Living Colour: 36 anos de “Vivid”, o premiado álbum de estreia

Há 36 anos, em 3 de maio de 1988, o Living Colour lançava “Vivid“, o disco de estreia dessa maravilhosa banda. E essa pérola é tema do nosso bate-papo desta sexta-feira.

Precisamos voltar um pouco no tempo para compreender o contexto que envolve o primeiro álbum desta banda maravilhosa. Formada no ano de 1984, a banda, cujo nome muitos acreditam ser uma relação com o fato de seus integrantes ser de origem afrodescendente, usou uma sacada genial para a escolha: trata-se de uma referência a uma vinheta do canal de TV estadunidense NBC, na qual a mensagem dizia o seguinte: The following program is brought to you in living colour (O programa a seguir é transmitido em cores vivas, em tradução livre). Após algumas apresentações pelo circuito underground, eis que apareceu no show deles, ninguém menos que Mick Jagger. O cara ficou tão impressionado com a performance daqueles quatro jovens talentosos e resolveu ajudá-los. Com um padrinho desses, veio um contrato com uma major, a Epic e não somente isso, Jagger participou como produtor do vindouro álbum.

Assim sendo, a banda adentrou em três estúdios: o Skyline, o Sound on Sound e o Right Track Studio, todos estes na cidade de Nova Iorque, entre o final de 1987 e o início de 1988. Além de Mick Jagger, Ed Stasium assina a produção. E saíram com essa pérola, a qual iremos destrinchar faixa a faixa.

Que tal a abertura com a clássica “Cult of Personality“? Pesada, densa e ao mesmo tempo melódica, com uma letra pra lá de inteligente. E um Vernon Reid pra lá de inspirado, tanto nos riffs, quanto nos solos. Maravilhosa. E obrigatória nos shows da banda. “I Want to Know” aposta no swing, sem abandonar o peso, com destaque para as passagens de Muzz Skillings no baixo, coisa que Dough Wimbish consegue fazer ainda melhor no palco.

Middle Man” combina o ritmo funkeado com o peso do Hard Rock, tendo um ótimo resultado. Os riffs de Vernon Reid e o baixo de Muzz Skillings formam uma sintonia quase perfeita, sem contar a quebradeira de William Calhoun na bateria. Em “Desperate People“, quem brilha é o vocalista Corey Gloover. O curioso é que a introdução não tem nada a ver com o restante da música em si, uma vez que os riffs das estrofes flertam com o Metal, guitarras pesadas e que ficam na cabeça do ouvinte muito tempo depois da audição. Fenomenal.

Em “Open Letter (to a Landlord)”, o Funk volta a sincronizar perfeitamente com o Hard Rock, tendo Muzz Skillings fazendo o baixo soar mais pesado até do que a guitarra e Corey Gloover arrebentando no vocal. Essa é outra que pertence ao grupo das clássicas do Living Colour. Chega “Funny Vibe” e sua introdução é certamente uma das melhores da banda, bem pesada. Já a música em si é tomada pelo funk, tanto no vocal rappeado, quanto no Groove da bateria, que dá uma sonoridade única.

Memories Can’t Wait” tem uma mistura perfeita de melodia e clima denso, sendo essa uma das melhores do álbum, se é que é possível fazer tal escolha neste play. “Broken Hands” é a mais lentinha, até destoando das demais. Há belas harmonias por aqui, apesar de ela quebrar um pouco o clima que vinha contagiando o play. Mas não é uma música ruim, longe disso.

Então chega o grande hit da banda, “Glamour Boys“, mais dançante, swingada, radiofônica. Ela é perfeita desse jeito que foi concebida e com uma letra crítica e ao mesmo tempo sarcástica. Quem não se identifica quando Corey Gloover canta “I ain’t no glamour boys/ i’m fierce”? Simplesmente genial!

