Noite de Hard Rock romântico reúne grandes vozes em SP: Foreigner, Eric Martin e Soto
Texto: Daniela Reigas
Fotos: André Tedim
A beleza do rock é justamente a sua variedade de subgêneros, que agradam públicos diversos e também se encaixam em momentos diferentes da vida dos ouvintes. Um excelente exemplo disso foi visto no sábado, dia 10, até por quem não é adepto do estilo, mas estava passando pela capital paulistana, mais especificamente na região da Barra Funda: de um lado, no Allianz, tínhamos um estádio lotado de milhares de fãs vibrando com o new metal barulhento e escrachado do System of a Down, e do outro, no Espaço Unimed, muitos rockeiros de gerações mais antigas e muitos casais apaixonados curtindo as baladas românticas e hits que marcaram época com o Foreigner, que faz passagem única no país em sua Farewell Tour, encerrando o circuito latino-americano.
A noite começou com os norte-americanos já quase naturalizados brasileiros Eric Martin e Jeff Scott Soto, cada um apresentando sucessos de suas carreiras individualmente e depois cantando juntos, numa série de shows que vêm apresentando como “Double Trouble”. A banda que acompanha ambos é simplesmente a competentíssima nacional SPEKTRA, formada por Leo Mancini (guitarra/backing vocals), Edu Cominato (bateria), BJ (guitarra, teclado e vocais) e Henrique Canale (baixo).
Pontualmente às 20:30h, as luzes se apagam e Eric (ex-MR. BIG), que havia se apresentado uma semana antes com o Avantasia no Bangers Open Air, chega cumprimentando e convidando a todos para essa essa grande noite, iniciando com a enérgica “Daddy, Brother, Lover, Little Boy”. Em seguida, nas primeiras batidas da bateria, todos já identificam uma das mais famosas canções do Mr. Big – “Take Cover”; BJ e Léo complementam muito bem os vocais. Eric comenta que o público paulistano está parecido com o do Japão, numa referência à maneira como os japoneses costumam ser bastante contidos em apresentações de rock, apenas balançando a cabeça e eventualmente batendo palmas, sem excessos. Mas a participação melhora um pouco com “Wild World”, cover de Cat Stevens que explodiu na voz de Martin nos anos 90, onde todos cantam o “lalalala” e balançam as mãos ao alto ou abraçam seus pares. Dando seguimento, “Shine”, com um Eric passeando de um lado a outro do palco enquanto Léo performa o solo; e após apresentar os colegas de palco, o bloco se encerra com “Green-Tinted Sixties Mind”, com destaque para BJ nos teclados marcantes. Se retirando brevemente, o próprio Eric convoca o amigo Soto para dar continuidade.
O moreno chega trazendo novidade e abre o set com um trecho de “This House Is on Fire”, lançamento do supergrupo W.E.T., do qual faz parte e divide os vocais com Erik Mårtensson (ECLIPSE), emendada com “I’ll be Waiting”, de sua época no TALISMAN (infelizmente, a única dessa banda a figurar no set). A primeira pode não ter soado familiar a boa parte do público, mas a segunda sim fez o povo cantar junto. Em seguida, o cantor faz um medley de duas canções de sua passagem na discografia do guitarrista alemão Axl Rudi Pell, ”Warrior” e “Fool Fool”. Desta vez, não foi incluída nenhuma música da sua era com o guitarrista Yngwie Malmsteen. Soto chega a anunciar que fariam “Alive”, canção de uma banda a qual lamenta que não esteja mais na ativa, Sons of Apollo – no entanto, ocorre alguma dificuldade técnica devido à música estar em afinação diferente das demais, e ela acaba sendo cortada do set. O cantor comenta ainda, sobre a grande atração da noite, que sua criança interior está orgulhosa e ansiosa por estar abrindo o show do Foreigner, a qual ouviu muito em sua adolescência. Mesmo tendo gravado com tantas outras bandas e projetos, Soto opta por fazer dois covers bem conhecidos do público, uma versão rockeira de “Crazy”, do cantor britânico Seal, e “Separate Ways”, dos tempos em que excursionou com o Journey. Movido a “caipiroskas”, Soto elogia a participação do público em bom português: “do car@lho, vocês são fod@!”. É hora de Eric voltar ao palco para fazerem “Livin’ the Life”, cover do Steel Dragon, onde Soto propõe uma brincadeira no meio da música: primeiro ele, depois Eric, e então todo o público deve cantar o refrão-título. “Você quer me f*der”, comenta Eric. O encerramento, claro, ficou por conta de outro grande hit do Mr. Big que todo mundo sabe cantar: a melosa “To Be With You”. Assim, ambos agradecem, se despedem de vez e todos os músicos vão se retirando do palco para dar lugar à montagem do setup do Foreigner.
Às 22h então, o som ambiente se silencia e os holofotes indicam a entrada de Bruce Watson e Damon Fox (ex-BIGELF, ex-THE CULT) nas guitarras, Jeff Pilson (ex-DOKKEN, ex-DIO) no baixo, Michael Bluestein nos teclados, Chris Frazier (WHITESNAKE, ex-STEVE VAI, outros) na bateria e finalmente, Luis Maldonado (ex-GLENN HUGHES, outros) no vocal. Esse line-up foi um tanto quanto surpreendente para alguns, pois não se sabe exatamente a razão de Kelly Hansen não ter se juntado ao grupo nessa turnê. Mesmo trazendo o membro original Lou Gramm, este já havia anunciado sua aposentadoria no ano passado e expressado que nem todas as músicas que gostaria de cantar foram aceitas pelo grupo para integrar o setlist; dessa maneira, sua participação seria pontual e não como frontman.
