Batushka traz o além do sagrado e do profano para São Paulo
Texto: Metalphysicist
Fotos: Anderson Hildebrando
O Vip Station contou com casa lotada nesta noite, e os fãs presentes tiveram a oportunidade de assistir ao Black Metal avante-gard do Batushka, que se destaca não apenas pelo som inusitado praticado pela banda, mas também pelos Sagrados Rituais de povos arcaicos, que ocorrem desde tempos imemoráveis, antes de Cristo e da fé cristã dominarem boa parte da Europa. A parir daí, com base na crença no Nazareno, a Igreja Católica denominou pagãs todas as seitas que não louvavam a Cristo, e o resto é História.
Bom, esse é o papo da banda que, para ajudar, cantam num tipo de polonês arcaico, então a melhor coisa a se fazer num evento como esse é desencanar das letras e se conectar com a vibe do show.
Bandas de abertura
Apesar da revolta e desabafo de Alex, por entender que o Metal do Brasil nunca é valorizado pelos bangers daqui; e outros ‘trem’ que me pareceram um tanto ufanistas. Porra, a música é uma fonte de igualdade entre povos. Esse tipo de papo é perigoso, porque faz surgir fundamentalistas no Brasil, tal como ocorre com os europeus extremistas – que se recusam ao diálogo e só incitam ódio ultranacionalista. Será que não é melhor evitar ou deixar de lado este tipo de discurso, que só traz polêmica e separatismo? Eu penso que sim.
Bom, agora que eu também desabafei … segue o bailão para consagrar tudo que é escroto, pantanoso e repugnante que nos une mundo afora.
Por sinal, hoje tiveram a oportunidade de tocarem com casa cheia um monte banda que, graças a esta oportunidade, puderam mandar ver em suas apresentações, sendo todas elas ovacionadas pelos presentes, graças a uma nova onda de Black Metal que vem surgindo de tudo que é canto do planeta; que continue assim.
Infelizmente não cheguei a tempo para assistir aos shows do Shaytan, Spiritual Haze e Amazarak. Se não foi desta vez, tenho certeza de que, em um futuro breve, estarei presente aos shows dele para fazer uma resenha.
Paradise in Flames
Não conhecia a sonoridade da banda, que tem uma pegada bem Black Metal Sinfônico que me agradou de ponta a ponta – que show foda!
A única coisa é que a banda precisa de um palco maior para ter espaço para todos os integrantes da banda: A.Damien – (Vocal e Guitarra ; SJ.Bernardo – bateria ; G.Alvarenga – Vocal e teclado, R.Aender – baixo, O.Mortis – Vocais
Os músicos tiveram que se amontoar um pouquinho, mas se apresentaram feito gigantes do estilo – sou suspeito para falar, porque eu adoro um Black Sinfônico. E os músicos nesta noite entregam tudo o que têm.
Não há como destacar um membro da banda, melhor focar nas músicas, sendo peculiar o fato de terem três vocalistas em ação, além da excelente presença de palco, chamando atenção o contraste /operístico x vocais extremos/, típicos de bandas deste segmento.
Vale muito a pena dar uma conferida no Paradise in Flames ao vivo, ou, ao menos procura-los no Spotify, e desfrute as composições irrepreensíveis da banda, em sons como “Black Wings” e “Reasons to Not Believe” e depois me fala se curtiu.
Krisiun
O último show que assisti do Krisiun foi no Cine Joia – logo que comecei a trampar aqui na Confere Rock – e naquela noite o clima era de festa e celebração, cheio de músicos de banda como Ratos de Porão presentes, e por aí vai.
Não que aquele show tenha sido ruim, longe disso, mas os irmãos, Moyses, Max e Alex estavam bem descontraídos, tomando uns goró e tal.
Já no show de hoje, a banda evocou outro tipo de demônio, com os músicos concentrados em esmerilharem seus instrumentos, tocando diversas músicas de seu repertório, com Alex tomando um tempo para conversar com seus fãs, agradecendo a todo momento a todos e, com seu carisma raivoso e de poucas ‘palavra’ os fãs presentes estão em êxtase por estarem por lá nesta noite aplaudindo nossos Deuses do Death/Extreme Metal, o que era de se esperar, porque é difícil de encontrar mundo afora uma banda tão intimidadora e sangue nos olhos do que o Krisiun entrega no palco.
Alex pediu para o público abrir o mosh pit e é logo atendido pelos, em sons como “Scourge of the Enthorened” e “Vengeance´s Revelations”. Já com o público em suas mãos, a banda vai partindo para o final do set com as indefectíveis “Black Force Domain” e “Blood of Lions”, cantadas por todos os fãs presentes (até eu tive que dar um tempo no meu bloco de notas para banguear) diante deste rolo compressor que é o Krisiun ao vivo.
