L7 desencadeia energia caótica e positiva de público presente no Carioca Club em São Paulo
Texto por: Tiago Pereira
Fotos por: Jéssica Marinho
O público presente no Carioca Club, na Zona Oeste de São Paulo, na última sexta-feira (20), tornou a apresentação da banda estadunidense de punk rock e grunge, L7, ainda mais especial. A animosidade e a energia, quase ininterruptas e demonstradas pelos cânticos constantes, os saltos de fãs do palco à plateia, atos de loucura de alguns deles – com direito a uma delas mostrando os seios! -, a ovação ininterrupta, as chuvas de cerveja em diversos momentos da noite e o destaque a um dos lados do palco fizeram a diferença, inibiram o atraso da abertura dos portões e já mostravam resquícios nas apresentações de abertura das bandas de punk rock Cólera e As Mercenárias. O evento, realizado pela Maraty e gerido pela Venus Concerts, além da assessoria da Tedesco Comunicação, marcou a abertura da turnê da banda na América do Sul, nomeada “The Best of L7“.
Atraso inicial
A abertura dos portões, prevista para às 19h, teve um atraso de cerca de 15 minutos. Isto afetou o horário de apresentação de todas as bandas do dia, mas não foi um fator que desanimasse o público presente. O lado de fora do Carioca Club estava em um clima mais calmo e destacado por vendedores de bebidas e camisetas da banda principal, que ditavam a playlist prévia com músicas do L7, clássicos do rock nacional e internacional e até mesmo faixas de funk paulistano.
Na abertura, um processo de entrada rápido e preciso que permitiu uma lotação considerada para a abertura
Mensagens de paz e críticas ao Sistema
A banda Cólera trouxe clássicos dos mais de 40 anos de carreira do grupo e até uma faixa não ensaiada para a abertura do evento. Apesar de não ter o local devidamente cheio no momento de sua apresentação, muitos fãs da banda – principalmente à direita do palco, na visão do público – ditaram o coro nas principais músicas e tornaram a performance mais emblemática.
Os saltos, os levantamentos de perna simbólicos e o vocal de Wendell Barros – com ou sem o microfone e, no segundo caso, para cativar o público a cantar junto e com a devida energia – foram diferenciais que, combinados com a sonoridade de Fábio Bellucci (guitarra), Val Pinheiro (baixo) e Pierre Pizzi (bateria), além das mensagens críticas ao sistema capitalista e de cunho pacifista, deram o prenúncio de uma noite enérgica.
No setlist de 12 faixas, os destaques ficaram nas faixas “Humanidade” – a que Wendell indicou como não ensaiada -, “Medo” e “Pela Paz”, que encerrou a apresentação e cativou os fãs e aqueles que não conheciam a banda completamente a cantar o lema “Pela Paz em Todo o Mundo” em diversas línguas.
Ânimo de convidadas e poucas interações
A banda As Mercenárias, composta por Sandra Coutinho (baixo), Silvia Tape (guitarra) e Pitchu Ferraz (bateria), contou com a presença das convidadas Mayla Goerish (teclado e vocal) e Bibiana Graeff (sintetizador e vocal) e deu sequência ao evento de sexta-feira, começando às 20h42. Tanto a pintora e escultora quanto a doutora em Direito deram o ânimo necessário ao show com danças não sincronizadas e predominância nos vocais das faixas da banda. Tais características, ainda assim, não inibiram a pouca interação da banda num geral com o público presente, concentrada na reta final da apresentação, com o agradecimento à presença, a apresentação das integrantes e a reprodução de faixas como “Linha do Tempo Contínuo“, “Não Não Não“, “Polícia” e “Me Perco Nesse Tempo”, que compuseram a reta final do show delas.
De todo modo, a sonoridade da banda de Punk rock e pós-punk não deixou a desejar e trouxe um ritmo positivo e que gerou a vontade de dançar de boa parte do público presente.
O desencadear da energia caótica
A L7 foi a única banda que não contou com um início em que os/as integrantes já estavam no palco antes do abrir das cortinas. Este fator foi o estopim para o desencadear de uma animosidade, energia e positividade em conjunto do público presente, que foi agraciado com 23 faixas em cerca de uma hora e meia.
As integrantes Donita Sparks (guitarra e vocal principal), Suzi Gardner (guitarra e vocal), Jennifer Finch (baixo e vocal) e Demetra Plakas (bateria e vocal) apareceram no palco perto das 22h e enfrentaram uma pequena falha sonora na queda do baixo de Jennifer, algo contornado com a fala cômica de Donita na abertura.
O público presente no Carioca Club – agora com o local lotado – não demorou para criar um ambiente enérgico e caótico positivamente – com um teor negativo para os fotógrafos e, principalmente, para os seguranças de palco -. Logo na primeira faixa, “Deathwish”, um mosh pit se abriu no lado direito do palco – na visão do público – e não parou mais. A expansão veio na clássica “Anders”, quando a animosidade da plateia atingiu um de seus auges e consumiu a parte frontal e meio do palco. Cheguei a trocar de lugar com uma fã que se incomodou com um homem que a esbarrava no Mosh e, particularmente, não pensei duas vezes ao me deslocar para o outro lado, mais calmo e com uma concentração considerável de fotógrafos. Era isso, ou não conseguiria gravar muita coisa.
A partir de “Everglade”, diversas pessoas saltaram no palco, fizeram suas graças para a banda ou para o público e pulavam de volta, sendo levados pela onda de pessoas. Tal dinâmica é um março de shows grandes no Carioca Club, uma vez que o público fica colado ao palco, sem grades de separação.
