Queensrÿche e Judas Priest fazem apresentações memoráveis em show pós-Monsters of Rock no VIBRA São Paulo

Texto: Tiago Silva

O VIBRA São Paulo, localizado na Zona Sul da capital Paulista, recebeu, no último dia 20 de abril, um emaranhado de fãs de Metal que envolviam tanto os que estiveram na edição que celebrou os 30 anos do Monsters of Rock, no Allianz Parque, quanto os que não puderam presenciar o festival em questão. O motivo em comum com certeza foi a presença das bandas Queensrÿche e Judas Priest que, em casa lotada e sob produção da Mercury Concerts, fizeram um verdadeiro “after-party no dia seguinte” com a mesma intensidade e entrega do dia anterior, com shows que trouxeram um clima verdadeiramente Heavy Metal numa fria noite de Páscoa. O evento, que também contou com um pocket show acústico do Torture Squad na área externa, foi realizado pela Mercury Concerts.

A banda de abertura veio ao Brasil e finalizou a sexta passagem deles após 13 anos da anterior, no antigo HSBC Brasil (atual Tokio Marine Hall), também na capital paulista – desconsiderando o lineup organizado por Geoff Tate, um ano depois, no Monsters of Rock 2013 -. Já o Judas, em sua nona passagem  desde a estreia, em 1991 – coincidentemente, o mesmo ano da estreia do Queensrÿvche em solo brasileiro -, deu continuidade à “Invincible Shield Tour”, turnê mundial para divulgação de seu 19º disco, “Invincible Shield”, lançado em março de 2024, e em meio às celebrações dos 50 anos desde o lançamento do álbum “Rocka Rolla”, em 1974.

No palco do VIBRA, o Queensrÿche apostou em um setlist de 12 faixas focadas no primeiro EP e nos primeiros álbuns da banda, com ênfase para “Operation: Mindcrime” (1988). Houve a inclusão de duas faixas que não foram tocadas no Monsters,Breaking the Silence” e “The Lady Wore Black”, porém a banda novamente deixou de lado os sucessos “Silent Lucidity” e “Jet City Woman”. Ainda assim, o grupo trouxe sonoridade e sinergia dignos de uma banda em alta, além de ter na voz de Todd La Torre a garantia de que tudo pode ir nos conformes e com execuções instrumentais e vocais próximas (ou até iguais) às das versões de estúdio, além de tê-lo como uma peça que substituiu muito bem o vocalista anterior. Além disso, foi um show para impressionar a todos que viram a banda pela primeira vez, tal qual para aqueles que demoraram um longo tempo para ver a banda novamente.

Já o Judas Priest trouxe um pacote completo para um show de Heavy Metal, o que inclui as artes do telão, iluminação, estrutura de palco – principalmente a cruz da banda, impecável em suas aparições do alto para o palco – e, claro, da sonoridade, sinergia e energia de seus membros. E para estes últimos critérios, vale destacar o poderio de Scott Travis com a bateria, o afinamento preciso dos guitarristas Richie Faulkner e Andy Sneap, a impecável condução de Ian Hill e, claro, toda a entrega de Rob Halford que, com 73 anos, consegue manter voz, energia e presença de palco tão imponentes como em tempos anteriores. Para o setlist, o grupo selecionou 18 faixas que deram foco nas fases clássicas da banda, nos anos 70 e 80, mas sem deixar de divulgar o mais recente álbum de estúdio, “Invencible Shield” e com a única inclusão de “Saints in Hell”, que não foi tocada no Monsters of Rock.

Pré-show: Torture Squad e entrada do público

Quem chegou cedo ao VIBRA São Paulo presenciou dois acontecimentos importantes durante o tempo de espera da abertura dos portões. O primeiro foi o bar externo, que virou a concentração do “esquenta” para o show; já o segundo foi o palco montado para uma apresentação acústica da banda brasileira Torture Squad, com participações especiais a exemplo de Nando Fernandes, vocalista do Sinistra. Infelizmente, cheguei no final da última música, um cover de “Wasted Years”, do Iron Maiden, porém convicto de que tenha sido uma ótima apresentação em meio ao frio presente no bairro de Santo Amaro.

Já dentro do local do evento, os que chegaram cedo para ficar perto do palco, na pista, já estavam concentrados na região das grades. Não pareciam muitas pessoas até chegar perto daquela concentração, na pista. Já no restante da grande área e nas arquibancadas, o público chegou aos poucos, atingindo uma lotação considerável nos cinco minutos finais antes da primeira apresentação.

