Anneke van Giersbergen e Marko Hietala encantam com noite acústica e repertório musical misto em São Paulo

TEXTO POR: Tiago Pereira 

FOTOS: Isis Trindade (Em cobertura para o site Sonoridade Underground)

Na noite do último sábado (07), a multi-instrumentista holandesa Anneke Van Giersbergen e o ex-baixista e vocalista da banda finlandesa Nightwish, Marko Hietala, se apresentaram no Teatro Bradesco, na Zona Oeste de São Paulo, pela turnê “Six Strings and a Voice”. Os dois músicos, acompanhados do guitarrista Tuomas Wäinölä – parceiro e integrante do projeto solo de Hietala -, tocaram um setlist composto por três atos e 21 faixas em duas horas e meia, com covers de artistas renomados e faixas de grupos no qual participaram ao longo da carreira. O show foi fruto de uma parceria entre a startup de comunicação HonorSounds e a Dynamo Brazilie.

A apresentação acústica do trio encantou o público presente e, em diversos momentos, foi além do âmbito musical, com comentários dos músicos antes e após cada faixa tocada, momentos cômicos e interações e diálogos com uma plateia pontualmente reativa e que chegou a aplaudir de pé os músicos até antes do final do espetáculo. Os fãs presentes, em sua parte, tentaram diálogos com Marko Hietala e van Giersbergen e tiveram respostas – engraçadas ou não – ao longo da apresentação. E num geral, não viram o clima chuvoso do lado de fora do Shopping Bourbon – e do teatro – como um empecilho para comparecer ao evento. Em termos musicais, a ausência de mais faixas do Nightwish, sobrepostas por covers de projetos de Ozzy Osbourne, foi um ponto que pode ter sido negativo para os fãs mais assíduos da banda presentes.

A organização do local, mesmo com poucas funcionárias que guiaram os pagantes aos assentos, foi crucial para o início do show com o mínimo de atraso possível – ao todo, dez minutos. E diferentemente de um show de pista, a apresentação acústica em um teatro – e com assentos – permitiu uma experiência de visão de palco adequada para todos os presentes que, sem dificuldades, conseguiram gravar momentos desejados e assistir sem alguma obstrução da visão.

O início se deu após três avisos para que o público se sentasse e uma passagem de merchandisings dos eventos futuros no local. Marko Hietala e Tuomas Wäinölä entraram no palco sob uma chuva de aplausos, saudaram o público e abriram o primeiro bloco com a faixa “Stones”, do álbum “Pyre of the Black Heart”, de 2020 – versão em inglês do álbum “Mustan sydämen rovio”, lançado em 2019 em finlandês. “Isäni ääni”, do mesmo álbum solo, foi a faixa seguinte.

Marko Hietala, então, introduziu o primeiro de dez covers apresentados ao longo do show: a faxia “Crazy Train”, de Ozzy Osbourne, antecedeu comentários sobre a influência que Ozzy e o Black Sabbath tiveram em sua vida. No decorrer da música, Tuomas começou com um pequeno solo e, no riff, teve a plateia como seu suporte com as palmas ritmadas.

 

Na sequência, “Holy Diver”, cover da banda Dio, trouxe mais ritmo ao público. Tuomas Wäinölä animou os presentes com o solo em violão e o batuque feito com o instrumento após um enfático “Don’t Talk To Strangers” solto por Marko no final da música. Hietala finalizou com saudações a Ronnie James Dio (1942 – 2010).

A última faixa de Mako Hietala em seu projeto solo, na apresentação, foi “Two Soldiers”. Esta estará em seu segundo disco, previsto para lançar em 2024, segundo o que o próprio cantor mencionou na apresentação. A condução vocal da dupla trouxe boas impressões ao público presente que, agora, aguarda a versão de estúdio da faixa.

Antes do início e “Children of the Grave”, cover de Black Sabbath, Hietala fez duras críticas ao presidente da Rússia, Vladmir Putin, e aos seus atos em um contexto de guerra contra a Ucrânia. Num momento, chega a desejar que os boatos sobre Putin de estar com câncer sejam reais. Ao final da música, em um dos momentos mais descontraídos da apresentação, um fã aproveitou que uma das cadeiras da frente do palco estava vazia e desceu. Muito provavelmente foi dele o grito de “Gostoso”, direcionado para Marko, que reage positivamente. Poucos segundos depois, este fã grita “Toca Raul” e Hietala, surpreendentemente – mas em tom de brincadeira -, responde, em português: “ponha no c*”.

O final do primeiro ato marcou a transição dos artistas. Houve o anúncio de “Child of Babylon”, cover da banda Whitesnake, e a ênfase dada por Marko Hietala sobre a primeira vez em que ouviu a música. Junto ao comentário, o cantor saudou Bernie Marsden (1951 – 2023), guitarrista e compositor que faleceu em agosto deste ano e foi membro da formação original da banda, e agradeceu aos fãs pela presença. Pouco após o início da faixa, Anneke van Giersbergen entrou no palco, se posicionou na cadeira vazia ao meio e foi ovacionada pela plateia que, parcialmente, se levantou para continuar com os aplausos ao final da faixa e após uma demonstração vocal de alto calibre de Marko e Anneke, além do backing vocal de Tuomas.

A cantora holandesa se apresentou ao público no Teatro Bradesco e relembrou a promessa de que voltaria a se apresentar junto de Marko Hietala. Anneke foi enfática ao afirmar que ama se apresentar no Brasil e que ama o público local. Os músicos finlandeses saíram momentaneamente de cena, com Marko Hietala brincando que ele e Tuomas “procurariam por cocaína e mulheres no backstage”.

