Apocalyptica faz apresentação histórica para poucos fãs no Rio de Janeiro
Fotos: Paty Sigiliano
Os finlandeses do Apocalyptica desembarcaram no Rio de Janeiro para uma apresentação histórica. Menos de um ano depois de ter sido uma das atrações da primeira edição do Summer Breeze Brasil, em 2023, eles retornaram para quatro shows em nossas terras e o RJ ficou com a missão de abrigar a última data do quarteto. O local escolhido não poderia ser outro, o Circo Voador, na Lapa, reduto da boêmia fluminense e o bairro mais democrático da cidade, por onde estilos tão heterogêneos, se não chegam a se misturar, ao menos convivem pacificamente.
Ao chegarmos, a triste constatação que já se tornou uma realidade em shows no Rio de Janeiro: pouquíssima gente. E não há muitas desculpas para isso, a não ser o valor um tanto quanto elevado para o ingresso (R$190 a meia). É bem verdade que a cidade está cheia de outros eventos, como os bloquinhos pré-carnavalescos, mas que nem de longe, rivalizam com uma banda de Heavy Metal, ou Cello Metal, como os finlandeses se rotulam. É muito triste ver a cidade do Rio de Janeiro com tantos shows esvaziados. Público, nós temos. Há um mês atrás, o Angra lotou esse mesmo Circo Voador. E o Apocalyptica tinha tudo para encher o local novamente, já que a Lapa é um lugar de fácil acesso e o horário também ajudou, pois o concerto terminou bem cedo, dando a possibilidade de os fãs conseguirem pegar o metrô, por exemplo. Aliás, fica aqui a crítica social, não dá para compreender como a segunda megalópole do Brasil pode ter um sistema de transporte público tão medonho. Se você está na rua depois das 23:00 e quiser voltar pra casa, não tem metrô, porque este fecha mais cedo aos domingos e feriados. Até o calor que era insuportável nos últimos dias, também deu uma trégua, mas nem isso fez o headbanger carioca deixar sua casa. Seria exagero dizer que o show flopou, mas poderia ter enchido mais.
Com pontualidade britânica, os quatro cavaleiros finlandeses subiram ao palco, exatamente às 20:00, tocando “Ashes of Modern World“, uma música densa e que ao vivo fica fantástica. A seguir eles emendaram com “For Whom the Bell Tolls“, que provocou frisson nos presentes (ou seria mais correto chamar de “testemunhas”, aqueles que se dispuseram a vir?). Nada como o absoluto frenesi causado com a quarta música do set, “Refuse/Resist“, que ficou ótima, o ponto alto do show, sem sombra de dúvidas. Aliás, não há a possibilidade de alguém conseguir estragar essa música, nem mesmo o baterista substituto, Mikko, sem demonstrar a mínima intimidade com as batucadas imortalizadas por Igor Cavalera (o moço é bastante técnico em seu instrumento, diga-se de passagem). O público cantou “Sepultura! Sepultura!” ao final da música.
O vocalista mexicano Erik Canales subiu ao palco e cantou “I’m Not Jesus” e “Not Strong Enough“. Ele voltaria ao palco mais tarde para cantar mais duas canções, incluindo um pedacinho de “Killing in the Name“, do Rage Against The Machine. O moço tem uma voz bastante potente e afinada, realmente agradável de se ouvir, mas, a graça do Apocalyptica é vê-los tocando músicas instrumentais, do jeitinho que eles começaram a fazer, há quase trinta anos. E nas músicas sem vocal, a experiência é inenarrável, caro leitor. Os caras realmente sabem como colocar em prática a palavra “show” e a entrega foi total. O público retribuiu com aplausos e até um pouco de histeria coletiva.
O som estava absurdamente perfeito e a experiência de se assistir uma banda que promete (e cumpre) tocar Heavy Metal utilizando violoncelos. Os músicos se mostravam felizes em cima do palco, fazendo uma coisa única. Sim, sabemos que várias bandas incluem melodias sinfônicas em sua sonoridade, mas nenhuma ousou e inovou como o Apocalyptica. Claro que não faltaram as famosas versões para “Nothing Else Matters” (cantada em uníssono pelos presentes e que teve uma performance única por parte da banda), “Inquisition Symphony“, que foi outro arregaço e tudo virou festa quando eles tocaram “Seek & Destroy“, com direito a intro de “Enter Sandman“, que fez o público desta vez gritar pelo nome da banda até que eles retornassem para mais duas canções, com direito a improvisações e brincadeiras entre os integrantes.
Em uma hora e meia de apresentação quase perfeita, todos saíram extasiados do Circo Voador. A banda ainda fez um discurso ao final, falando que este ano será lançado o novo play e desejando que todos voltassem bem para casa e que tivessem uma noite maravilhosa. E depois deste belo concerto, não tem como a pessoa ter uma noite ruim. Ao fã que deixou de ir, uma reflexão: não adianta reclamar que os shows são vão para São Paulo, quando os poucos que se têm por aqui são esvaziados. A força da cena começa por cada um de nós, indo aos shows, seja no underground, seja no mainstream. Foi uma noite memorável, que alguns poucos afortunados poderão bater no peito e dizer com orgulho que estiveram lá.
Setlist Apocalyptica:
Ashes of the Modern World
For Whom The Bell Tolls
Grace
Refuse/Resist
I’m Not Jesus
Not Strong Enough
Rise
En Route to Mayhem
Shadowmaker
I Don’t Care
Nothing Else Matters
Inquisition Symphony
Seek and Destroy
Farewell
Peikko