Às 19h55, o público foi pego de surpresa com o aumento do volume do PA e a música introdutória. Começava, de vez, uma noite mágica.

Queensrÿche

Os indicativos de que o setlist desse show do Queensrÿche seria diferente, logo de cara, vieram com a introdução ao som de “Mob Rules”, faixa do disco de mesmo nome do Black Sabbath, de 1981, da fase de Ronnie James Dio no vocal. Ela foi tocada até o início do segundo refrão, dando espaço para a segunda introdução, narrada.

Então, os instrumentistas da banda entraram no palco, aos poucos. Casey Grillo (bateria) foi o primeiro, seguido das entradas paralelas de Eddie Jackson (baixo), Mike Stone (guitarra) e de Michael Wilton (guitarra). Eles iniciaram o show, ovacionados pelo público – principalmente pelos fãs mais assíduos do Queensrÿche -, ao som da clássica “Queen of the Reich”, do EP “Queensrÿche” (1983). O último a entrar foi Todd La Torre (vocal), em caminhar enérgico e com uma demonstração clara de seu agudo afiado, levando a tonalidades de voz praticamente iguais às que Geoff Tate, em seus primórdios, atingia. A dupla de guitarristas, inclusive, também trouxe sua primeira demonstração de sinergia e poderio sonoro no solo da faixa.

Operation: Mindicrime” foi a segunda música do setlist e mais um clássico do grupo executado no palco do VIBRA. A música foi, também, a primeira das cinco a representar o álbum de mesmo nome, lançado em 1988. Nela, Todd voltou a brilhar com sua voz, assim como Mike Stone, com seu chapéu de cowboy, trouxe um solo de guitarra impactante, como na faixa original. Depois, para representar o disco “Rage and Order”, o quinteto tocou “Walk in the Shadows”, cujo refrão foi muito cantado pelos fãs espalhados na pista e nas cadeiras superiores e a sonoridade, encabeçada pelos solos divididos entre Stone e Wilton, admirada por todos os presentes.

Os membros do Queensrÿche trouxeram “Breaking the Silence”, faixa que não foi tocada na edição de 30 anos do Monsters of Rock, para este setlist. Ela começou não só com o instrumental inicial, como também com uma sequência de palmas rítmicas do público, lideradas por Todd. As linhas de bateria simples – porém impactantes – de Casey Grillo levaram a notar seus cabelos esvoaçantes devido ao ventilador instalado junto com o kit de bateria. Os fãs da banda seguiram a cantar pelo refrão desta faixa e foram mais pertinentes em todo o decorrer da música seguinte, “I Don’t Believe in Love”, numa verdadeira demonstração de realização com o show do grupo.

Todd La Torre puxou uma pequena conversa com o público ao final da quinta faixa. Além de afirmar que era muito bom estar no Brasil e se apresentar com o Queensrÿche após 13 anos – aqui, talvez, ele falasse como banda num geral, visto que as duas últimas vezes do Queensrÿche foram em 2012 e 13, sendo o primeiro caso ainda com Geoff Tate na banda e, no segundo, também em um Monsters of Rock, mas com Tate ainda com a detenção dos direitos do nome da banda -. O vocalista também se impressionou com a quantidade de pessoas que levantaram as mãos após a pergunta sobre quantos dos presentes estavam a ver a banda pela primeira vez, soltando um enfático “Holy Shit!” no microfone.

Com tudo ajeitado, o show prosseguiu com “Warning”, faixa que abre o disco “The Warning” (1984) e que veio após uma introdução de sirene. Todd mostrou mais do seu potencial vocal nesta faixa, sendo impecável do início ao fim, assim como Casey Grillo trouxe as linhas “quebradas” pela primeira vez, em quebras de ritmos tímidas, mas que colocaram o Queensrÿche como uma das primeiras bandas precursoras do Metal Progressivo. O vocalista da banda, na reta final, ainda chamou o público para gritar o nome da faixa na reta final.