Anneke van Giersbergen, sozinha no palco, abriu o segundo bloco com “Lo and Behold”, oitava faixa de seu terceiro álbum solo, “The Darkest Skies Are the Brightest” (2021). Na sequência, tocou “Saturnine”, primeira faixa da banda The Gathering, na qual cantou entre 1994 e 2007, e pertencente ao álbum “if_then_else” (2000). E foi justamente nela que uma fã, na parte superior da plateia, repetiu um verso tão perfeitamente quanto a cantora, o que tirou momentaneamente sua concentração com risos misturados à tentativa de cantar a faixa e os aplausos da plateia, que não se irritou com a atitude da espectadora. Não demorou e ela recompôs a concentração e seguiu totalmente afinada – algo que não perdeu nem mesmo no momento de riso.

A cantora holandesa seguiu a apresentação com “Valley of the Queens”, cover de Ayeron, projeto do multi-instrumentista e cantor Arjen Anthony Lucassen e que Anneke atuou em faixas de dois dos dez álbuns de estúdio, além de três álbuns ao vivo. Em seguida, vieram a autoral “I Saw a Car”, em que Anneke dialogou com um fã sobre o contexto da composição da faixa, e “The May Song”, faixa cantada por ela nos tempos de The Gathering.

As duas últimas músicas do segundo bloco foram “Cloudbusting”, cover da cantora Kate Bush, e “Hurricane”, faixa autoral de seu mais recente álbum solo. Na última, um fã chegou a pedir mais sons recentes de Anneke algo que ela não pôde contribuir por conta do tempo. Ela, no entanto, prometeu um retorno em breve ao Brasil. E foi na mesma faixa em que, no meio dela, a cantora fez questão de pedir aplausos da plateia, tendo uma resposta calorosa.

O retorno de Marko Hietala e Tuomas Wäinölä marcou o terceiro bloco, o único com os três músicos no palco por completo. Uma trinca de covers deu a partira para a parte final do show, passando por “Catch the Rainbow”, da banda Rainbow; uma generosa introdução de “Wave”, de Tom Jobim, por parte de Tuomas – e aonde um dos jornalistas presentes fez questão de cantar algumas partes –, seguida de “Wasted Years”, do Iron Maiden; e por “I See Fire”, de Ed Sheeran, cuja introdução de Anneke destacou que a faixa foi composta para o filme “O Hobbit: A Desolação de Smaug”, de 2013.

Na reta final, os três músicos tocaram “Strange Machines”, faixa da banda The Gathering, aonde o público voltou a bater palmas no ritmo de uma música; “The Islander”, única faixa cover da banda Nightwish no show, proveniente do álbum “Dark Passion Play” (2007) e que Marko toca de instrumento pela primeira vez; e “Perry Mason”, cover de Ozzy Osbourne.

Ao final, a plateia aplaudiu de pé e, com o incentivo dos três músicos, pediu mais um som. Nessa altura, poucos espectadores saíram do teatro ou por conta do horário – que beirava as 23h30 -, ou por realmente acharem que a apresentação tinha se encerrado. E, assim, veio “The Sound of Silence”, cover da dupla Simon & Garfunkel, com uma carga emocional forte por conta da letra e um encerramento de um repertório que extraiu o melhor das vozes de Marko Hietala e Anneke van Giersbergen, além do melhor das habilidades de Tuomas Wäinölä com o violão.

Mesmo com a ausência de mais faixas do Nightwish, o público presente no Teatro Bradesco não deixou de dar respostas positivas à performance impecável de Marko, Anneke e Tuomas, seja pelos aplausos – rítmicos ou de encerramento -, seja com as interações de fãs mais extrovertidos e mais próximos do palco. O único problema daquela noite, de fato, foi a chuva em São Paulo, que de nada atrapalhou na ida ao local, mas foi o desafio para a volta para casa.

Veja o Setlist Completo:

Primeiro ato – Marko Hietala acompanhado de Tuomas Wäinölä

  1. Stones (Marco Hietala)
  2. Isäni ääni (Marco Hietala)
  3. Crazy Train (cover de Ozzy Osbourne)
  4. Holy Diver (cover de Dio)
  5. Two Soldiers (Marco Hietala)
  6. Children of the Grave (cover Black Sabbath)
  7. Child of Babylon (cover de Whitesnake e com participação de Anneke van Giersbergen)

Segundo ato – Anneke Van Giersbergen

  1. Lo and Behold (Anneke van Giersbergen)
  2. Saturnine (The Gathering)
  3. Valley of the Queens (Ayeron)
  4. I Saw a Car (Anneke van Giersbergen)
  5. The May Song (The Gathering)
  6. Cloudbusting (cover de Kate Bush)
  7. Hurricane (Anneke van Giersbergen)

Terceiro ato – Anneke, Marko acompanhados de Tuomas

  1. Catch the Rainbow (cover de Rainbow)

Introdução com “Wave” (cover de Tom Jobim)

  1. Wasted Years (cover de Iron Maiden)
  2. I See Fire (cover de Ed Sheeran)
  3. Strange Machines (The Gathering)
  4. The Islander (Nightwish)
  5. Perry Mason (cover de Ozzy Osbourne)

Encore

  1. The Sound of Silence (cover de Simon & Garfunkel)

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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