L7 desencadeia energia caótica e positiva de público presente no Carioca Club em São Paulo

Texto por: Tiago Pereira
Fotos por: Jéssica Marinho

O público presente no Carioca Club, na Zona Oeste de São Paulo, na última sexta-feira (20), tornou a apresentação da banda estadunidense de punk rock e grunge, L7, ainda mais especial. A animosidade e a energia, quase ininterruptas e demonstradas pelos cânticos constantes, os saltos de fãs do palco à plateia, atos de loucura de alguns deles – com direito a uma delas mostrando os seios! -, a ovação ininterrupta, as chuvas de cerveja em diversos momentos da noite e o destaque a um dos lados do palco fizeram a diferença, inibiram o atraso da abertura dos portões e já mostravam resquícios nas apresentações de abertura das bandas de punk rock Cólera e As Mercenárias. O evento, realizado pela Maraty e gerido pela Venus Concerts, além da assessoria da Tedesco Comunicação, marcou a abertura da turnê da banda na América do Sul, nomeada “The Best of L7“.

Atraso inicial

A abertura dos portões, prevista para às 19h, teve um atraso de cerca de 15 minutos. Isto afetou o horário de apresentação de todas as bandas do dia, mas não foi um fator que desanimasse o público presente. O lado de fora do Carioca Club estava em um clima mais calmo e destacado por vendedores de bebidas e camisetas da banda principal, que ditavam a playlist prévia com músicas do L7, clássicos do rock nacional e internacional e até mesmo faixas de funk paulistano.

Na abertura, um processo de entrada rápido e preciso que permitiu uma lotação considerada para a abertura

Mensagens de paz e críticas ao Sistema

A banda Cólera trouxe clássicos dos mais de 40 anos de carreira do grupo e até uma faixa não ensaiada para a abertura do evento. Apesar de não ter o local devidamente cheio no momento de sua apresentação, muitos fãs da banda – principalmente à direita do palco, na visão do público – ditaram o coro nas principais músicas e tornaram a performance mais emblemática.

SÃO PAULO, SP, 20.10.2023 – SHOW-SP – A banda Cólera se apresenta como banda de abertura da L7, em São Paulo no Carioca Club – Foto: Jéssica Marinho

Os saltos, os levantamentos de perna simbólicos e o vocal de Wendell Barros – com ou sem o microfone e, no segundo caso, para cativar o público a cantar junto e com a devida energia – foram diferenciais que, combinados com a sonoridade de Fábio Bellucci (guitarra), Val Pinheiro (baixo) e Pierre Pizzi (bateria), além das mensagens críticas ao sistema capitalista e de cunho pacifista, deram o prenúncio de uma noite enérgica.

SÃO PAULO, SP, 20.10.2023 – SHOW-SP – A banda Cólera se apresenta como banda de abertura da L7, em São Paulo no Carioca Club – Foto: Jéssica Marinho

No setlist de 12 faixas, os destaques ficaram nas faixas “Humanidade” – a que Wendell indicou como não ensaiada -, “Medo” e “Pela Paz”, que encerrou a apresentação e cativou os fãs e aqueles que não conheciam a banda completamente a cantar o lema “Pela Paz em Todo o Mundo” em diversas línguas.

SÃO PAULO, SP, 20.10.2023 – SHOW-SP – A banda Cólera se apresenta como banda de abertura da L7, em São Paulo no Carioca Club – Foto: Jéssica Marinho

Ânimo de convidadas e poucas interações 

A banda As Mercenárias, composta por Sandra Coutinho (baixo), Silvia Tape (guitarra) e Pitchu Ferraz (bateria), contou com a presença das convidadas Mayla Goerish (teclado e vocal) e Bibiana Graeff (sintetizador e vocal) e deu sequência ao evento de sexta-feira, começando às 20h42. Tanto a pintora e escultora quanto a doutora em Direito deram o ânimo necessário ao show com danças não sincronizadas e predominância nos vocais das faixas da banda. Tais características, ainda assim, não inibiram a pouca interação da banda num geral com o público presente, concentrada na reta final da apresentação, com o agradecimento à presença, a apresentação das integrantes e a reprodução de faixas como “Linha do Tempo Contínuo“, “Não Não Não“, “Polícia” e “Me Perco Nesse Tempo”, que compuseram a reta final do show delas.

