Nirvana: há 31 anos, era lançado “In Utero”

1993 foi um ano mágico, sobretudo na história do Rock: alguns dos álbuns mais icônicos nas mais variadas vertentes. Mas há 31 anos, o Nirvana era a banda que mais se destacava na cena. O sucesso do álbum “Nevermind” fez com que as expectativas para um novo álbum fossem gigantes. Assim, em 13 de setembro, era lançado “In Utero“, terceiro e último álbum do trio e que é tema do nosso bate-papo desta sexta-feira.

A banda havia virado um fenômeno mundial em vendas e como a gravadora, obviamente, pensando nos lucros que a sua atual “galinha dos ovos de ouro” (lembremos que a Geffen lucrou horrores com as vendas dos primeiros álbuns do Guns ‘N’ Roses, que naquele momento entrava em franca decadência), lançou em 1992, o álbum “Incesticide“, um apanhado de sobras de gravações, mais versões covers e lançou aos fãs. O álbum foi devorado como um boi sendo lançado a um rio lotado de piranhas. Mesmo não sendo um álbum oficial na discografia da banda, rendeu sucessos como “Aneurysm“.

Havia uma grande ansiedade de muitos para que o álbum fosse um novo “Nevermind“. A Geffen era talvez quem fizesse o maior lobby por músicas mais radiofônicas. Entretanto, as músicas do álbum que deu projeção internacional ao Nirvana, de fato, não eram propriamente do gosto, principalmente de Kurt Cobain. Basta a gente assistir aos vídeos da banda tocando as músicas deste álbum para que possamos perceber a diferença assombrosa entre como elas foram concebidas e como elas eram realmente tocadas ao vivo.

Com a agenda lotada, a banda ia compondo e sempre que tinha algum tempo, parava para gravar. Foi assim em janeiro de 1993, quando o Nirvana veio para tocar em dois finais de semana consecutivos, na edição daquele ano do saudoso festival Hollywood Rock. O primeiro show foi em São Paulo, do qual João Gordo sempre lembra, com bom humor, do rolê que deu com Kurt Cobain e sua esposa, Courtney Love. Gordo já conhecia Dave Grohl de uma outra banda que ele tocou antes do Nirvana e essa banda tocou com o Ratos de Porão. Durante a semana que separou os shows de São Paulo e do Rio de Janeiro, a banda se abrigou no estúdio da BMG Ariola e gravou uma demo. A música “I Hate Myself and I Want to Die“, que seria o título do álbum, foi gravada em terras fluminenses, mas acabou de fora do álbum. Outras 4 músicas também ficaram de fora da edição final.

O processo de gravação foi um tanto quanto turbulento. Com as novas composições, Kurt tinha perfeita consciência de que poderia perder boa parte da base de fãs conquistada com “Nevermind“, que, mais uma vez afirmamos, não era nem de longe o estilo de música que o Nirvana se propunha a fazer. Basta o ouvinte escutar “Bleach“, o álbum de estreia que ele terá a percepção do que estamos dizendo aqui. Então, quando foram “passar a limpo” as gravações feitas no Rio, eles contrataram o produtor Steve Albini, que havia trabalhado com o Pixies, banda que influenciou o Nirvana.

Então banda e produtor se reuniram em Minnesota, mais precisamente no Pachyderm Studio, em sessões que duraram treze dias apenas: de 13 a 26 de fevereiro daquele ano de 1993. Ou seja, um mês depois de a banda gravar sua demo por aqui. Como dissemos anteriormente, cinco músicas ficaram de fora do álbum, entraram treze. A música “Sappy” foi escrita e o plano inicial era colocá-la na posição de número doze do tracklist, entre as músicas “tourete’s” e “All Apologies“, mas Kurt a doou para o álbum “No Alternative“, um projeto de caridade que ajudou aos portadores do vírus HIV.

Mas Cobain não gostou do resultado final e teria sugerido a Steve Albini que remixasse, para dar maior abertura ao seu vocal e também ao baixo, o que foi prontamente recusado pelo produtor. Há também indícios de que a Geffen não teria gostado e exigido que a banda refizesse o álbum do zero, o que também foi desmentido por Kurt, que afirmou ainda que a banda tinha 100% de controle sobre a música que criava. Entretanto, as músicas “Heart-Shaped Box”, “Pennyroyal Tea” e “All Apologies” foram remixadas por Scott Litt, um atrito entre banda e produtor se criou. E muitos cravaram que, com isso, a banda havia cedido às pressões da Geffen.

Em seus 48 minutos de duração, “In Utero” é bem diferente do seu antecessor e se fosse lançado sob outro nome de banda, as pessoas sequer perceberiam. Kurt sempre dizia que a sonoridade crua e visceral que temos aqui era o que ele sempre desejou que o disco soasse e que se fosse fã, queria comprar o álbum exatamente por ser assim como ele foi concebido. Cobain trouxe coisas pessoais para suas letras, quando aborda sua relação com a fama, ou o anti-estupro, em “Rape me“, e as músicas são densas e por vezes até mesmo angustiantes. Difícil destacar somente uma música, mas podemos citar os hits “Heart-Shaped Box“, “All Apologies“, “Dumb“, “Pennyroyal Tea“. Aqui temos uma banda soando como nos primórdios, porém, mais madura e sabendo o que queria fazer. Entregaram um belo álbum.