Outra música que não foi tocada no Monsters, mas apareceu no Vibra, foi “The Lady Wore Black”, outro clássico do EP inaugural do Queensrÿche. Ela veio sem muitas apresentações, o que causou ainda mais surpresa ao público. Além disso, Todd La Torre teve outra faixa para se destacar e muito bem com a voz afinada para a mesma tonalidade da versão de estúdio (com Geoff). Depois, o peso sonoro foi elevado com “The Needle Lies”, com um coro absurdo dos fãs da banda, no refrão, e até mesmo uma “brincadeira” da banda, quando os membros ficaram estáticos por alguns segundos.

La Torre e Michael Wilton iniciaram “Take Hold of the Flame”, com belas linhas iniciais da guitarra e com o vocal que transitou do “doce” para um poderoso “agudo” antes do instrumental, acompanhados de heys do público. O vocalista, inclusive, andou muito no palco, de um lado para outro, chegando às extremidades para tons mais agudos. Já em “Empire”, única representante do disco de mesmo nome, de 1990, os fãs não somente comemoraram, como foram os que mais cantaram naquele momento, em meio a uma ótima execução instrumental. Todd aproveitou a música em questão para apresentar cada integrante, com destaque para as ovações a Michael Wilton, que teve seu momento de solo na faixa em questão.

A reta final da apresentação do Queensrÿche se deu com mais duas faixas. A primeira foi “Screaming in Digital”, iniciada com os guitarristas frente a frente, próximos ao kit de bateria de Casey, para um riff duplo muito bem executado. Wilton, mais solto, voltou dançando para seu posto, enquanto Todd chegou a fazer um breve Headbanging no início instrumental. 

Já a última música foi “Eyes of a Stranger”, tocada sem o indicativo de que fosse a última, mas com um início de suspense – como na versão de estúdio -, liderada pelo bater de pratos de Casey e as palmas do público presente. Mike e Michael fizeram ótimos solos finais em conjunto, assim como Todd, novamente impecável, acertou todos os timbres com facilidade, com os acréscimos, na reta final, de ser um “suporte” para o baterista na batida mais forte dos pratos e, também, em trazer um último falsete longo, agudo e infalível.

Mesmo que, novamente, os membros do Queensrÿche não trouxesse os aguardados sucessos “Silent Lucidity” e “Jet City Woman”, ambos do disco “Empire”, a impressão foi a de que o público saiu satisfeito com a segunda apresentação da banda neste retorno ao Brasil após 13 anos. Tal situação era vista principalmente após o show, com intermináveis aplausos enquanto os integrantes seguiram no palco, agradecendo. Tanto os que viram pela segunda vez naquele final de semana, quanto numa primeira e única nesta passagem, não tiveram do que reclamar além destas faixas não incluídas no setlist do segundo show. O mais importante, claro, foi perceber que, com Todd La Torre nos vocais, qualquer dúvida que envolva o impacto do membro vigente é derrubada ao vê-lo e ouví-lo ao vivo. O mesmo vale para os integrantes mais recentes e a dupla mais antiga.

O melhor de tudo é que ainda viria outra apresentação para coroar a noite.

A grande expectativa coletiva antes de Judas Priest

Os detalhes da montagem do palco para o show principal foram tanto um criador de altas expectativas, quanto um apaziguador da ansiedade dos fãs do Judas Priest. Cada espaço ou decoração montada era sinal de que o início do show estava mais próximo.

Não sei se é algo comum de acontecer no VIBRA São Paulo, mas novamente, assim como ocorreu no show de Bruce Dickinson, em maio do ano passado, o público, como uma verdadeira onda, se moveu rapidamente para frente, como se algum espaço fosse desmontado para essa locomoção ou, num caso mais realista, como se muitas pessoas diminuíssem o espaçamento nos grupos mais à frente do palco. Isso ajudou inclusive com a chegada dos mais atrasados, que estavam ao fundo.

Voltando às questões da montagem do palco, os destaques surgiram aos poucos na decoração: flâmulas com a logo da banda nas extremidades superiores, testes do telão e os ajustes para o bandeirão, maior destaque de todos estes elementos. Nele, além da capa de ‘Invincible Shield”, álbum de estúdio lançado em março de 2024, havia uma verdadeira oração do Metal, com os seguintes dizeres, linha por linha: “United we stand / Divided we fall / For one and for all / Keeping the Faith / Honour and pride / Strength in thes Bloodline / God on our side / Eternal Immortal / Metal burns bright / Lifting our horns / Ready to fight / Stand and bare Witness / With all of our might / As we raise the Invincible Shield”. Agora pense nessa bandeira sendo hasteada, como se fosse uma chamada introdutória de Star Wars. Isso prendeu a atenção do público completamente. E claro, essa bandeira não somente foi importante para este momento, como foi crucial para a abertura do show, minutos depois.

