Suicidal Tendencies faz celebração psycho no Rio de Janeiro
Texto: Carlos Monteiro
Fotos: Carla Cristina
Que vocalista de banda de metal pode se dar ao luxo de subir ao palco com bermuda e camisa tipo dry fit como estivesse prestes a participar de uma corrida? Pois foi assim que Mike Muir iniciou a apresentação do Suicidal Tendencies na noite desta sexta-feira (12/7) no Sacadura 154, casa de shows no bairro da Saúde, no Rio de Janeiro, próxima à Pedra do Sal, reduto de uma famosa roda de samba.
Esse crossover cultural não foi nada perto do crossover de thrash, funk e hardcore que a banda entregou, como o faz há mais de 40 anos, com muita competência e para um público fiel, que preencheu boa parte da capacidade da casa de 2 mil pessoas.
A mistura sonora já começa tirando todo mundo do conforto com “You Cant Bring me Down”, um dos hits mais enérgicos da banda com sua mensagem de inconformismo sempre tão propagada pelo Suicidal Tendencies. A versão estendida do clássico é um arrasa-quarteirões que já fez começar a famosa roda na plateia, repetida em quase todas as canções.
Circulando pelo palco o tempo inteiro e simulando convulsões enquanto seus músicos solam, Mike Muir é um frontman improvável, mas sempre seguro no comando da banda. E a “tremedeira” é ainda maior quando é a vez da exibição do jovem Tye Trujillo, cujo pai famoso Robert Trujillo ocupou a mesma posição muitos anos atrás e hoje cuida das quatro cordas do Metallica. Prestes a completar 20 anos, Tye não para um segundo, correndo, subindo nas estruturas laterais, pulando, realmente se divertindo.
A banda é formada também por Jay Weinberg, ex-baterista do Slipknot, e a coincidência em relação ao músico, que entrou recentemente no Suicidal é que ele substituiu Greyson Nekrutman, atualmente participando da turnê de despedida do Sepultura. Greyson, por sua vez, entrou no lugar de Eloy Casagrande, este por sua vez agora no Slipknot, fechando o ciclo.
E de nada adiantou Jay entrar com um casaco moletom com capuz, antes do show começar, para ajeitar sua bateria, pois a plateia percebeu logo de quem se tratava e saudou-o. Só lhe restou sorrir. A lista de integrantes carismáticos do S.T. (a sigla do nome da banda, sempre cantada a plenos pulmões) tem ainda o guitarrista Dean Pleasants desde 1996, com sua inconfundível bandana.
Uma saraivada de hits preenche a setlist, como “War Inside my Head”, “Send me Your Money”, “I Saw Your Mommy”, “Subliminal” e “Cyco Vision”. A versão em português de “We are Family”, propriamente intitulada “Nós Somos Família” (mesmo nome da turnê), também foi executada com várias pessoas no palco, incluindo as integrantes da banda de abertura Eskrota, Tammy e Yasmin, em uma vibe semelhante a do incrível clipe, lançado recentemente, com a participação de uma série de artistas nacionais especialmente convidados.
O final é uma montanha-russa de emoções, com o início dedilhado de “How Will I Laugh Tomorrow” e sua correria seguinte, logo sucedido pelo petardo “Pledge Your Allegiance”, quando Mike Muir teve a ideia de chamar as moças do gargarejo para subir no palco. Ele só não contava (e nem os seguranças) com a insubordinação carioca que fez com que vários marmanjos se juntassem a eles, enchendo todos os centímetros do palco de “cycos” e praticamente escondendo os músicos. Não satisfeito, Mike ainda desceu na grade para tirar foto com boa parte dos sortudos que ali estavam.
Foi um final único e surpreendente para uma banda que segue enérgica e imparável, comprovando que ninguém consegue mesmo deixar para baixo o Suicidal Tendencies.
O show principal foi precedido pelos cariocas do Pavio, as paulistas da Eskrota (mais o baterista Jhon) e os brasilienses veteranos do D.F.C. Muito hardcore e thrash como os anfitriões (e a plateia, que reagiu positivamente a todos) bem gosta.