Como eu disse, Alex já tinha mandado os gringos para caralha, porque a produção dos gringos estava exigindo que a banda saísse do palco na hora delimitada. Enquanto Max queria encerrar o show na hora, Alex, que já estava puto com essa parada, fez questão de falar para Max meter seu solo de bateria antes da última música do set – o cara toca para caralho, impossível explicar em palavras o que Max toca em seu instrumento. O Krisiun sai ovacionado do palco, sem e sem abrir mão de uma música sequer, para o desagrado da produção do evento.
A primeira parte da noite estava encerrada e, se querem saber, boa parte do público estava lá para ouvir Krisiun e não necessariamente a banda ‘principal’, sendo que boa parte dos presentes estavam meio sem saber como fazer para banguear no show do Batushka, conforme segue.
BATUSHKA
Levou um tempo para os roadies darem conta de deixar o palco do Vip Station do jeito, para receber a rapaziada da Polônia, com todo o necessário para que a Missa do Batushka tivesse início. Já conheço a banda há algum tempo, se não me engano, fiz uma review para o álbum deles, cujas músicas recebiam apenas a numeração em numerais romanos: I, II, III .. e segue a contagem. Achei excelente a ideia da banda, já que é impossível traduzir as letras das músicas – todas cantadas em polonês juntado com umas línguas arcaicas.
Os integrantes da banda – por de trás dos mantos negros e máscaras pretas que trazem um tom escuro, sorumbático, tornando impossível de serem distinguidos – por detrás das máscaras brigam pra caralho entre eles, desde o nome da banda, incluindo outras tretas e etc.
Só sei que, pelo que apurei no set.list, o show desta noite teve 11 músicas executadas de maneira irretocável pelos membros desta noite: A formação conta com Барфоломей (vocais) e Христофор (guitarra, baixo e vocais), Jatzo (bateria), P. (guitarra), Artur Rumiński (guitarra), Błażej Kasprzak (vocais).
Como é um Culto Pagão, repleto de cenários e movimentos lentos de seus integrantes, tudo é executado em respeito ao Ritos Arcaicos das civilizações nórdicas da Europa, a fim de reverenciar seus Deuses, abrindo um verdadeiro ‘congá’ no palco (palavra de origem africana. utilizada na umbanda para denominar o altar. onde ficam localizadas as imagens), com direito a candelabros, que são acesos à frente do púlpito, junto a outros pendulicários e imagens de santidades cristãs que estão de ponta cabeça). Nesse tipo de ritual é melhor assisti-lo parado e com atenção à liturgia proposta pela banda, de acordo com suas particularidades.
Para quem nunca foi a um gira de umbanda, o show começa com os vocalistas de fundo de palco defumando o palco e toda a casa de espetáculos, antes de acender alguns incensos em respeito às divindades nórdicas que o Batushka faz descer em São Paulo, nesta noite gelada, bem propícia para um rezo desses.
Quando você vai num gira, a melhor coisa que você deve fazer é se concentrar no som do atabaque e deixar porra toda fluir de boas. Pois, acho que por isso, comecei a interagir com o som dos caras pela bateria, que era o instrumento que regia o ritual desta noite. E que batera! O cara toca com precisão e quebradas de ritmo que vão dando a tônica dos cantos gregorianos, por vezes atropelados por grunhidos do vocalista, que é tipo um Papa dos inferno.
Fiquei mais nessa pegada de prestar atenção na percussão, a fim de não me perder durante os cantos do hinário desta noite. Claro que a conexão com os fãs é praticamente nula, mas ainda assim, os manos são carismáticos. Difícil de explicar e aproveito para destacar também as linhas das duas guitarras tocadas com esmero pelos caras e que, por vezes estão em quinta e, quando dão mais amplitude para a ambiência, unem-se em guitarras gêmeas.
O set é composto por duas partes, com a música “Pismo I” fazendo a ponte. Aliás foi somente na próxima música, “Prismo II” que me liguei que não havia baixista no palco. Isso é certo, agora, de onde estava vindo o som do baixão, fica como mais um mistério desta noite. O show caminha ao seu fim entre o caos que rege o som Black avant-gard Metal em contraste com a postura serena dos maluco no palco que, para manter a coerência com todo o show, saem fora sem despedida ou selfies com o público presente.
Quem entendeu o recado, soube aproveitar este show de Black Metal avante-garde sem precentes, ao menos para mim.
O Batushka atualizou a significação de Missa Negra em meu sistema.