O marco e ápice destas peripécias veio na faixa seguinte, “Scrap”, quando uma fã não hesitou e tirou a camisa, levantou o sutiã e mostrou os seios para a plateia! Outro fã dançou com Jeniffer Finch, o que levantou o alerta de Donita e dos técnicos de palco. Estes começaram a agir de modo a evitar que mais pessoas passassem ou tivessem algum contato físico que atrapalhasse a apresentação da banda.
E não demorou muito tempo para que dois seguranças subissem e ficassem a postos nas extremidades do palco, de modo a evitar mais exaltações de fãs – na maioria das vezes, este método de segurança não foi eficaz pela teimosia do público presente.
Jennifer interagiu com o público pela primeira vez e perguntou quantos estavam num show do L7 pela primeira vez. A resposta veio da maioria dos presentes e surpreendeu a baixista que, junto a Donita, agradeceu pela presença. Na sequência, as faixas “Shove”, “Stadium West” e outra clássica, “One More Thing“, mantiveram o ânimo do público a todo vapor, continuando o ritmo com “Mr. Integrity”, “Slide”, “Can I Run” e “Human”.
Em “Bad Things”, Donita Sparks conversa mais com o público e num sentido carinhoso, chamando os presentes de “desastre” por conta dos moshs e saltos ao palco, além de os incentivar que ninguém os deixe para baixo na vida.
Em “Monster”, uma fã ignorou e bateu de frente com os seguranças, subindo no palco a qualquer custo. Antes de voltar para a plateia, mandou corações para as integrantes do L7. Na sequência, “Fuel My Fire” marcou mais chuva de cerveja – desta vez originada do mezanino da casa de shows -.
Outro clássico da banda, “Fighting The Grave“, marcou um pequeno período de descanso físico – sem perder o impacto vocal – do público. Está cadência mais lenta seguiu em “Drama” e na clássica “Non-Existent Patricia“. Ainda assim, nesta última, uma fã eufórica pulou do palco para a plateia e Donita, com senso cômico agudo, brincou com ela, afirmando que esta “queria muito casar com a Patricia”.
O ânimo voltou a todo vapor a partir de “Wargasm”, assim como a volta dos mosh pits em larga escala. Foi nesta faixa que Donita Sparks, abertamente, criticou Donald Trump e uma possível candidatura do ex-presidente dos Estados Unidos nas eleições de 2024, mesmo após os casos em que é investigado ou condenado.
E o ápice vocal da plateia foi atingido na principal e mais famosa música da banda, “Pretend We’re Dead“. Praticamente ninguém estava, no mínimo, de boca aberta e cantando a faixa. Foi nesse momento, também, que o maior número de pessoas possível subiu no palco para pular na sequência.
“Dispatch From Mar-a-Lago” e “Shitlist” mantiveram o ambiente quente, animado e agitado da plateia. Nem mesmo no encore, momento que a banda saiu para um pequeno descanso e as luzes do palco se apagaram, o público se aquietou. Pelo contrário, os presentes não pararam de aplaudir e gritar pelo nome da banda em minuto algum da pausa. No retorno, a ovação se tornou maior com a presença das integrantes e o agradecimento de Donita Sparks.
Para a reta final a L7 trouxe “American Society”, um cover da banda de Punk Rock Eddie and the Subtitles e que ficou muito famosa na sonoridade da banda californiana. Por fim, “Fast and Frightening“, dedicada por Sparks às mulheres presentes, trouxe o último (e destacado) lampejo de energia do público que, agora mais liderado que nunca pelas moças presentes no Carioca Club, pularam novamente a todo vapor, principalmente no icônico lado dos moshs. Jennifer, feliz com a noites chegou a deixar o público da frente encostar em seu instrumento.
O fim da apresentação levou Donita Sparks a, novamente, agradecer pelo show e afirmar, sem hesitar, que aquele foi o “melhor público de todos”. E esta fala sacramentou uma noite inesquecível para a maioria dos presentes que, não obstante de verem um show da banda pela primeira vez (ou mais que a primeira), fizeram a diferença e não deixaram questões como o atraso dos horários e a baixa sonoridade das guitarras do L7 – na maior parte do show – atrapalharem uma celebração tão bonita do começo ao fim das mais de quatro horas de evento e uma hora e meia só da banda californiana.
SETLISTS
Cólera
- Duas Ogivas
- Alternar
- Minha Mente
- Por Que Ela Não?
- CDMP
- Repetição Constante
- Somos Vivos
- Palpebrite
- Humanidade
- Medo
- Dia e Noite, Noite e Dia
- Pela Paz
As Mercenárias
- Dá Dó
- Inimigo
- Meus Pais
- Há Dez Anos Passados
- Ação na Cidade
- Poder
- Labirintos
- Eu Não Consigo Mais Dormir
- Danação
- Linha do Tempo Contínuo
- Não Não Não
- Polícia
- Me Perco Nesse Tempo
L7
- Deathwish
- Andres
- Everglade
- Scrap
- Shove
- Stadium West
- One More Thing
- Integrity
- Slide
- Can I Run
- Human
- Bad Things
- Monster
- Fuel My Fire
- Fighting the Crave
- Drama
- Patricia
- Wargasm
- Dispatch From Mar-a-Lago
- Pretend We’re Dead
- Shit List
- American Society (cover de Eddie and the Subtitles)
- Fast and Frightening
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