Viper: 34 anos de “Theatre of Fate”, a despedida de Andre Matos

Em 10 de outubro de 1989, há exatos 34 anos, o Viper, que é o nosso tesouro do Metal nacional, lançava “Theatre of Fate“, o segundo álbum desta banda que é uma instituição do Heavy Metal nacional.

O álbum marca a despedida do imortal Andre Matos, que a partir dali se dedicaria a sua faculdade de música e depois faria carreira no Angra, Shaman e em sua banda solo. Anos depois ele voltou para fazer uma turnê comemorativa com seus ex-companheiros e foi até cogitado a gravação de um novo álbum, o que acabou não acontecendo.

A banda estava com moral pela ótima repercussão de seu disco de estreia, “Soldiers of Sunrise“. Entretanto, a turnê teve alguns contratempos, como a ausência de Felipe Machado, que foi para os Estados Unidos concluir o ensino médio e também sem um baterista fixo, uma vez que Cássio Audi saiu logo depois a gravação do debut album. Coube a Val Santos ocupar a vaga em algumas datas da turnê, que teve como ápice, um show de abertura para ninguém menos que o Motörhead.

Felipe Machado conta que as ideias para “Theatre of a Fate” começaram quando ele ainda estava morando nos Estados Unidos. Quando ele retornou ao Brasil, as bandas que influenciaram os rapazes, todos jovens com menos de 21 anos, eram Yes, Marillion, Queensryche e isso explica a complexidade e a qualidade das músicas do aniversariante do dia. E para surpresa de muitos, inclusive deste redator ao pesquisar, os elementos da música erudita não foram trazidas por Andre Matos, mas sim de Pit Passarell, que até hoje é o principal compositor da banda.

Com um novo selo para lançar seu vindouro álbum, a banda foi em busca de um produtor gringo. E encontraram Roy Rowland, que havia produzido o Testament. O cara veio e já vetou a participação do baterista Val Santos. No ano de 2013, Andre Matos relembrou em entrevista como foi trabalhar com o produtor. Aspas para ele:

“Foi um grande salto de um nível para outro. Contratamos um produtor inglês chamado Roy Rowland que veio para o Brasil. O cara era muito bom, e tivemos tanta sorte que provavelmente tínhamos um dos melhores estúdios da cidade disponível para nós. Era um estúdio antigo dos anos 50 ou 60, sabe, dos tempos do cinema. Eles costumavam gravar orquestras completas lá, e eles tinham equipamentos maravilhosos, como mesa ao vivo e gravadores e todos os tipos de microfones e todos os tipos de salas e piano acústico e orquestra disponíveis, e tudo. Então era uma realidade completamente diferente.”

A banda se reuniu então no estúdio BGM Ariola, na capital paulistana, entre os meses de agosto e setembro de 1989. A mixagem ocorreu do outro lado do Atlântico, no Strawberry Studios, Inglaterra, durante o mês de setembro. O baterista Guilherme Martin, embora apareça nas fotos do álbum, entrou depois das gravações. A bateria foi gravada por Sérgio Facci, na época, baterista do Volkana e que topou o desafio, já que como dito acima, Val Santos foi barrado pelo produtor. Vamos passear pelas oito faixas contidas aqui.

Illusions” é uma bela introdução, com pouco menos de dois minutos, onde a banda inclui harmonias e elementos da música clássica. Logo logo o Helloween brasileiro entra em ação com “At Least a Chance“, que também tem inclusão de elementos da música clássica. Inclusive um pequeno trecho foi reproduzido fielmente anos mais tarde na música “Angels Cry“, do Angra, a futura banda de Andre Matos.

