Titãs: há 40 anos, era lançado o álbum “Televisão”

Há 40 anos, em 27 de junho de 1985, o Titãs lançava “Televisão“, o segundo álbum de sua vasta discografia e que é assunto do nosso bate-papo desta sexta-feira. Vamos contar um pouco da história deste álbum.

Depois do auto-intitulado álbum de estreia, lançado em 1984, que apesar de conter alguns hits, como “Sonífera Ilha“, “Marvin (Patches)” e “Babi Índio“, as vendas decepcionaram. Menos de 50 mil cópias foram comercializadas, em 1997, as vendas totalizaram 100 mil cópias, o que ainda era muito pouco. Então eles resolveram fazer uma espécie de disco conceitual.

O conceito era sobre a televisão, que na época era o principal meio de entretenimento da grande massa. Não havia internet, nem telefones celulares, então era normal que as famílias se juntassem todos os dias para assistir às novelas, telejornais ou algum outro programa. Então eles pensaram que cada faixa representasse um canal de televisão, o que torna difícil rotular o trabalho, já que, assim como nas trocas de canais, cada música aqui aponta para um estilo diferente.

Para a produção, eles resolveram convidar Lulu Santos. Era uma tentativa de a banda se aproximar do público carioca, já que em meados dos anos 1980, a rixa Rio-São Paulo era bem grande. Mas o trabalho de Lulu como produtor não agradou muito à banda. O produtor também atuou como músico convidado, tocando guitarra na faixa “Pra Dizer Adeus” e baixo em “Dona Nenê“.

O álbum marca a estreia do baterista Charles Gavin, que entrou no final de 1984 no lugar de André Jung, o que acabou configurando em uma troca (ainda que não intencional), já que Gavin era do Ira!, que acabou sendo o destino do ex-Titãs. Os outros sete integrantes continuaram no lineup, que permaneceu assim até o ano de 1992, quando Arnaldo Antunes foi o primeiro a sair, para seguir carreira solo.

O álbum foi gravado no estúdio Transamérica, em São Paulo, onde eles fizeram uso de equipamentos analógicos.  A banda gravou o disco entre os meses de março e abril de 1985. Certa vez, o produtor executivo Pena Schimidt lembrou de como foi a experiência com a banda no estúdio. Aspas para ele:

“Eles já chegaram com muita experiência neste assunto e, além disso, o Lulu Santos soube como deixá-los bem à vontade”.

Schimidt também lembrou que, em uma banda com oito integrantes, era mais do que normal existirem divergências, mas que tudo era resolvido na base da conversa e da democracia (para desespero de alguns fãs de Rock que reclamam do sistema democrático, onde podemos escolher quem vai governar nossa cidade, estado ou país), é que haviam sempre pizzas no estúdio, que ajudava na hora de fazer um lanche rápido.

Em “Televisão“, o Titãs apresenta onze faixas e a duração total é relativamente curta, 36 minutos. A banda se arriscou em incluir inúmeras influências que vão desde o Ska, o pós-Punk, passando até mesmo pelo Classic Rock, resultando em um álbum bem abaixo da média. Os destaques ficam por conta da faixa-título, “Insensível“, “Não Vou me Adaptar“, “Autonomia” e “Massacre“, essa última já dava pistas de como a banda iria soar nos álbuns seguintes.

Curiosamente, a faixa “Pra Dizer Adeus” fez bastante sucesso anos mais tarde, quando a banda gravou seu álbum acústico e a música virou um hit. “Pavimentação” e “Não Vou me Adaptar” também foram regravadas anos mais tarde e as versões ficaram melhores do que as originais. Certa vez, a banda foi perguntada sobre o paradeiro da Dona  Nenê e a resposta de todos foi: é um mistério até hoje e ninguém sabe onde ela está”.

Durante a divulgação do álbum, a banda se apresentou no programa que a jornalista Marília Gabriela apresentava na TV Bandeirantes. O político Jânio Quadros, que na época concorria (e acabou eleito) à prefeitura de São Paulo, protestou e disse que a música “era uma porcaria”. Não foi o primeiro momento de tensão entre a banda e o político, em 1987, a banda fez fotos em um cemitério da capital paulistana, o prefeito não gostou e demitiu a pessoa responsável por autorizar com que o Titãs fizesse uso do espaço. Não surpreende tal autoritarismo, ainda mais vindo de uma pessoa que flertava com o autoritarismo e tinha admiração por militares, como um certo ex-presidente, que hoje está inelegível.

O álbum vendeu 25 mil cópias, o que foi considerado por todos na banda como “um relativo fracasso”, e a baixa vendagem nos dois primeiros álbuns faziam com que a banda se desdobrasse para que o resultado em “Cabeça Dinossauro“, o álbum que sucedeu nosso homenageado, fosse um sucesso. Do contrário, o contrato com a Warner não seria renovado. E a história mostrou que eles se recuperaram com louvor, se tornando a banda de Rock nacional mais relevante entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990.

Da formação original, restam apenas Tony Belotto (que recentemente passou por uma cirurgia e se recupera bem), Sérgio Britto e Branco Mello. Em 2024, os outros integrantes, à exceção de Marcelo Fromer, que nos deixou em 2001, fizeram uma turnê para celebrar os 40 anos da banda. E eles prometem se reunir novamente em 2027 para comemorar os 30 anos do álbum acústico. Hoje é dia de celebrar o mais novo quarentão do Rock nacional e de agradecer por ter mais uma banda que se preocupa com o bem-estar comum e não se alinha às pautas da extrema-direita. Por mais bandas como o Titãs.

Televisão – Titãs
Data de lançamento – 27/06/1985
Gravadora – WEA

Faixas:
01 – Televisão
02 – Insensível
03 – Pavimentação
04 – Dona Nenê
05 – Pra Dizer Adeus
06 – Não Vou Me Adaptar
07 – Tudo Vai Passar
08 – Sonho com Você
09 – O Homem Cinza
10 – Autonomia
11 – Massacre

Formação:
Arnaldo Antunes – vocal
Branco Mello – vocal
Paulo Miklos – vocal
Nando Reis – baixo/ vocal
Sergio Britto – teclado/ vocal
Tony Belotto – guitarra
Marcelo Fromer – guitarra
Charles Gavin – bateria

Participação especial:
Lulu Santos – guitarra em “Pra Dizer Adeus” e baixo em “Dona Nenê”

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

One thought on “Titãs: há 40 anos, era lançado o álbum “Televisão”

  • junho 26, 2025 em 3:43 pm
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    Muito bom, Não tinha nascido ainda nessa época. É uma banda que teve e tem grandes compositores e gostos diferentes, por isso entendo que teve essas dissoluções e algumas intrigas sobre determinado estilo e música. Parabéns por esse album marcante, abraços!

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