Summer Breeze Brasil encerra segunda edição com público cansado mas fiel

Fotos: André Tedim

Chegamos ao terceiro dia do Summer Breeze Brasil, ou, o derradeiro dia da segunda edição.

Mais uma vez, os portões se abriram cedo e pela manhã, o Memorial da América Latina começava a de novo tomar seu formato com o mar de camisetas pretas, pessoas passeando pelos stands e alguns já a postos em frente ao palco para ver o show que mais ansiava durante a próxima hora que se viria.

Os trabalhos foram iniciados com o Eclipse, que já abriu o dia com um metal, com alguns elementos do moderno misturado ao seu som tradicional. E ao mesmo tempo, o Torture Squad descarrilhava o seu poderio com o thrash/death metal brutal que sempre entrega, e contando com a participação da cantora Leather Leone.

Ao meio dia, a surpresa da edição apareceu. O While She Sleeps, trouxe o seu metalcore ao palco e despertou a curiosidade com os ali presentes. O som apresenta todos os traços do estilo, carregado de afinações baixas, breakdowns, vocais hora gritados e outros mais limpos. O vocalista Lawrence Taylor é dono do palco, e não só dele, indo para a pista entrando no meio da galera e cantando a todo vapor, mesmo que debruçado sobre as pessoas.

Já com a tarde iniciada, era hora dos veteranos do Overkill mostrarem o seu som visceral. Com o disco “Scorched” lançado no ano passado, a faixa título foi responsável por incendiar o público, emendando a visceral trinca com “Bring Me the Night“, “Electric Rattlesnake“, que já causou um bom estrago na plateia com o sol já fervendo na cabeça, mas que nem por isso deixou de abrir rodas de mosh. O show passeou com classe por um solo de bateria de Jason Bittner, e posteriormente, outro solo, agora com a presença de David Ellefson, que ficou responsável pelo baixo na passagem da banda pela América Latina. O Overkill ainda “brincou” com “Run to the Hills” do Iron Maiden e “Peaces Sell” do Megadeth entre esses momentos.

Na sequência éramos bombardeados com os visuais Avatar e Battle Beast. O primeiro, parece ter ganhado uma boa leva de fãs no Brasil, com diversas pessoas usando a maquiagem e o figurino do vocalista Johannes Eckerström. A banda que está em turnê do seu último disco lançado, “Dance Devil Dance“, faz uma mistura de algo como Marilyn Manson encontrando o Rammstein, e não parece o tipo de banda que irá ganhar o público curioso e que não os siga há algum tempo. O show consegue render bons momentos com músicas mais pesadas, e os trejeitos de Johannes no palco se tornam no mínimo curiosos, porém, confesso ter sentido certa dificuldade em acompanhar o show todo por sentir falta de alguma carisma nas músicas, e o lado mais caricato do grupo parecer importar mais apresentando o seu “circo de horrores” do que de fato sua música.

Já o Battle Beast busca influência no metal melódico/sinfônico, tendo em algumas músicas os traços do Nightwish em sua primeira versão. O visual da vocalista Noora Louhimo é um atrativo a parte, e ela é dona de uma boa voz, porém, o show acaba não contagiando muito além dos fãs da banda, que entregou competência em sua passagem pelo festival.

João Gordo e o Ratos de Porão entregando seu visceral punk/hardcore é sempre algo agradável de se ver. Groovado, pesado, rápido e até mesmo grotesco, a execução da banda em palco é sem algo bom de se apreciar, com a fúria da entrega e um público que abriram rodas e mais rodas durante o show. Gordo não deixou de demonstrar o seu lado político, assim como havia feito em sua passagem pelo festival no ano passado, e emendou um “Bolsonaro na cadeia“, que fez com que alguns entortassem a cara e dissessem, “tava bom até aqui, pra que misturar política com música?” A banda passeou por clássicos como “Mad Society“, “Farsa Nacionalista“, “Crucificados Pelo Sistema“, “Igreja Universal“, e outros.