SÃO PAULO, SP, 20.10.2023 – SHOW-SP – A banda As Mercanárias se apresentam como banda de abertura da L7, em São Paulo no Carioca Club – Foto: Jéssica Marinho

De todo modo, a sonoridade da banda de Punk rock e pós-punk não deixou a desejar e trouxe um ritmo positivo e que gerou a vontade de dançar de boa parte do público presente.

SÃO PAULO, SP, 20.10.2023 – SHOW-SP – A banda As Mercanárias se apresentam como banda de abertura da L7, em São Paulo no Carioca Club – Foto: Jéssica Marinho

O desencadear da energia caótica 

A L7 foi a única banda que não contou com um início em que os/as integrantes já estavam no palco antes do abrir das cortinas. Este fator foi o estopim para o desencadear de uma animosidade, energia e positividade em conjunto do público presente, que foi agraciado com 23 faixas em cerca de uma hora e meia.

SÃO PAULO, SP, 20.10.2023 – SHOW-SP – A banda L7 se apresenta em São Paulo no Carioca Club – Foto: Jéssica Marinho

As integrantes Donita Sparks (guitarra e vocal principal), Suzi Gardner (guitarra e vocal), Jennifer Finch (baixo e vocal) e Demetra Plakas (bateria e vocal) apareceram no palco perto das 22h e enfrentaram uma pequena falha sonora na queda do baixo de Jennifer, algo contornado com a fala cômica de Donita na abertura.

O público presente no Carioca Club – agora com o local lotado – não demorou para criar um ambiente enérgico e caótico positivamente – com um teor negativo para os fotógrafos e, principalmente, para os seguranças de palco -. Logo na primeira faixa, “Deathwish”, um mosh pit se abriu no lado direito do palco – na visão do público – e não parou mais. A expansão veio na clássica “Anders”, quando a animosidade da plateia atingiu um de seus auges e consumiu a parte frontal e meio do palco. Cheguei a trocar de lugar com uma fã que se incomodou com um homem que a esbarrava no Mosh e, particularmente, não pensei duas vezes ao me deslocar para o outro lado, mais calmo e com uma concentração considerável de fotógrafos. Era isso, ou não conseguiria gravar muita coisa.

SÃO PAULO, SP, 20.10.2023 – SHOW-SP – A banda L7 se apresenta em São Paulo no Carioca Club – Foto: Jéssica Marinho

A partir de “Everglade”, diversas pessoas saltaram no palco, fizeram suas graças para a banda ou para o público e pulavam de volta, sendo levados pela onda de pessoas. Tal dinâmica é um março de shows grandes no Carioca Club, uma vez que o público fica colado ao palco, sem grades de separação.

O marco e ápice destas peripécias veio na faixa seguinte, “Scrap”, quando uma fã não hesitou  e tirou a camisa, levantou o sutiã e mostrou os seios para a plateia! Outro fã dançou com Jeniffer Finch, o que levantou o alerta de Donita e dos técnicos de palco. Estes começaram a agir de modo a evitar que mais pessoas passassem ou tivessem algum contato físico que atrapalhasse a apresentação da banda.

SÃO PAULO, SP, 20.10.2023 – SHOW-SP – A banda L7 se apresenta em São Paulo no Carioca Club – Foto: Jéssica Marinho

E não demorou muito tempo para que dois seguranças subissem e ficassem a postos nas extremidades do palco, de modo a evitar mais exaltações de fãs – na maioria das vezes, este método de segurança não foi eficaz pela teimosia do público presente.

Jennifer interagiu com o público pela primeira vez e perguntou quantos estavam num show do L7 pela primeira vez. A resposta veio da maioria dos presentes e surpreendeu a baixista que, junto a Donita, agradeceu pela presença. Na sequência, as faixas “Shove”, “Stadium West” e outra clássica, “One More Thing“, mantiveram o ânimo do público a todo vapor, continuando o ritmo com “Mr. Integrity”, “Slide”,Can I Run” e “Human”.

SÃO PAULO, SP, 20.10.2023 – SHOW-SP – A banda L7 se apresenta em São Paulo no Carioca Club – Foto: Jéssica Marinho

Em “Bad Things”, Donita Sparks conversa mais com o público e num sentido carinhoso, chamando os presentes de “desastre” por conta dos moshs e saltos ao palco, além de os incentivar que ninguém os deixe para baixo na vida.