As próximas três músicas são parte integrante do Top 3 de sempre das músicas do Viper: “To Live Again“, “A Cry From the Edge” e “Living for the Night“. A primeira combina perfeitamente o Hard com o Heavy, tendo os riffs da dupla Felipe Machado e Yves Passarell sendo os destaques; a segunda tem uma bela e longa introdução, repleta de belas harmonias e até mesmo uma viola flamenca no meio, que depois se transforma em um baita Power Metal; por fim, “Living for the Night“, que começa com ares de balada e mais da música erudita, para ganhar contornos épicos a ponto de ter se tornado um dos hinos do Metal nacional. É impossível você não se arrepiar ao ouvir essa música, não importa se é na voz de Andre Matos, Pit Passarell ou do atual dono do posto, o competente Leandro Caçoilo.

Se você está no vinil, é hora de virar a bolacha, pois apesar do apoteose ter ficado do lado A, ainda temos a parte final, as três músicas finais que estão do lado B. “Prelude to Oblivion” abre, trazendo uma bela combinação do Heavy Metal melódico com mais da música clássica, com direito ao uso de instrumentos como violoncelo e violino. O que se tornaria o boom no estilo mais de dez anos depois, o Viper já fazia em 1989. Para a gente perceber o quão na vanguarda eles estavam.

O Power Metal dá as caras novamente com a empolgante faixa título, onde os riffs da dupla de guitarristas mais uma vez prova estar afiada, tendo o vocal de Andre o carro-chefe. “Moonlight“, encerra o disco trazendo uma versão para a “Sonata do Lugar“, de Ludwig Van Beethoven. Essa aliás, foi a única composição de Andre Matos para o play. Aqui não temos nada de guitarras bateria na velocidade da luz, Andre e seu teclado são acompanhados pelo violino de Renata Kubala, que emprestou seu talento e os demais músicos dando o clima erudita que a música pede. Ótimo final.

O que é bom, dura pouco e em 36 minutos temos o melhor álbum do Metal Nacional daquele ano de 1989, empatado com um tal de “Beneath the Remains“. Um disco vanguardista, como já dissemos anteriormente. E o curioso é que a música “To Live Again” foi primeiramente batizada de “Vanguard“. Felipe Machado afirmou que o título foi dado de zoeira, mas no fundo, eles sabiam que estavam sendo os primeiros a fazer uma obra daquela aqui em terras tupiniquins. É um dos nossos maiores tesouros e devemks cuidar dele com o maior carinho.

Disco pronto, era hora de sair em turnê. Sucesso até no Japão, o que rendeu contrato com um selo daquele país para os próximos lançamentos. Estava tudo muito bem, os meninos viviam um sonho até que a banda sofreu um baque: Andre Matos anunciou sua saída para se dedicar ao curso de música na faculdade. E o baterista Guilherme Martin resolveu voltar a morar no interior de São Paulo. Era um problema que a banda precisou encarar para o sucessor, o não menos maravilhoso “Evolution“. Mas hoje é dia de celebrarmos esse “Theatre of Fate“, um disco que marcou época  e esteve a frente de seu tempo. Hoje não temos mais o grande Andre Matos entre nós, mas temos o Viper na ativa e com seu novo álbum ‘Timeless“, que acabou de ser lancado. Longa vida para estes guerreiros do Metal brasileiro.

Theatre of Fate – Viper
Data de lançamento – 10/10/1989
Gravadora – Estúdio Eldorado

Faixas:
01 – Illusions
02 – At Least a Chance
03 – To Live Again
04 – A Cry From the Edge
05 – Living for the Night
06 – Prelude to Oblivion
07 – Theatre of Fate
08 – Moonlight

Formação:
Andre Matos – vocal/ teclado
Felipe Machado – guitarra
Yves Passarell – guitarra
Pit Passarell – baixo

Participações especiais:
Sérgio Facci – bateria
Suzana Kato – violoncelo em “At Least a Chance” e “Prelude to Oblivion”
Fernando Bastamante – samplers/ sintetizadores
Ricardo Kubala – viola em “At Least a Chance” e “Prelude to Oblivion”
Fabio Brucoli – violino em “At Least a Chance” e “Prelude to Oblivion”
Renata Kubala – violino em “At Least a Chance”, “Prelude to Oblivion” e “Moonlight”

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *