Dream Theater faz epopeia progressiva em reencontro com São Paulo

Fotos: André Tedim

Há pouco mais de um ano, o Dream Theater anunciou que Mike Portnoy se sentaria novamente na cadeira de baterista da banda, e logo na sequência, começaram a surgir datas em locais que teria a oportunidade de ver esse reencontro, e claro, o “#comingtobrazil” funcionou e uma dos principais grupos do metal progressivo confirmou sua vinda ao país e lá fomos nós nos encontrarmos com eles em pleno dezembro.

Após passar por Belo Horizonte e Rio de Janeiro, era chegado a vez de São Paulo se reencontrar com o DT, e pela primeira vez desde o retorno anunciado, se ver diante da banda e sua formação clássica.

As filas em torno do Vibra já se alongavam por voltas das 17 horas do domingo, e pontualmente com as portas abertas no horário, o saguão foi tomando sua forma, decorado até o momento com uma enorme bandeira com a arte que comemora os 40 anos de Dream Theater.

Músicas rolando no sistema de som e “Rooster” do Alice in Chains, fez parte da plateia a receber muito bem, cantando junto e ao final dessa, as luzes se apagam e o tema de Psicose, clássico de Hitchcock sai das caixas e todos os presentes sabem que este é o ponto de partida do que se seguiria pelas 3 horas adiante, com uma casa bastante cheia!

Ao final, as primeiras notas anunciam “Metropolis Pt 1” , a grande cortina sobe e lá estão nossos quatro cavaleiros. John Petrucci, Jordan Rudess, John Myung e ele, Mike Portnoy, em sua gigantesca bateria cor púrpura. Na sequência, James Labrie, o quinto elemento, aparece com o microfone em mão, para delírio dos presentes, a euforia invade o lugar todo. Som impecável, com os timbres da bateria pesados e cada instrumento podendo ser ouvido perfeitamente, assim como a voz. Arrebatando a plateia de vez, a dobradinha “Overture 1928/Strangé Dèja Vu“, do preferido de muitos, “Scenes From a Memory“, faz pessoas pularem, baterem cabeça e cantarem a plenos pulmões. Nesse ponto, já fica claro como a banda se “readequou” a sua formação clássica e o entrosamento está em ordem.

LaBrie cumprimenta os presentes e diz que atrás dele “há um homem importante sentado ali”, e é a deixa para a plateia ovacionar Portnoy, que se levanta da bateria, saúda o público e se mostra extremamente feliz por voltar ao posto. James finaliza a conversa dizendo que vão voltar no tempo, mais precisamente no disco “Awake”, e Petrucci entoa os pesados riffs de abertura de “The Mirror“. Brutalmente groovada e cadenciada, com suas inspirações no “breakdown” de “Domination” do Pantera, a música é uma das que mais causam impacto na noite. Sem dar descanso, em meio a lasers verdes, Myung puxa a introdução de “Panic Attack“. A faixa leva seu nome a sério, e é um verdadeiro caos de mudanças de tempos entre os versos e refrão, e uma ponte que se transforma completamente.

LaBrie conversa novamente com a plateia, perguntando se estão todos bem e se divertindo, e anuncia “Barstool Warrior“, a primeira da noite da era Mangini, e Portnoy respeita o compositor original da faixa, a tocando com as assinaturas deixada pelo mesmo. As luzes se apagam e somente um faixo de luz azul fica no palco, onde Petrucci e Rudess fazem uma apresentação solo que deixa os fãs mais ardorosos em polvorosa, e logo vem “Hollow Years“, do disco “Falling Into Infinity“, mas não a versão ali encontrada, e sim, a da demo de 1996, que traz alguns versos a mais. A música é um “desbunde” total de John Petrucci que faz um solo rebuscado e longo, enquanto a banda serve de “base” para que ele se esbalde em sua técnica. Hora do peso voltar a ativa e “Constant Motion” é a próxima. Na música, LaBrie e Portnoy dividem as vozes, criando uma ótima dinâmica e caindo em um refrão um tanto cativante.

Seguindo adiante, James pergunta se a plateia está pronta para o que vem a seguir e quer ver do que eles são capazes. Todos sabem então que é a hora de “As I Am“. A música ganha um ritmo mais acelerado do que sua versão de estúdio, e mostra que é facilmente uma das faixas mais queridas dos fãs do Dream Theater, e claro, todos piram com a virada de bateria ao fim do solo que faz literalmente, pessoas enlouquecerem ao presenciar isso na sua frente. É curioso ver como Portnoy exerce um transe aos mais fanáticos pelas peripécias do músico, tirando exclamações de alguns até pelo simples fato dele bater na cabeça marcando um contratempo e os seus fãs reproduzindo o gesto com um largo sorriso no rosto, ou quando veem o baterista saltando ao final de alguma música.