Com o fim de toda a montagem do palco e dos testes de instrumentos de corda, sobrava esperar o início do show. No PA, muitos clássicos do Rock and Roll e do Heavy Metal tocaram, com o destaque para o cantorio tímido de “Highway Star”, do Deep Purple, em meio a um teste de fumaça.

Eis que, às 21h27, as luzes do VIBRA São Paulo foram apagadas e a primeira parte de War Pigs, do Black Sabbath, foi tocada, para o delírio de um público que, de cór, sabia o que fazer: bater palmas no ritmo dos pratos e cantar, a plenos pulmões, a letra de Ozzy Osbourne. O show, assim, começou sem ao menos a banda entrar, pois o público novamente fez sua parte – e não terminaria ali.

Judas Priest

A segunda introdução, “Clarionissa”, era o padrão para a turnê e que logo passou para o começo de “Panic Attack”, faixa que abriu o show e que também inicia o álbum “Invincible Shield”.O instrumental entra com os pratos da bateria e, após um minuto e dez segundos, o bandeirão é elevado para que Scott Travis (bateria), Richie Faulkner (guitarra), Andy Sneap (guitarra) e os lendários Ian Hill (baixo) e Rob Halford (vocal) fossem revelados juntos, da base até o topo das escadas do pedestal da bateria, para alegria coletiva do público no VIBRA São Paulo. O telão mostrou uma arte de pessoas em pânico, estáticas, de modo a, de cara, mostrar que a apresentação do Judas também teria as artes do telão central e dos pequenos telões laterais do palco, além da iluminação, como fatores de destaque naquela noite.

Ainda sobre “Panic Attack”, é possível também destacar o poderio sonoro de todos os membros, numa sinergia absurda já naquele início e que seguiria por todo o show. Apenas a voz de Rob Halford ficou um pouco baixa no PA, no começo, sendo rapidamente corrigida. Naquele momento, o mais importante era a presença da banda, principalmente de Rob Halford que, com 73 anos – fará 74 em agosto -, segue enérgico e, no show, foi impecável do início ao fim.

Os membros do Judas Priest seguiram com uma verdadeira sequência de sucessos de carreira na sequência de um setlist que teve 18 faixas, uma a mais do que na apresentação do Monsters of Rock. A primeira desta quadra inicial foi “You’ve Got Another Thing Comin‘”, do clássico álbum “Screaming For Vengeance” (1982), que levou parte dos fãs a pular e quase todos a cantar a plenos pulmões, principalmente no refrão. Rob Halford ficou mais próximo dos fãs, na extremidade do palco, assim como Riche veio a brilhar no solo. No telão, imagens relativas a detalhes de fábricas e de operários em seu ritmo de trabalho.

O icônico frontman do Judas Priest saudou o público, além de rapidamente falar: “Hello, São Paulo! The Priest Is Back!”. O suficiente para um novo grito coletivo em nome da banda. Em seguida, veio “Rapid Fire”, clássico do álbum “British Steel” (1980) e que mostrou o melhor do riff dos guitarristas e da dinâmica de pedais de Scott. Richie e Andy se alinharam com Rob na frente do palco para alternar entre linhas de destaque de um, um verso de Rob, e linhas do outro. 

Sem pausas entre uma música e outra, os integrantes do Judas Priest tocaram “Breaking the Law” e elevaram a alegria dos fãs. Tal música dispensa apresentações, porém jamais se pode descartar os detalhes que levam a faixa a ser um ápice para o show do Priest: o coro ensandecido dos fãs, o icônico riff de guitarra, o timbre vocal de Rob que se mistura com a voz dos presentes e, claro, a icônica dancinha que o frontman faz com seus guitarristas, na última parte da faixa. Tudo isso com um sistema de iluminação absurdo do começo ao fim.

