Matanza Ritual Fest trouxe a SP mostra de bandas heavy/hard rock brasileiras de alto nível
Texto por: Metalphysicist
Fotos por: André Tedim
A aposta em festivais das bandas nacionais com maior notoriedade no ‘Rock Brasil’, que conseguem, dentro do cenário nacional, atrair público de cerca de 1.000 pessoas a seus shows – tais como o Angra Fest (resenha aqui), e o Project 46 Fest (resenha aqui) – mostrou-se, mais uma vez certeira com a passagem do Matanza Ritual Fest por SP, que ocorreu no último sábado (09).
Estes fests nacionais estão funcionando bem ao tornarem shows individuais em eventos, com presença de bandas convidadas qualificadas, propiciando para a galera que nem é tão assim ‘do metal’ conhecer outras bandas da ‘cena underground’ do Rock/Hard Nacional que valem a pena serem ouvidas por maiores audiências – e somam com o público que já é mais pra “praia do metal” que certamente conhecem todas os grupos que se apresentaram na noite.
Parabéns para a produção do Matanza Ritual Fest a cargo da Top Link que escolheu o lugar perfeito para o evento, a Audio, excelente casa de shows de SP com bastante espaço e boa organização no trânsito de pessoas, mesmo com a casa lotada e com duração de 6 horas do fest, sem intercorrência alguma e poucas filas para as ‘facilidades’ da casa.
Malvada
As novatas da Malvada, que já vêm ganhando espaço na cena Rock n Hard nacional, graças à garra que vêm demonstrando ao vivo, apostando forte no quesito performance em palco, em grande medida, abre a noite em alto estilo, com destaque para Bruna Tsuruda (guitarra), completando a formação Juliana Salgado (bateria), Marina Langer (baixo) e a nova vocalista Indira Castilho – ótima escolha para comandar os vocais da banda daqui para frente.
O curto show da Malvada é baseado em músicas de seu álbum de estreia, “A Noite Vai Ferver” (2021), tais como a música título e “Mais um Gole”, que nos apresentam uma banda em busca de sua sonoridade, flertando com um Blues Rock anos 80 em seu debut.
O caminho para a evolução musical as meninas já têm, o que fica claro quando executam a melhor música de seu set, “Bullet Proof” – que fará parte do próximo álbum da Malvada, a ser lançado pela gravadora italiana Frontiers Srl, em 2024.
BLACK PANTERA
O Black Pantera entra em palco já colocando o público pra ferver na pista da Audio, com a guitarra de Charles Gama pesando nos alto-falantes enquanto comanda a festa cantando muito bem neste final de shows de 2023, além de sua excelente presença de palco, enquanto a cozinha ora groova, ora segue os riffs nas mãos de Chaene da Gama exímio baixista e Rodrigo Pancho, encarregado da bateria , fechando um trio infernal na condução de músicas como “Padrão É o Caralho” – louvando os Orixás de matriz africana, além de outros esporros, como “Fogo nos Racistas” e “Mosha” – quando mostram mais proximidade de Bad Brains e até Living Colour quando bate no Hardcore, no álbum “Time’s up”.
O Black Pantera aproveita o Fest para tocar músicas de seu novo EP “Griô”, que são destaque nesta noite (“Dreadpool” e “UKUMKANI”) e que, pela receptividade geral, pode preparar a área que o Black Pantera vem com força total em 2024, apostando em músicas cantadas em inglês, apontando futuro promissor pela frente.
CRYPTA
Posso estar enganado, mas creio que a Crypta tenha sido a banda de Hard/Heavy Metal brasileira que mais fez shows em 2023, tendo lançado um dos melhores álbuns do ano, na minha opinião, “Shades of Sorrow”.
É justamente com a música de abertura deste álbum, “Aftermath” que a Crypta inicia seu show, criando a ambiência necessária para o ataque sonoro desferido pela banda no palco, sob o comando da autêntica Black Witch do Metal Brasileiro, Fernanda Lira, ao lado das talentosas Jéssica Falchi e Tainá Bergamaschi nas guitarras – e cabelos revoltos – completando a formação, tocando de maneira muito precisa sua bateria, Luana Dametto.
Difícil destacar momentos ou performances individuais em um show tão coeso quanto a Crypta apresentou nesta noite, contando com músicas muito bem arranjadas, como “Trial of Traitors”, “Lullaby for the Forsaken” e por aí vai.
Para o público menos acostumado com sons mais agressivos, como é o caso do Death Metal Extremo praticado pela banda, imagino que fique a impressão de que se trata de uma orquestra vinda do inferno a toda velocidade – ajuda muito ser possível ouvir todos os instrumentos no som da casa, porque muitas vezes a mesa de som não dá conta da carga de peso de bandas extremas e fica aquele som todo embolado, péssimo de ser ouvido.
Após este arregaço no palco da Audio, a banda já anunciou sua turnê pela Europa, continente no qual a Crypta sempre foi muito bem recebida, sendo um orgulho para os brasileiros contarem com o sangue nos olhos destas meninas para nos representar no exterior.
MATANZA RITUAL
Outro lance legal deste Fest foi que a alternância de bandas no palco não teve atraso, então o Matanza Ritual entrou no palco meia-noite e meia, com Jimmy London colocando todo mundo para cantar junto velhos hits do Matanza – naquela linha hardcore anos 2000 e um pouco de mezzo Motorhead e mezzo Johnny Cash, ao longo de músicas como “Tempo Ruim”, “Eu Não Gosto de Você”, entre várias outras.
Sem dúvida, os demais integrantes do Matanza Ritual, escolhidos a dedo – Amílcar Christófaro, na bateria, Antônio Araújo na guitarra (Torture Squad e Korzus, respectivamente), além do talentoso baixista Renan Campos, que substitui Felipe Andreoli (Angra) nesta noite – entregam muito mais peso para as músicas antigas, as quais, em suas versões originais, contavam com guitarras magras e potência baixa na cozinha.
Sim, você está certo se percebeu que eu não curto muito Matanza, mas a banda Matanza Ritual é muito boa de ser escutada ao vivo, ainda mais quando embalada pelo alta astral de seu público fiel. Destaco a música que abriu o show, “Morte Súbita” – cujo clipe foi lançado no dia anterior – e que já apresenta um peso e cadência bem diferentes, dando pistas de que a banda vai seguir para o lado mais nervoso do Rock, beirando o Metalcore. Vamos aguardar.
E assim, o público que lotou a Audio participou de um evento muito bem-organizado e com uma bela Mostra de Bandas Nacionais de gêneros diversos do Hard n Heavy Nacional, demostrando, mais uma vez, que o cenário nacional – com um pouco de investimento e planejamento – sustenta-se muito bem ao vivo, sem a necessidade de nomes estrangeiros para garantir venda de ingressos.