Hora de recarregar as baterias em um intervalo de 15 minutos, e na volta, um vídeo especial mostrando todas as capas dos discos que o Dream Theater lançou nestes 40 anos é mostrado, dando a deixa para o mais novo single “Night Terror” fazer sua estreia na capital paulista. Com pouco mais de um mês de seu lançamento, os fãs já recebem a faixa muito bem, sabendo todas suas partes e cantando o refrão a plenos pulmões. A clássica “Under a Glass Moon“, é a seguinte, e mais uma vez, com os riffs iniciais executados por Petrucci, a plateia entra em êxtase.

LaBrie se dirige a plateia mais uma vez, e diz que a próxima música é sobre você saber quem é, que nem sempre as coisas são como se espera, mas você precisa ter o controle da “p*rra da sua vida e assim ter uma vida incrível”, e então um dos momentos mais belos do show acontece. “This is the Life” é dona de uma melodia extraordinária e uma letra simplesmente, maravilhosa, e mareja alguns olhos presentes ali (incluindo os meus). A soturna “Vacant” vem logo em seguida e cria um climão palpável no local, com sua vibe dark e James dando o tom. “Stream of Consciousness” é emendada na sequência, onde é a hora do deleite do fã mais hardcore do Dream Theater, que se esbaldam na instrumental de mais de dez minutos onde cada integrante mostra o seu melhor.

Ao final, Rudess fica sozinho no palco com seu teclado, com uma iluminação especial que varia entre uma espécie de frequência cardíaca, luzes de emergência e teclas de piano. O maestro começa fazendo alguns sons aleatórios, até aquilo tudo ir tomando forma e se tornar a introdução da monumental “Octavarium”. Com seus mais de 20 minutos, a suíte passeia por montanhas russas sonoras que é o DT sem freio e sem medo de suas criações, criando aqueles momentos que se tornaram marca da banda. Sua parte mais intrincada é acompanhada por imagens psicodélicas nos telões, que causam uma verdadeira imersão nos sons que estão sendo reproduzidos. Isso coloca seu público em uma mistura de euforia, emoção e vislumbre, após toda a epopéia ser executada, gritos de “gênios” são ecoados por vozes em locais diferentes do salão.

 

A banda se retira do palco, e um vídeo de O Mago de Oz é reproduzido no telão, com Dorothy repetindo “no place like home“, e todos sabem o que vem na sequência. Petrucci reaparece no palco com os primeiros acordes de “Home”, que consegue ser ainda mais realçada quando executada ao vivo, com suas passagens longas, groovadas e cadencia muito bem amarrada. Com um jogo de luzes que realça cada momento da música, eis mais um grande momento do show. ‘The Spirit Carries On” surge logo depois, com Portnoy e James pedindo para que o público acendesse as lanternas de seus celulares e lá vamos nós para mais olhos marejados e um momento que é sem condição de se transcrever em palavras. Ao fim da música, Mike se levanta e faz uma breve prece olhando para cima, em homenagem a seu cãozinho Mickey, que perdeu a batalha para um câncer na sexta feira. Ainda não estávamos no final, e havia tempo para o ponto chave dessas quatro décadas de estrada. Questionada por fãs se merece o posto de clássica ou não, o fato é que “Pull me Under” foi a música responsável por mostrar ao mundo que existia um Dream Theater e como melhor fechar essa noite do que com essa música? Com seu refrão sendo entoado por todo o lugar, o single de sucesso encerra a noite virtuose que foi apresentada aos presentes ali.

Fazendo uma verdadeira epopeia progressiva, o Dream Theter se reencontra com São Paulo em ótima forma, com seu capitão de volta ao jogo, e mesmo após quase 3 horas de show, os fãs ainda acham pouco e já anseiam pelo retorno, que não deve demorar muito a acontecer.

Agradecemos a Liberation Music e Erick Tedesco, da Tedesco Comunicação pelo credenciamento e todo o suporte.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

2 thoughts on “Dream Theater faz epopeia progressiva em reencontro com São Paulo

  • dezembro 17, 2024 em 1:58 pm
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    Belo texto, apesar de alguns deslizes de edição, está muito bom e refletiu o show inteiro, parabéns!

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  • dezembro 21, 2024 em 9:34 am
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    Minha banda preferida há muitos anos.
    Apesar de alguns erros de redação, a ideia ficou clara e pude viajar, imaginando como foram essas 3 horas de apresentação.
    Tive a oportunidade de vê-los apenas uma vez (em 98, se não me engano), mas lembro perfeitamente do momento; os caras são simplesmente sensacionais.

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