Para fechar a alternância entre dois dos discos mais icônicos do Judas Priest, o grupo tocou outra pedrada “Screaming For Vengeance”, “Riding on the Wind”, guiada pelas potentes linhas de bateria tocadas pro Scott no começo, solos alternados de Andy e Richie e mais uma demonstração dos potentes agudos de Rob Halford – tudo isso em meio a uma movimentação frenética de um carro numa pista de corrida, no telão. Depois, “Love Bites”, outro clássico da banda, do álbum “Defenders of the Faith” (1984), trouxe a estética em tons de vermelho para o palco, com cenas de cinema mudo e o refrão aparecendo como falas deste suposto filme, numa sonoridade um pouco mais lenta, porém permanentemente pesada em termos de Heavy Metal

O quinteto voltou para a sonoridade de “Screaming For Vengeance” com a sonoridade de “Devil’s Child”, iniciada sob um riff icônico de guitarra, enquanto Scott espera sua parte com o girar uma de suas baquetas com a mão. Uma das várias interações entre Rob Halford e Richie Faulkner veio nesta faixa, quando o frontman observou, de pertinho, o guitarrista solar perfeitamente na faixa. O baterista do Judas fez questão de finalizar a faixa, momentos depois, com ótimas viradas de conclusão.

Saints in Hell” revisitou a fase setentista da banda, a destacar o riff tocado por Richie, acompanhado do ritmo de pedal que Scott Travis fez de pé, antes do instrumental geral. No telão, uma animação que mostrava possíveis anjos, com a vestimenta religiosa e aréolas, caminhando pelo inferno e observando mãos saindo da terra, corvos, morcegos, demônios e outras figuras em meio a uma caminhada pelo terreno.

O retorno breve para as faixas de “Invencible Shield” ocorreu com “Crown of Horns”, iniciada sob um riff distorcido e muito bem conduzida pela banda por um todo, a destacar os solos de Richie e as dancinhas de Rob Halford ao longo da faixa. Depois, “Sinner” veio como única representante de “Sin after Sin” (1977), iniciada com Richie no centro do palco, exclusivamente iluminado para uma introdução de guitarra encerrada com ele a segurando no alto e sendo aclamado pelo público. A faixa, por um todo, veio numa sonoridade mais pesada até que na versão de estúdio da faixa, em termos de linhas mais graves e fortes, além de um Rob afinado e alternando bem entre cantos normais e versos mais agudos – a destacar o último falsete -. No telão, a cruz que simboliza a banda apareceu sob animações de explosões e cortinas de fogo. Andy Sneap, inclusive, teve seu momento de destaque ao fazer um ótimo solo após Richie.

Richie Faulkner teve a função de chamar o público para bater palmas após a faixa anterior. Foi a forma perfeita para receber mais um clássico do Judas Priest, “Turbo Lover”, ilustrado por imagens de pistão de veículos que faziam o coração de ferro bater fortemente ao longo de uma música que também teve o acompanhamento fiel do público, que não deixou de cantar um verso sequer.

Rob Halford aproveitou a pausa mais longa da banda para fazer um bom discurso e se conectar ainda mais com os fãs. Ele saudou a todos ao beber água no fundo do palco e, quando foi para um dos cantos frontais, ainda encarou a câmera com uma faceta positiva durante os gritos de Metal God. Em sua fala, Halford se mostrou feliz em voltar ao Brasil e relembrou a última passagem do Judas Priest, em 2022, quando tocou como headliner do palco secundário da edição de estreia do Knotfest Brasil. Além disso, afirmou que ama o país e que tem diversas lembranças.

Para finalizar o discurso, Rob ainda relembrou o público sobre esse período, que também celebra os 50 anos de Judas Priest, além de soltar um verdadeiro grito de guerra que, a cada frase, foi acompanhado de heys e de punhos ao alto do público. 

Com isso, a apresentação deu sequência com a poderosa “Invincible Shield”, do álbum de mesmo nome, guiada pela velocidade dos pedais de Scott, linhas de guitarra poderosas e das alternâncias entre vozes mais graves e as mais afinadas de Rob. A estrutura móvel que imita a cruz do Judas Priest desceu pela primeira vez e ficou à mostra durante o poderoso solo de Richie Faulkner, subindo na volta de Rob ao palco. Um momento para impressionar e alegrar o público novamente e, também, retomar a energia da apresentação.

Outro clássico do Judas Priest foi “Victim of Changes”, do disco “Sad Wings of Destiny” (1976), iniciada sob um solo duplo dos guitarristas e logo emendada para o riff. Foi mais uma das faixas bem conduzidas pela banda por um todo, pondo à prova o poderio vocal de Rob, muito bem executado, e dando um novo momento de destaque para Richie e seu solo. Além disso, Glenn Tipton, guitarrista afastado da banda devido aos impactos do Mal de Parkinson, foi homenageado pela banda e aclamado pelo público em sua aparição.