What’s You Favourite Colour? (Theme Song)” traz novamente o Funk à tona e é bastante divertida, se concentrando mais nós versos do refrão que grudam feito chiclete. E o final, com a igualmente divertida, porém pesada “Which Way to America?“, onde mais uma vez brilha o baixo de Muzz Skillings. São 43 minutos que passam rápidos como um raio e a única vontade que sentimos é de começar a audição novamente, tamanha a qualidade das músicas e dos músicos aqui.

Em 2002, o álbum foi relançado com algumas faixas bônus: “Funny Vibe” e ‘What’s Your Favourite Colour? (Theme Song)” ganharam versões remixadas; “Middle Man” e “Cult of Personality” aparecem em exibições ao vivo, além de um cover para “Should I Stay or Should I go?“, do The Clash.

Vivid” foi muito bem recebido pela crítica e público, ganhando notas altas dos principais veículos especializados. Nos charts, alcançou a segunda posição na Nova Zelândia, 5° no Canadá, 6° na badalada “Billboard 200“, nos Estados Unidos; 16° na Noruega e 92° na Holanda. Em 1994, o álbum foi certificado com Dupla Platina nos Estados Unidos. A música “Cult of Personality” ganhou o Grammy no ano de 1990 na categoria “Melhor Performance Hard Rock“.

O álbum ainda foi citado pela revista “Rolling Stone” em duas oportunidades: em 1989 ficou em 64° na lista dos 100 melhores álbuns dos anos 1980 e em 2017 ficou em 71° em uma lista dos 100 melhores álbuns de Metal de sempre. A “Loudwire” também citou o álbum em duas listas, a primeira no ano de 2015, quando classificou “Vivid” em 33° em uma lista de 50 melhores discos estreantes de Metal + Hard Rock. Em 2016 ficou em 37° na lista dos 80 melhores discos de Hard Rock + Metal dos anos 1980. O disco ainda figura no famoso livro “Os 1001 discos que Você Precisa Ouvir Antes de Morrer“, do autor Robert Dimery.

Após o lançamento, a banda saiu em turnê como banda de abertura do The Rolling Stones. Com vídeos bombando na MTV, o sucesso foi retumbante. Em 2019, eu tive a oportunidade de acompanhar um show comemorativo dos 30 anos deste belíssimo play e a noite foi histórica, onde o quarteto mandou muito bem, tocando o “Vivid” na íntegra. Na ocasião, me surpreendeu a performance de Corey Gloover, a idade parece ter feito o cara melhorar ainda mais.

Um belo disco onde as mais variadas vertentes musicais se unem em uma combinação quase perfeita. O disco envelhece ainda melhor e para nossa sorte, temos a banda ainda na ativa, nos brindando com álbuns e apresentações épicas. Em 2022 eles estiveram no Rock in Rio e enquanto aguardamos uma nova passagem da banda por terras brasileiras, que deve acontecer esse ano, pois eles acabaram de anunciar datas por aqui, fica a sugestão de disco para ser escutado hoje. São 36 anos com corpinho de 20. Longa vida ao Living Colour.

Vivid – Living Colour
Data de lançamento – 03/05/1988
Gravadora – Epic

Faixas:
01 – Cult of Personality
02 – I Want to Know
03 – Middle Man
04 – Desperate People
05 – Open Letter (to a Landlord)
06 – Funny Vibe
07 – Memories Can’t Wait
08 – Broken Hands
09 – Glamour Boys
10 – What’s Your Favourite Colour? (Theme Song)
11 – Which Way to America

Formação:
Corey Gloover – vocal
Vernon Reid – guitarra
Muzz Skillings – baixo
William Calhoun – bateria

Participações especiais:
Mick Jagger – gaita em “Broken Hands” e backing vocal em “Glamour Boys”
Chuck D – vocal rap em “Funny Vibe
Flavor Flav – comentário em “Funny Vibe
The Fowler Family – backing vocal em “I Want to Know” e “Open Letter (to a Landlord)”

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

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