Mas Luis sem dúvida tem uma baita presença de palco como cantor principal e a banda, entrosadíssima, já chega com a energia lá em cima e distribuindo sorrisos, iniciando com “Double Vision”. Jeff mira seu baixo para a plateia e faz caras e bocas, incitando todos a extravasarem junto com ele. Na sequência, em “Head Games”, destaca-se o guitarrista Bruce, uma figura, que de longe chega a lembrar um Brian May mais animado. Luis agradece a calorosa recepção e comenta que ouviu dizer que os brasileiros são o público mais barulhento em shows, e desafia a plateia a comprovar o boato, sendo prontamente atendido e arrancando palmas do cantor. Antes de partir para a próxima música, ele agradece ainda toda a equipe, como operadores de luz e som e técnicos de palco, sem os quais não seria possível realizar uma apresentação de tamanha qualidade. Sem mais delongas chega o hit “Cold as Ice”, que demonstra bem as habilidades de todo o time – praticamente todos cantam, encorpando o som; Jeff vai para o teclado à frente do palco, enquanto Michael fica encarregado do solo nos teclados e sintetizadores mais ao fundo e Damon assume o baixo. Após aplausos, já emendam outra favorita dos fãs: “Waiting for a Girl like you”. A execução é tão perfeita que parece que estamos ouvindo o CD, deixando claro como a banda alcançou o patamar em que se encontra, e a união de técnica e feeling é a chave para uma experiência satisfatória por completo.
Luis anuncia que a próxima é a sua favorita do repertório e que quem vai puxá-la é Mike (Michael); “That was Yesterday”. De fato, é uma música que exige bastante do vocal, mas Luis não se intimida nem um pouco.
“O Foreigner é uma banda de rock. Estamos aqui pra agitar vocês. A próxima faixa é sobre ninguém mais, ninguém menos do que Elvis Presley, o Rei do Rock”, diz Luis, antes de começarem “Dirty White Boy”. Luis divide a pista em dois “times” para batalharem quem canta mais alto o refrão e todos se divertem bastante.
“Essa próxima música começou tudo, lá em 1977, e é a razão pela qual estamos aqui até hoje”, falando, é claro, de “Feels like the first time”. Luis brinca com a guitarra de Bruce e ao final, Chris atira suas baquetas, provavelmente já desgastadas, ao alto.
Efeitos especiais de fumaça dão o toque de tensão necessário em “Urgent”, na qual de destaca a performance de Michael com um keytar. Ao término dessa faixa, ele retorna à sua posição padrão para mandar um impressionante solo, quase erudito, afinal sua formação é de piano clássico; logo Chris retoma a bateria e é sua vez de brilhar sob os holofotes num solo enérgico. Para mostrar versatilidade, ambos fazem ainda uma jam dançante. Tudo isso enquanto alguns ajustes são feitos no palco, por exemplo a colocação de um segundo pedestal e microfone ao centro: está chegando a participação mais ilustre da noite. Com a iluminação ainda baixa, vão retornando os outros integrantes e então chega Lou Gramm, com seus cabelos brancos e semblante sereno, sendo imediatamente recebido com aplausos e gritos da plateia. Para o último bloco, temos “Jukebox Hero”, uma verdadeira festa. Damon sola uma guitarra Flying V, Lou complementa a percussão com um cowbell e Luis pega um pandeiro. Apesar de ficar mais quietinho e sóbrio, afinal, está no auge de seus 75 anos, Lou mostra que sua voz e técnica estão bem conservadas. O cantor agradece e pergunta “Estão prontos pra mais um pouco de rock?” e com a resposta positiva dos fãs, vem a curta e objetiva “Long, long way from Home”.
Os músicos trocam de instrumentos e se ajeitam para o ápice da noite – a esperada canção que, recentemente, bateu simplesmente a incrível marca de 1 bilhão de reproduções nas plataformas de stream: “I Want to Know What Love Is”. É emocionante poder prestigiar o criador da canção atemporal que rendeu ao grupo sua marca no Rock’n’Roll Hall of Fame. Os fãs acendem as lanternas dos celulares e balançam as mãos ou batem palmas, cantando em uníssono o belo refrão.
Agradecendo a presença de todos, a banda encaminha o fechamento em ritmo bem hard rock com “Hot Blooded”, e somos ainda presenteados com uma excelente performance de Luis na guitarra (que afinal, era o instrumento primário do músico).
A definição de “rock star” é exatamente o que os membros do Foreigner, Spektra/Soto & Martin mostraram nessa noite: não é apenas trajar um look chamativo e estiloso, mas sim trazer a energia vibrante, o espírito jovial e o amor à música, enaltecendo o poder que ela tem de atravessar gerações e mover multidões.
SETLIST
Double Vision
Head Games
Cold as Ice
Waiting for a Girl Like You
That Was Yesterday
Dirty White Boy
Feels Like the First Time
Urgent
Solo de teclado
Solo de bateria
Juke Box Hero
Long, Long Way From Home
I Want to Know What Love Is
Hot Blooded
Legal. Muitas dessas bandas marcaram muito por causa de seus hits, posso citar Scorpions, Guns, Foreigner e muitos outros. Abraços
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