Hora dos papas do death metal chegar ao local. O Carcass subiu ao palco com o sol bem em suas caras, com direito ao vocalista Jeffrey Walker pedir para sua equipe derramar copos de água em sua cabeça para amenizar o calorão. Mas nem por isso a banda deixou de entregar uma verdadeira bordoada na uma hora que esteve em ação. “Buried Dreams“, “Incarnated Solvent Abuse, “Under the Scalpel Blade”, causaram estragos ainda no começo do show com a insanidade que a plateia as recebeu, com o local agora já lotado novamente. O riff inicial de “Black Star” é ensurdecedor, com seu groove destruidor. Em 13 faixas, o Carccass entregou o que para muitos foi um dos melhores shows da edição do festival, e com certeza, o seu retorno será em breve após verem o tamanho apreço que tem por aqui.

Era hora do metal moderno voltar ao palco e trazer uma verdadeira aula e a entrega de mais um dos melhores shows do dia e da edição. Pontualmente, o Killswitch Engage entrou no palco ovacionado e em meios a fotos e luz, entregou peso, melodias, hits e um baita show. Jesse Leach, o vocalista não se poupou de ir ao meio da galera cantar petardos como “My Curse“, que já abriu o show lá em cima, “This Fire“, que levou o seu nome a sério com labaredas subindo do fundo do palco e melódica “The Arms of Sorrow“. O guitarrista Adam Dutkiewicz, trajado de um visual que parecia pronto para gravar um vhs de ginástica nos anos 80, disse que “precisava muito de um circle pit para a próxima música”, que era nada menos do que “Rose Of Sharyn“, que entra sem aviso, com um peso descomunal e “The End of Heartache“, “My Last Serenade“, “Holy Diver” fecharam o set com um coro insano da plateia que certamente coroou o Killswitch Engage como um de seus queridinhos.

Caminhando para o final, o Anthrax vinha na sequência e o Memorial veio abaixo. Com direito a mosh com sinalizador na plateia, a banda desfilou seus riffs mortais, com a presença de Andreas Kisser do Sepultura em “I Am the Law“, e destilando as mortais “Caught in a Mosh“, “Madhouse”. Há algum tempo, a banda vem incorporando “Only” em seu setlist, uma das poucas da era John Bush a aparecer nos shows desde o retorno de Joey Belladonna, mas que infelizmente não deu o ar de sua graça no setlist do festival.

Já indo para o final, o Amorphis tocava do outro lado, no que pareceu um palco querendo economizar na conta de energia, já que a banda estava enfiada ali com pouca iluminação.

Com alguns minutos de atraso e com a missão de encerrarem o festival com as chaves da porta do inferno, a bandeira negra com o nome em branco, Merfycul Fate cai e revela um palco com duas entradas ao fundo, escadas e um bode em meio a um pentagrama. Era chegada a hora do culto satânico de King Diamond e seus enviado das profundezas da capirotagem mais pura.

Trajando um manto entre o vermelho escuro cor de sangue e uma máscara de bode, o rei chega com “The Oath” e “A Corpse Withou Soul“. O ritual continuou a mais recente lançada, “The Jackal of Salzburg“, que é ovacionada e clássicos como “Melissa” e “Black Funeral“. King trocou seu visual para a coroa e o manto em sua cabeça, mas foi curioso acompanhar algumas pessoas deixando o local por não se sentirem confortável com o que estava diante de seus olhos, o pesadelo macabro dos infernos.

(Fotos cedidas por Ian Dias em cobertura para o site Headbangers Brasil)

O Summer Breeze Brasil encerra sua segunda edição com cansaço, sol e aglomerações, mas com um saldo bastante positivo. Acerta em cheio em trazer tanta diversidade de gêneros do rock/metal nos dias que seguiram, e claro, não deixando de ressaltar o devido valor que é dado ao metal nacional trazendo nomes já consagrados e outros ainda despontando no cenário. Palmas para a organização por esse olhar cuidadoso com o que é nosso.

Claro que ainda existem pontos a se observarem, como já dito, talvez um lugar um pouco mais confortável, e se tratando de época do calor, mais acesso a água, coisa que caminhei pelos pavilhões e acabei não encontrando um ponto de abastecimento, e até mesmo, a disponibilidade de uma mangueira para esfriar um pouco a temperatura por ali.

Fora isso, a festa continua caminhando para se tornar uma das maiores do Brasil, e com certeza irá. Nos vemos em 2025!

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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