Supergrupo BEAT celebra a fase oitentista do King Crimson em show hipnotizante em São Paulo

Os fãs de King Crimson puderam, no último dia 09 de maio, no Espaço Unimed, na Zona Oeste de São Paulo matar a saudade,ao menos por duas horas e meia, da sonoridade de uma das bandas mais importantes do Rock Progressivo, por meio do supergrupo BEAT, composto por Tony Levin – único membro do supergrupo a compor a última formação do Crimson -, Adrian Belew – membro da banda londrina entre 1981 e 1984, e entre 1994 e 2008 -, o lendário guitarrista Steve Vai e Danny Carey, membro do Tool.

O show de quase duas horas e meia, terminou na madrugada do dia seguinte (10) e reteve grande parte dos fãs que ocuparam as áreas de mesas e a pista presentes em metade da grande pista da casa de eventos. No repertório, o supergrupo tocou as faixas presentes nos três álbuns lançados pelo King Crimson nos anos 1980: “Discipline” (1981), “Beat” (1982) e “Three of a Perfect Pair” (1984).

Ao todo, os membros esbanjam toda a técnica instrumental em seus postos, com um Steve Vai mais contido à esquerda (direita dele) do palco, mas preciso com solos carregados de feeling e efeitos interpretativos precisos; um Tony Levin versátil, seja com seu baixo, nos teclados ou, principalmente, em sua lendária Chapman stick; Com Adrian ativo tanto em seu vocal impecável, quanto com suas linhas “malucas” ou não de guitarra; e com um Danny Carey, aniversariante na virada do dia, solto no palco, seja pelas linhas precisas na bateria, seja com a diversão proposta em seu instrumento de percussão.

O público, com esse “pacote completo” de músicos, celebrou da melhor forma, puxando coros nas faixas com letra e, de forma hipnotizante, se atentou a cada momento dos trechos instrumentais – e das faixas instrumentais por um todo – do supergrupo.

Adrian Belew (guitarra e vocal), Tony Levin (baixo e teclado), Steve Vai (guitarra) e Danny Carey (bateria e percussão) entraram no palco às 22h, sob longos e calorosos aplausos dos fãs e reunidos em linha na frente do palco. O tom teatral da apresentação foi o prenúncio para o início do primeiro ato, com nove músicas dos três álbuns da fase oitentista do King Crimson.

“Neurotica” abriu o show com o melhor do Rock Progressivo em pauta, somado com os supostos sons de carros feitos por Adrian em sua guitarra e uma longa narração na parte inicial. Levin também se destacou pelo uso de um Chapman stick, instrumento que ele mesmo popularizou com o King Crimson e na banda de Peter Gabriel. O “aquecimento” foi propício para que, em seguida, o quarteto tocasse a comemorada música “Neal and Jack and Me”, esbanjando ainda mais das técnicas de cada membro – principalmente Danny Carey e seu foco em caixas “alternativas” nas linhas de bateria, junto aos solos cheios de feeling por parte de Steve Vai, mais contido em um lado do palco.

“Heartbeat” foi outro clássico tocado no primeiro ato que levou o público a um coro constante em toda a música. Foi algo que acompanhou e muito a liderança de Adrian e Steve nos arranjos e solos de guitarra. Logo depois, “Sartori in Tangier” veio como um instrumental mais longo, iniciado por Tony e bem conduzido por todos os instrumentistas. Nada como a sonoridade envolvente de “Model Man” para soltar a voz do público novamente.

Os membros do BEAT prosseguiram o show com “Dig Me”, pouco após Adrian elogiar os fãs presentes. Tony e Danny lideraram o começo da faixa com ritmos de Prog, alguns dedos no Psicodélico e outras brincadeiras improvisadas pelos músicos. Certo é que a galera veio junto nos trechos de letra e, em peso, admirou o “experimento” da banda naquele momento. Em seguida, a banda seguiu com “Man With an Open Heart”, em predomínio das luzes vermelhas e rosa no palco.

Para “Industry”, Tony assumiu o teclado para uma sonoridade mais “espacial”, acompanhado da sonoridade de Adrian Belew e uma guitarra ligada a um sintetizador. Houve uma evolução da sonoridade com as introduções de Danny Carey e o suporte de Steve Vai, o que criou um ambiente sonoro interessante. O final da faixa em questão fez desaguar na última música do primeiro ato, o também instrumental de “Larks’ Tongues in Aspic (Part III)”, num riff poderoso de Steve Vai e linhas poderosas de Tony sendo o destaque no início e, ao longo da faixa, alternando entre linhas simples e complexas em conjunto.

Certo era que, até ali, em praticamente 50 minutos, o público viu aquelas lendas executando. com perfeição – até mesmo nos “experimentos” -. nove grandes faixas do King Crimson, o suficiente para deixar os mais fãs da banda e de cada membro eufóricos ao final, com mais aplausos calorosos e até mesmo uma pessoa, mais eufórica, gritando “Eles foram os GOATs” repetidamente e a plenos pulmões. Sorte de todos que havia mais um ato a acontecer.

Segundo Ato

O intervalo durou pouco mais de 20 minutos, o que permitiu a grande maioria a repor seus copos de água ou bebida, circular conforme possível ou buscar um lugar mais à frente.

O supergrupo retomou às 23h14, com Danny Carey introduzindo “Waiting Man” com uma percussão frontal cuja sonoridade, por ora, lembrou os instrumentos de batida feitos com canos. Adrian, quando voltou ao palco, dividiu esse instrumento com Danny antes de começar a cantar a letra da música em questão, num momento divertido para eles e para o público em geral. Steve Vai ainda completou a situação com solos distorcidos muito destacados. “The Sheltering Sky” veio na sequência, sob batidas mais leves do baterista e com um riff de guitarra que levou o público ao delírio novamente, apesar do longo tempo de execução da faixa.

Para a sequência do segundo ato, faixas como “Sleepless”,Frame by Frame” e “Matte Kudasai” foram tocadas sob forte acompanhamento do público, seguido de outros clássicos como “Elephant Talk” e sua insanidade sonora, “Three of a Perfect Pair”, com ótimo solo de bateria de Danny Carey, e “Indiscipline”, cujo baterista fez boa introdução. Parecia o final, porém ainda havia uma surpresa para o público – e para um membro da banda.

Encore e “Parabéns pra você”

Era mais de meia-noite quando o segundo ato acabou. Por coincidência, o dia 10 de maio marca o aniversário do baterista Danny Carey, que não passou despercebido pela banda e pelos fãs. As comemorações começaram no palco, com um bolo, cantos de “Happy Birthday to You” e o direito do baterista comer o bolo com sua baqueta. Certo é que o show tinha que continuar e havia mais dois clássicos a serem tocados naquela noite.

O primeiro foi “Red”, faixa intensa da fase dos anos 1970 do King Crimson que, mesmo com o foco no repertório da década seguinte, não poderia faltar num show de celebração à lendária banda. Depois, o repertório oitentista voltou para encerrar o show, representado pela música “Thela Hun Ginjeet” (“Heat in the Jungle”, em anagrama), carregada de fortes linhas da bateria e dos refrões acompanhados a plenos pulmões pelo público.

Ao todo, o BEAT mostrou um nível de sinergia inigualável para a noite, encantando o público presente no Espaço Unimed e, talvez, com um gostinho de “quero mais” para outras fases do King Crimson que, eventualmente, possam tocar. Certo é que, com o repertório oitentista, não houve um detalhe que pudesse interferir na magia de quatro membros indiscutivelmente talentosos.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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