Dave Grohl, à época baterista do Nirvana e hoje líder da banda que provavelmente é a mais importante do Rock na atualidade, o Foo Fighters, que esta semana se envolveu em uma polêmica ao anungiar o nascimento de um filho fora de seu casamento, certa vez falou sobre suas memórias com “In Utero“. E ele não gosta nem um pouco de trazer essas memórias a toma, como iremos ver mais abaixo em sua declaração dada no ano de 2021:

“É uma p*rra de um álbum dark. Eu não gosto de ouvir esse disco. É estranho para mim…Hoje ouço as músicas no rádio de vez em quando e gosto da diferença sonora de ouvir ‘All Apologies’ ou ‘Heart-Shaped Box’ no meio de um monte de músicas compactadas de rock moderno. Na rádio, elas se destacam…Mas é um álbum difícil para eu ouvir do começo ao fim. É tão real, e por ser uma representação tão precisa da banda na época, traz de volta outras memórias; meio que faz minha pele arrepiar.”

Por ser tão esperado quanto “VS.”, do Pearl Jam, lançado menos de um mês depois,  “In Utero” foi um sucesso absoluto de vendas e alcançando o topo das paradas na “Billboard 200“, Reino Unido e Suécia. Ficou em 2° na Austrália, Canadá, França, Islândia e Irlanda, 3° na Nova Zelândia, 4° na Bélgica, 5° na Dinamarca, 6° na Argentina, 7° na Noruega, 8° na Áustria, 13° na Espanha, 14° na Alemanha e Itália, 16° na Suíça e 40° na Hungria. No ano passado, o álbum alcançou o topo das paradas na Grécia. O álbum foi certificado com Disco de Ouro, vejam só, caro leitor, no Brasil, que tanto nos decepciona com música de qualidade duvidosa, mas na hora do Rock de vez em quando nos enche de orgulho. México, Alemanha, Países Baixos, Áustria, Noruega, Polônia, Espanha e Suécia foram os países onde o álbum também foi certificado com Disco de Ouro. Foi Platina na Argentina, Bélgica, França, Itália e Japão; Duplo Platina no Reino Unido e Austrália, Triplo Platina na Nova Zelândia e cinco vezes Platina nos Estados Unidos.

A Pitchfork Media elegeu o álbum na 13ª posição em sua lista dos 100 Melhores Álbuns da Década de 1990; A “Rolling Stone” em sua tradicional lista dos “500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos” colocou “In Utero” na posição de número 439. A “Blender” compilou também a sua lista dos 100 “Melhores Álbuns Estadunidenses de Todos Os Tempos” e o álbum figura na 94ª posição. A “Spin” traçou uma linha do tempo entre os anos de 1985 e 1995, colocando os cem melhores álbuns lançados neste período e o nosso trintão está na 51ª posição. E isso porque ele não foi um “Nevermind part II”.

Infelizmente o Nirvana não existe mais e Kurt Cobain pôs um fim na sua vida de maneira trágica. A banda, mesmo com pouco tempo de existência, fez história. Você pode até não gostar do estilo, mas há de concordar a importância que a banda teve em manter o Rock em evidência nos anos 1990. Eles não queriam conviver com a fama, mas conseguiram-na. Talvez Dave Grohl hoje com seu Foo Fighters saiba lidar com os holofotes e “In Utero” certamente o ajudou muito. Hoje é dia de celebrar esse discaço, clássico dos anos 1990 e que envelhece muito bem.

In Utero – Nirvana
Data de lançamento – 13/09/1993
Gravadora – Geffen

Faixas:
01 – Serve the Servants
02 – Scentless Apprentice
03 – Heart-Shaped Box
04 – Rape me
05 – Frances Farmes Will Have Her Revenge on Seattle
06 – Dumb
07 – Very Ape
08 – Milk It
09 – Pennyroyal Tea
10 – Radio Friendly Unit Shifter
11 – tourete’s
12 – All Apologies
13 – Gallions of Rubbing Alchool Flow Through the Strip

Formação:
Kurt Cobain – vocal/ guitarra
Krist Novoselic – baixo
Dave Grohl – bateria

Participação especial:
Steve Albini – guitarra em “Radio Friendly Unit Shifter”

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

One thought on “Nirvana: há 31 anos, era lançado “In Utero”

  • setembro 13, 2024 em 9:52 pm
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    Gostava do Nirvana mais ao vivo mesmo, aquela guitarra suja e bateria bem pesada…bons tempos em que via alguns shows em VHS da época!!!! Quase comprei esse disco na época, praticamente eu tinha mais era fita cassete onde pedia para a galera gravar algum album para mim…bons tempos aqueles sem internet, valeu!!!!

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