Resenha: Luna Kills – “Deathmatch” (2025)

Em meio a um cenário saturado de fórmulas recicladas e apostas seguras, o Luna Kills chega com os dois pés na porta em “Deathmatch”, um disco que não tem medo de arriscar — e acerta em cheio. Com influências que vão do nu-metal ao pop alternativo, passando por batidas eletrônicas, refrãos explosivos e aquele clima nostálgico do início dos anos 2000, o álbum entrega intensidade emocional e força bruta em doses iguais. Lançado pela parceria entre a Nuclear Blast e a Shinigami Records, este é o tipo de estreia internacional que não passa despercebida.

Logo de cara, a abertura com “love u” mostra ao que veio: um turbilhão energético com guitarras limpas, vocais rasgados e um refrão que gruda feito chiclete na memória. É daquelas faixas que te pegam pela gola e só soltam no final. A frase “I wanna love you like we’re in a movie” sintetiza bem o espírito do disco: direto, emocional, visual. O apelo lírico e melódico transforma a faixa em um verdadeiro hino de identificação.

A já conhecida “Leech”, lançada anteriormente como single, mistura peso e delicadeza com maestria. Os vocais de Lotta Ruutiainen brilham em todos os registros — frágeis nos versos, ferozes nos gritos. O tema da saúde mental ganha destaque aqui, fazendo da faixa um desabafo visceral. Na sequência, “Sadist” desacelera o ritmo com uma levada mais atmosférica, realçada por batidas eletrônicas e um refrão melódico que cresce em camadas, acompanhado de um groove de baixo impecável.

“Sugar Rush” é provavelmente a faixa mais acessível e radiofônica, flertando com o pop moderno sem abrir mão da identidade da banda. Há ecos do som técnico e melódico do Polyphia, mas com personalidade própria. O uso inteligente de elementos eletrônicos e melodias doces faz da faixa um ponto de equilíbrio interessante no meio da tempestade sonora.

“hallucinate” mergulha em climas densos, quase hipnóticos, evocando Deftones em sua mistura de distorção e sensualidade. Os vocais em camadas criam uma atmosfera onírica e inquietante, que transforma a música em uma viagem emocional. O mesmo vale para “Waves”, onde a influência de Silent Planet é sentida, principalmente no uso cuidadoso de elementos eletrônicos. Aqui, a produção brilha ao integrar esses detalhes à estrutura da canção, contribuindo para uma experiência coesa e envolvente ao vivo.

Com versos em finlandês, “get mad” surpreende até mesmo fãs antigos. A alternância entre o idioma local e o inglês não só mostra ousadia, como também reforça o orgulho de origem. Musicalmente, é uma montanha-russa: começa com leveza quase alegre e mergulha em riffs pesados e um solo de guitarra de Samuli que impressiona pela precisão e feeling. É provavelmente a faixa mais peculiar e ousada do disco.

Na reta final, “burn the world with me” entrega drama e tensão, como se pertencesse à trilha de um épico futurista. O refrão tem um peso cinematográfico, enquanto a performance de Jimi na bateria explode com uma fúria controlada, reafirmando a solidez da formação atual da banda. E então, para encerrar com chave de ouro, vem “Fever Dream” — uma balada tocante e honesta, em que Lotta mostra toda sua capacidade interpretativa. A comparação com Nick Cave não é exagerada: ela canta com alma, e a emoção transborda em cada verso.

No todo, “Deathmatch” é mais que um disco — é uma declaração de identidade. O Luna Kills mostra que sabe onde quer chegar e, mais importante, como chegar lá. Com um som que combina peso, melodia, atitude e vulnerabilidade, a banda finlandesa se firma como uma das promessas mais sólidas da cena alternativa europeia. Este é o tipo de álbum que faz você querer ver a banda ao vivo, pular no mosh e depois chorar no carro a caminho de casa. Altamente recomendado — e sim, tocado no volume máximo.

NOTA: 7

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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