Stryper, Narnia e Bride celebram o rock cristão no Rio

Texto: Carlos Monteiro
Fotos: Ian Dias

Um grande culto gospel aconteceu neste sábado (02/08) no Rio de Janeiro, com a apresentação de três grandes bandas do chamado “rock cristão”, encabeçadas pela potência do hard rock dos californianos do Stryper. Coube ao Bride, do Kentucky (EUA), abrir a celebração às 18h45, quando parte do público ainda estava na fila do lado de fora. Entre as duas bandas, tocaram os suecos do Narnia.

Uma situação comum nesse tipo de gênero é a variedade do público, assim como a diversidade de camisas exibidas. As estampas eram de bandas de todo estilo, desde Nestor a Black Sabbath, uma escolha interessante, mas não tanto quanto a do Rotting Christ, numa provável intenção de provocar o público cristão. Como contraponto, uma dupla exibia os dizeres “Not today, Satan”.

E o Bride já chegou com o pé na porta (da igreja), com sua junção de um potente hard rock e heavy metal clássico, com “Rattlesnake”, que fala da dualidade do ser humano, entre o bem e o mal, e da metáfora das cascavéis que caem pelo caminho. 

O hoje visual “vovô roqueiro” do vocalista Dale Thompson, o único original junto com o irmão guitarrista Troy Thompson, engana ao segurar bem ainda as notas altas. Eles são acompanhados pelos brasileiros Nenel Lucena (baixo) e Alexandre Aposan (bateria). Aposan, assim como o baterista do Narnia, Anders Köllerfors, precisou ficar na lateral esquerda do palco, pois a bateria do Stryper já estava posicionada ao centro. 

Isso não atrapalhou a dinâmica do show, que, por ter sido curto (45 minutos), foi bem rápido e intenso. Os destaques foram “Would You Die For Me”, “Million Miles” e, principalmente “Psychedelic Super Jesus” (cantada com bastante fervor pela plateia) e “Heroes”, fechando a setlist e que não era executada desde 1989 antes dessa turnê.

Mas o culto foi incrementado com a chegada do Narnia, cujo vocalista Christian Liljegren já chega agitando muito, levantando os braços e conclamando a plateia a participar do show. Seu carisma e empolgação são contagiantes e adequam-se bem ao som da banda, com forte influência do power metal. As letras também são bastante otimistas, trazendo o melhor da religião. 

Já a segunda canção, “No More Shadows From The Past”, é expresso que não há mais sombras no passado e o espírito está livre afinal. “MNFST”, conforme a sigla indica, trata-se de um manifesto religioso, o primeiro momento explicitamente de pregação no festival, assim como “Long Live The King”, quando Liljegren faz questão de bradar em português “Longa Vida ao Rei”, conquistando de vez a plateia. 

 

Entre as duas, houve “Ocean Wild”, que fará parte do próximo álbum do Narnia.  Chegando ao fim do show, o vocalista pede para todos fecharem os olhos e faz uma oração, falando que Jesus veio para salvar o mundo do pecado e morreu por nós. A sequência final foi com as também marcantes “I Still Believe” e “Living Water”. Além do guitarrista Carl Johan Grimmark, o baterista Andreas Johansson e o baixista Jonatan Samuelsson, chama a atenção o tecladista grandão Martin Härenstam, sempre vibrando ao som da música e até inclinando seu instrumento. 

Após cerca de uma hora de apresentação e um breve intervalo, chegou a vez dos donos da noite. Liderado pelos irmãos Michael (vocal, guitarra) e Robert Sweet (bateria), o Stryper é formado também desde 2017 pelo ex-baixista do Firehouse, Perry Richardson. A turnê pela América Latina não pôde contar com o guitarrista Oz Fox, que lida há anos com problemas de saúde. Para se encarregar das seis cordas, foi escalado novamente o versátil Howie Simon, do Alcatrazz e com participações com Nelson e Winger. 

Outra infeliz situação envolveu a turnê quando o pai de Michael e Robert faleceu nos Estados Unidos. Ele estava em cuidados paliativos e o vocalista anunciou em 29/7, quando já estavam no Brasil, que ele havia falecido e não havia o que fazer senão terminar as datas.

E realmente o show não pôde parar. O Rio de Janeiro foi a última data pelo Brasil e uma boa lembrança das duas últimas vindas em 2014 e 2019 no Circo Voador, ainda que em um lugar menor, o Sacadura 154, na Gamboa, onde havia espaço suficiente tanto na pista premium como na geral.

Mas quem esteve lá curtiu bastante a setlist, começando pelo manifesto “In God We Trust”, seguido de “Revelation” e a super “farofa” “Calling On You”, primeiro momento alto da noite, logo emendando em “Free”, outra que animou bastante a plateia. O pique não caiu com outra dobradinha de “All For One” e “Always There For You”. 

Com título originário de uma citação bíblica, “No Rest For The Wicked” tem a coincidência de ser também o nome de um álbum de 1988 do recém-falecido Ozzy Osbourne. Algo como “não há descanso para os ímpios”, é um provérbio que significa que os malfeitores enfrentarão punição eterna, popularmente estendido para significar que o trabalho de alguém nunca cessa, tema central da canção.

A partir daí tome-se clássicos como “No More Hell To Pay”, “Yahweh” (cantado a plenos pulmões pela plateia) e a sequência de “Surrender” e o hino “Soliders Under Command”. A frenética lista de canções tem uma breve pausa para o bis, e logo a banda volta e executa “Sing-Along Song” conclamando todos a cantarem como o próprio nome diz. Para finalizar, tinha que ser aquela que manda o capeta para o inferno, “To Hell With The Devil”, quando os integrantes de Bride e Narnia voltam ao pouco em uma grande celebração gospel.

Embora bem precedida por essas duas bandas, fica claro porque o Stryper fecha a noite pela sua potência e profissionalismo que se destacam. É evidente o entrosamento entre os dois irmãos, Perry e o substituto Howie nessa que foi realmente uma grande celebração cristã, mas que abriu espaço para fãs de todo tipo. Não houve espaço no show para intolerância e sim convivência harmoniosa, como toda religião (inclusive o cristianismo) deveria sempre proporcionar.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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