Rob Halford voltou a interagir com os fãs, num “momento Freddie Mercury” feito ao executar alguns timbres vocais e fazer com que o público repetisse. Foi o prenúncio para o início de “The Green Manalishi (With the Two Prong Crown)”, cover da banda Fleetwood Mac que foi gravado pelo Judas para o álbum “Killing Machine” (1979). As imagens deste manalishi apareceram no telão em meio a diversas animações de textura e a iluminação predominantemente verde no palco.

Chegou, então, um dos momentos mais esperados daquela noite. Para finalizar o primeiro grande bloco de músicas, Scott Travis assumiu momentaneamente o microfone para não somente saudar o público, como também para perguntar o que eles queriam. A resposta foi uníssona por duas vezes: “Painkiller!”. A réplica do baterista não poderia ser outra: a visceral introdução de “Painkiller”, outro clássico de alto panteão não somente do Judas Priest, como do Heavy Metal por um todo, do disco de mesmo nome, lançado em 1990. A catarse foi coletiva, com coros absurdos principalmente durante o refrão da faixa e, claro, um Rob Halford extremamente afiado no vocal, somado a um Richie Faulkner poderoso na guitarra. 

A última pausa foi curta, dando tempo de o público engatar os gritos em nome da banda, ao mesmo tempo que os gritos do público da grade de “olê olê” não atingiram a todos. O importante, acima de tudo, é que ainda haveria tempo para mais sons do Judas Priest.

Do nada, a introdução “The Hellion” tocou no PA, sendo o prenúncio para que a cruz da banda descesse novamente para “Electric Eye”. Tanto a intro quanto a faixa anteriormente citadas são do álbum “Screaming For Vengeance” e também não poderiam ficar de fora. O coro do público, novamente forte, teve o acompanhamento de um instrumental perfeito da banda e das animações do olho elétrico, envolto por um satélite espacial. 

Naquele momento, ainda faltavam duas músicas, mas também uma performance amplamente esperada: a entrada de Rob Halford ao palco com sua Harley Davidson. E isso aconteceu em “Hell Bent for Leather”, com direito ao ronco do motor da moto diretamente no PA, Rob vestido com a icônica jaqueta de couro e boina e cantando em sua moto e, também um instrumental novamente impecável do começo ao fim. O frontman do Judas Priest também interagiu com Andy Sneap, durante o solo de Richie, brincando com uma espécie de chicote no qual ele fingiu bater no guitarrista-base. Mais um pacote completo de performance no palco!

Aquela noite de páscoa foi tão icônica que o final ainda parecia longe. No entanto, era o momento da última faixa da noite, “Living After Midnight”, outro clássico de “British Steel” que trouxe o público junto com pulos e os últimos coros nos refrões, além dos gritos de “Loaded” quando preciso. Um final de show icônico para uma banda com mais de 50 anos de estrada!

Ainda sobrou tempo para o público retribuir a apresentação com aplausos e os últimos coros em nome da banda. A retribuição dos integrantes veio com palhetas, baquetas, setlists e acessórios que pudessem jogar, além dos gestos corporais de gratidão evidentes até a saída de cada membro. O último foi Rob Halford, que parecia não querer sair do palco e, se possível, seguiria em apresentação. Ele recebeu uma bandeira personalizada do Brasil, com a logo do Judas Priest e, num momento fofo, também recebeu uma tiara com orelhas de coelho, no qual colocou, posou e saiu feliz com elas. Todos saíram do VIBRA como verdadeiros vencedores por isso e por todo o evento, ao som de “We Are the Champions”, do Queen.

Ao todo, Queensrÿche e Judas Priest – com menções honrosas ao pré-show acústico do Torture Squad – fizeram um verdadeiro evento para todos os presentes no VIBRA São Paulo, com cada membro entregando o melhor de si no palco e com todos bem retribuídos por um público em estado total de celebração. O Judas, claro, fica como destaque maior por todo o aparato sonoro, visual e simbólico que a banda tem e que, claro, faz com que seu público seja fiel a toda situação de presença. E não foi diferente desta vez. A Páscoa foi ainda mais alegre com o Judas Priest. Ou Judas PrEASTER, se me permitirem o trocadilho.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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