Ney Matogrosso volta ao Rio para colocar seu bloco na rua

Texto: Carlos Monteiro
Fotos: Paty Sigiliano

Com gritos entusiasmados de “Ney, eu te amo”, o cantor performático de incríveis 83 anos foi recebido neste sábado (25) como patrimônio musical, às 21h40 de um Qualistage cheio, dando início a mais um show da extensa turnê “Bloco na Rua”, que começou na cidade há seis anos e já passou até pelo Rock in Rio, em setembro último.

A figura esguia, coberta por uma malha dourada que deixa apenas o rosto de fora e cheia de brilhos, chega amparado por um instrumental potente e logo emite sua voz límpida, entoando “Eu uero é Botar Meu Bloco na Rua”, de Sérgio Sampaio, dando início a um desfile de sucessos já famosos na sua voz e obras de outros artistas.

O rock tem presença importante na carreira de Ney, como mostram as duas seguintes canções do repertório. As versões para “Jardins da Babilônia” (Rita Lee / Lee Marcucci) e “O Beco” (Herbert Vianna), mesmo adaptadas para seu estilo, mantêm a potência sonora, ainda mais asseguradas por uma banda de respeito formada por Sacha Amback (direção musical e teclados), Marcos Suzano (bateria e percussão), Felipe Roseno (percussão), Dunga (contrabaixo e vocal), Tuco Marcondes (guitarra e vocal), Aquiles Moraes (trompete e flugelhorn) e Everson Moraes (trombone).

Outros grande destaque da apresentação é “Pavão Mysteriozo” (Ednardo) em que as famosas coreografias de Ney, com seus rebolados e rodopios, são incrementadas por uma imitação de asas abertas ao levantar e esticar os braços acima da cabeça, imitando o pavão do título. Mais um momento em que a plateia vai à loucura.

Em seguida, um novo momento do show se inicia com canções mais calmas, começando pela bela “Tua Cantiga” (Chico Buarque) e também “A Maçã” (Raul Seixas) e “Iolanda”, versão em português também de Chico Buarque, em parceria com Simone.

O visual do show é outro espetáculo à parte, com cenário de Batman Zavareze, videografismo por Eduardo Souza e vídeos adicionais de Luiz Stein. A iluminação, aspecto em que Ney é especialista e supervisiona de perto, pontua belamente cada momento do show, comandada por Juarez Farinon e Arthur Farinon.

O espetáculo de 1h20 de duração parece ter uma duração ainda maior, graças à sua qualidade, mas o fim começa a se aproximar com o clássico “Sangue Latino”, da época dos Secos e Molhados, que fecharia a primeira parte do show. No entanto, Ney pergunta à plateia se, em vez de sair para o bis, ele pode continuar no palco e fazer logo tudo. Ao que a plateia responde positivamente, ele alerta, brincando: “Mas depois que eu fizer tudo não me chamem mais”.

Vem então a última sequência, com a singela  “Como Dois e Dois” (Caetano Veloso) e a impactante “Poema” (Ney), seguidas da clássica “Balada do Louco”, dos Mutantes. O rock volta ao final do show com a sua versão para a apoteótica “Pro Dia Nascer Feliz”, de autoria de Cazuza, de quem foi muito próximo.

Público em êxtase ao fim do show, Ney agradece com sua banda à frente do palco, se retira e acaba voltando uma última vez, mas para alertar: “Nós, combinamos, certo? Vim só dar um último adeus”. E se despede de vez, saindo de modo ligeiro do palco, com uma leveza que só os maiores de 80 que viveram uma vida plena a serviço da arte conseguem ter.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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