Green Day em Curitiba e uma noite inesquecível de punk rock e catarse

Texto: Matheus Wittkowski

Quase três anos após sua última passagem, o Green Day fez um triunfante retorno ao Brasil, incendiando os palcos de São Paulo e Curitiba. Na capital paranaense, onde a banda não se apresentava desde 2017, a expectativa era palpável, e o trio californiano não decepcionou. No dia 12 de setembro, a Arena da Baixada se transformou em um caldeirão de energia, com 33 mil fãs vibrando e cantando a plenos pulmões, testemunhando uma noite que se gravaria na memória como inesquecível.

O setlist da noite seguiu de perto a estrutura da turnê mundial, mas não sem suas particularidades. As habituais adaptações nas letras, como a icônica “The representative from Brazil has the floor” em “Holiday”, marcaram presença, reforçando a conexão da banda com o público local. Contudo, a verdadeira surpresa da noite veio com a inclusão de “Church on Sunday“, música do álbum Warning (2000), tocada pela primeira vez nesta turnê.

A banda demonstrou mais uma vez sua maestria em cativar a plateia, que já estava em êxtase com o rock acelerado dos britânicos Bad Nerves, a banda de abertura. Minutos antes do Green Day subir ao palco, se inicia o ritual pré-show da banda, convidando o público a cantar o hino do rock “Bohemian Rhapsody“, do Queen, um momento mágico de união. Em seguida “Blitzkrieg Bop” toca acompanhada pela figura do “coelho bêbado”, um personagem já conhecido das aberturas da banda. O esquenta culminou no mashup de “The Beautiful People“, “Marcha Imperial” e “We Will Rock You“, elevando a temperatura da Arena para o que viria a seguir.

O pontapé inicial do show foi dado com talvez o maior clássico American Idiot, com Billie Joe Armstrong fazendo questão de reiterar a mudança na letra, “I’m not part of a MAGA agenda“, em uma clara crítica ao governo Trump. A sequência de hits seguiu com a energia de “Holiday” e a interatividade de “Know Your Enemy“, música em que Billie Joe tradicionalmente convida um fã sortudo para subir ao palco. O bloco de sucessos foi completado pela melancolia vibrante de “Boulevard of Broken Dreams“.

Em um mergulho em sua discografia mais recente, a banda apresentou “One Eyed Bastard“, antes de embarcar em uma viagem no tempo. “Revolution Radio“, faixa-título do álbum de 2016, ecoou na arena, e “Church on Sunday” de Warning (2000) foi recebida com surpresa. O público foi então transportado para a era Dookie, a obra-prima inquestionável da banda, com a execução impecável de “Longview” e “Welcome to Paradise“.

A jornada musical continuou com mais hits dos anos 90, período em que o Green Day solidificou seu nome na história do punk rock. “Hitchin’ a Ride” abriu caminho para a já costumeira reverência às lendas do Black Sabbath, com Billie Joe tocando o icônico riff de “Iron Man“. A agressividade contida e visceral de “Brain Stew“, “St. Jimmy” e “Dilemma” manteve o ritmo acelerado, contrastando com a versão encurtada de “21 Guns“.

Na reta final do show, a catarse dos hits que moldaram gerações tomou conta. “Minority” trouxe a tradicional apresentação dos integrantes da banda, seguida pelo combo de “Basket Case“, “When I Come Around” e “Letterbomb”, levando a plateia ao delírio. A emoção aflorou em “Wake Me Up When September Ends“, um dos momentos mais contemplativos da noite, onde a união de vozes da multidão criou uma atmosfera quase sagrada. Este instante de introspecção preparou o público para o épico “Jesus of Suburbia“, cantado do início ao fim em uma demonstração impressionante de devoção dos fãs.

Terminando com a grandiosidade que um bom setlist merece, o já clássico “Bobby Sox” veio para quebrar (quase) tudo, com uma catártica explosão de confetes verdes que coloriram o ar quente da Arena, em ebulição com o calor do público, da banda e das chamas que irrompiam por todo o palco. Com o show quase encerrado, Tré Cool eliminou qualquer possibilidade de bis quebrando seu kit de bateria – um gesto que encapsula perfeitamente a energia intensa e caótica que representa o trio. 

Por fim, o Green Day se despediu de Curitiba com o clássico “Good Riddance“, um momento de tirar lágrimas. A banda saiu do palco com a certeza de que os fãs naquela noite tiveram “a noite de suas vidas”, assim como a própria banda. Como Billie Joe Armstrong declarou, foi a melhor apresentação que já fizeram no país, solidificando ainda mais o amor entre o Green Day e seus fervorosos fãs brasileiros.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *