decorrência do desgaste causado pelos três shows seguidos, assusta um pouco a performance vocal de Tomás Price já na primeira faixa, “Squonk”, que deixa a desejar nas notas mais altas, o que torna a se repetir em outras faixas originalmente cantadas por Phil Collins; porém, seu timbre lembra muito o de Peter Gabriel, e essa parece ser uma zona de conforto muito maior para Tomás. O músico não faz feio ao declamar as letras sem titubear e com bastante emoção, nem ao tocar flauta, como pôde ser visto em “Firth of Firth”, memento em que os fãs espontaneamente começaram a acompanhar o ritmo com palmas.

Um outro ponto altos do show sem dúvida foi “The Supper’s Ready”, que, como pontua Steve, é “uma das músicas mais longas já compostas”, e portanto, uma verdadeira viagem pela narrativa. Também impressiona a presença de duas baterias em palco, sendo bem comandadas por Daniel Rawsi e Jorge Araujo, como pode se observar em “The Cinema Show” e “Los Endos”, que conta ainda com uma performance de Horacio Pozzo e seus múltiplos teclados.

Após uma breve pausa para o famoso “tchauzinho fake” que precede o bis, a banda retorna para arrematar o espetáculo com mais três canções. Alguns poderiam pensar que, por Steve ser guitarrista, não daria muito espaço para o colega Leo Fernandéz brilhar, mas seria um tremendo engano, já que o músico se demonstra bastante humilde e simpático, e portanto houve sim diversos momentos em que o músico pôde solar, como em “Fly on a Windshield”. E mesmo com dois guitarristas solando, não tem como não reparar em Claudio Lafalce e seu chamativo doubleneck, que contempla o baixo e uma guitarra de 12 (!) cordas.

Que a velha guarda de fãs ficaria encantada com a apresentação, não haveria dúvidas, mas certamente a maior vantagem de podermos ter presenciado essa aula de rock progressivo diretamente de um de seus criadores, tantos anos após a sua concepção, e com a mesma qualidade (ou até maior), é a certeza de mantermos acesa a chama da boa música para as próximas gerações, pois os jovens que ali acompanhavam seus anfitriões, ou compareceram devido à sua influência, ficaram estupefatos com o que testemunharam ser possível de se realizar sem o uso de inteligência artificial ou quaisquer outras ferramentas contemporâneas – a banda se retirou ao som de estrondosos e demorados aplausos que só pararam quando as luzes de saída se acenderam.

Setlist:
Hackett solo:
Ace of Wands
Spectral Mornings
Shadow of the Hierophant (instrumental)

Genesis:
Squonk
The Carpet Crawlers
Robbery, Assault and Battery
Afterglow
Firth of Fifth
I Know What I Like (In Your Wardrobe)
The Musical Box (último trecho)
Supper’s Ready
The Cinema Show
Aisle of Plenty
Dance on a Volcano
Los Endos
The Lamb Lies Down on Broadway
Fly on a Windshield
Broadway Melody of 1974

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