Em “Monster”, uma fã ignorou e bateu de frente com os seguranças, subindo no palco a qualquer custo. Antes de voltar para a plateia, mandou corações para as integrantes do L7. Na sequência, “Fuel My Fire” marcou mais chuva de cerveja – desta vez originada do mezanino da casa de shows -.

Outro clássico da banda, “Fighting The Grave“, marcou um pequeno período de descanso físico – sem perder o impacto vocal – do público. Está cadência mais lenta seguiu em “Drama” e na clássica “Non-Existent Patricia“. Ainda assim, nesta última, uma fã eufórica pulou do palco para a plateia e Donita, com senso cômico agudo, brincou com ela, afirmando que esta “queria muito casar com a Patricia”.

O ânimo voltou a todo vapor a partir de “Wargasm”, assim como a volta dos mosh pits em larga escala. Foi nesta faixa que Donita Sparks, abertamente, criticou Donald Trump e uma possível candidatura do ex-presidente dos Estados Unidos nas eleições de 2024, mesmo após os casos em que é investigado ou condenado.

E o ápice vocal da plateia foi atingido na principal e mais famosa música da banda, “Pretend We’re Dead“. Praticamente ninguém estava, no mínimo, de boca aberta e cantando a faixa. Foi nesse momento, também, que o maior número de pessoas possível subiu no palco para pular na sequência.

“Dispatch From Mar-a-Lago” e “Shitlist” mantiveram o ambiente quente, animado e agitado da plateia. Nem mesmo no encore, momento que a banda saiu para um pequeno descanso e as luzes do palco se apagaram, o público se aquietou. Pelo contrário, os presentes não pararam de aplaudir e gritar pelo nome da banda em minuto algum da pausa. No retorno, a ovação se tornou maior com a presença das integrantes e o agradecimento de Donita Sparks.

Para a reta final a L7 trouxe “American Society”, um cover da banda de Punk Rock Eddie and the Subtitles e que ficou muito famosa na sonoridade da banda californiana. Por fim, “Fast and Frightening“, dedicada por Sparks às mulheres presentes, trouxe o último (e destacado) lampejo de energia do público que, agora mais liderado que nunca pelas moças presentes no Carioca Club, pularam novamente a todo vapor, principalmente no icônico lado dos moshs. Jennifer, feliz com a noites chegou a deixar o público da frente encostar em seu instrumento.

SÃO PAULO, SP, 20.10.2023 – SHOW-SP – A banda L7 se apresenta em São Paulo no Carioca Club – Foto: Jéssica Marinho

O fim da apresentação levou Donita Sparks a, novamente, agradecer pelo show e afirmar, sem hesitar, que aquele foi o “melhor público de todos”. E esta fala sacramentou uma noite inesquecível para a maioria dos presentes que, não obstante de verem um show da banda pela primeira vez (ou mais que a primeira), fizeram a diferença e não deixaram questões como o atraso dos horários e a baixa sonoridade das guitarras do L7 – na maior parte do show – atrapalharem uma celebração tão bonita do começo ao fim das mais de quatro horas de evento e uma hora e meia só da banda californiana.

SETLISTS

Cólera

  1. Duas Ogivas
  2. Alternar
  3. Minha Mente
  4. Por Que Ela Não?
  5. CDMP
  6. Repetição Constante
  7. Somos Vivos
  8. Palpebrite
  9. Humanidade
  10. Medo
  11. Dia e Noite, Noite e Dia
  12. Pela Paz

As Mercenárias

 

  1. Dá Dó
  2. Inimigo
  3. Meus Pais
  4. Há Dez Anos Passados
  5. Ação na Cidade
  6. Poder
  7. Labirintos
  8. Eu Não Consigo Mais Dormir
  9. Danação
  10. Linha do Tempo Contínuo
  11. Não Não Não
  12. Polícia
  13. Me Perco Nesse Tempo

L7

  1. Deathwish
  2. Andres
  3. Everglade
  4. Scrap
  5. Shove
  6. Stadium West
  7. One More Thing
  8. Integrity
  9. Slide
  10. Can I Run
  11. Human
  12. Bad Things
  13. Monster
  14. Fuel My Fire
  15. Fighting the Crave
  16. Drama
  • Patricia
  1. Wargasm
  2. Dispatch From Mar-a-Lago
  3. Pretend We’re Dead
  4. Shit List
  5. American Society (cover de Eddie and the Subtitles)
  6. Fast and Frightening

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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