Brujeria: 29 anos do lançamento de “Raza Odiada”

Há 29 anos, em 22 de agosto de 1995, o Brujeria lançava “Raza Odiada“, o segundo álbum desta cultuada banda e que, claro, será tema do nosso bate-papo por aqui.

Para entender o Brujeria, precisamos voltar ao ano de 1993, quando o álbum de estreia foi concebido. “Matando Güeros” causou uma surpresa agradável. No momento, não se sabia das verdadeiras identidades de seus integrantes. Tudo que se sabia era que se tratava de uma banda formada por narcotraficantes que eram procurados pelo FBI e que por isso não poderiam mostrar suas identidades, sob o risco de serem presos. Pura curtição com todos.

Com Asesino, que depois descobriríamos se tratar do guitarrista Dino Cazares, na produção, o álbum fora gravado e lançado pela Roadrunner Records. Na capa, ao invés de uma brutal cabeça decaptada, fora escolhido um modelo: trata-se do subcomandante Marcos, porta-voz do Movimento Zapatista, no México, Desta vez, a banda deu uma polida no seu som, sem deixar de lado o peso e mantendo a agressividade, além do teor de suas letras, que continuariam a tratar de imigrações ilegais, tráfico de drogas, satanismo e revolução. Vamos então discorrer sobre as 15 faixas que compõem este verdadeiro petardo:
Raza Odiada (Pito Wilson)” abre o trabalho com riffs muito pesados embalados em um Grindcore de alta qualidade. A letra é uma crítica ao político estadunidense Pete Wilson, que apresentou uma proposta contra a imigração ilegal e uma outra relativa a segregação racial. Os caras mostravam que não a proposta da banda não era apenas satirizar as coisas. Belo início. Jello Biafra participa desta música, fazendo a voz de “Pito Wilson“, no início.

Colas de Rata” traz a mesma podridão sonora do disco antecessor, aquele Grind pútrido. Já “Hechando Chingazos” (Grenudos Locos III) é a faixa mais trabalhada do play e uma das que mais me agradam. Ela decorre de maneira mais cadenciada e de certa forma até grooveada. Excelente.

La Migra (Cruza La Frontera III)” é o hit da banda, vamos assim dizer. A letra, claro, trata da imigração legal. A música tornou-se famosa aqui no Brasil, muito em virtude de João Gordo, quando VJ na MTV ajudou a promover o videoclipe. A música tem uma levada Punk bem legal, além de divertidíssima.

Revolución” é muito pesada e tem nos riffs de Asesino e na bateria de Grenudo, inspirado no seu bumbo duplo, os seus guias. A letra trata do apoio ao exército Zapatista. Outro ponto alto do play. “Consejos Narcos” tem ótimas linhas de guitarra, com riffs assombrosos em uma letra que como o título sugere, é uma ode às drogas (zoação, não é a banda incentivando o tráfico de entorpecentes), sobretudo maconha e cocaína. “Almas de Venta” tem uma pegada bastante influenciada pelo Napalm Death, sobretudo nas partes mais rápidas, o que não é nenhuma surpresa, pois temos um integrante dos reis do Grindcore às escondidas aqui. E não falta brutalidade nas partes mais arrastadas. Sonzão.
La Ley de Plomo” chega com Asesino caprichando nos riffs pesadíssimos e Grenudo acompanhando no seu bumbo duplo. A letra retrata bem como é a vida de quem se mete com o tráfico de drogas: a lei é na base da bala, como sugere o próprio título. Outro petardo deste play, que fez sucesso com seu videoclipe exibido pela MTV nos Estados Unidos.

Los Tengo Colgando (Chingo de Mecos II)” é rápida e ríspida durante a maior parte, com direito a uma breve quebra no andamento para inserção de partes grooveadas. No mais, o pau come solto aqui. As próximas duas faixas são as mais curtas do álbum, ambas com 1 minuto e 15 segundos: “Sesos Humanos (Sacrifício IV)” é bem Death Metal, rápida e também bastante violenta, enquanto que “Primer Meco” tem riffs mais modernos, indícios do direcionamento que o Brujeria tomaria posteriormente.
A faixa a seguir é a mais engraçada do disco, talvez, a mais engraçada da história da música extrema: e ela atende pelo nome de “El Patrón“. E nem precisa ser um gênio para saber que a música se refere a Pablo Escobar, que era chamado de “O patrão”. A letra exalta o que o “padrinho dos pobres” fazia pelos seus e ao final temos um vocalista emocionado como se estivesse a chorar pela perda de Escobar. É no mínimo hilário. Musicalmente ela traz riffs de guitarras bem arrastados, juntamente com muito Groove. Excelente.

Hermanos Menéndez” é suja e arrastada, até que no meio ela ganha uma velocidade absurdamente surpreendente, voltando a mesma pegada inicial para seu encerramento. A letra trata dos irmãos Lyle e Erik Menendez. Em 20 de agosto de 1989 eles mataram os próprios primos em Beverly Hills e na época o caso foi bastante explorado pelas emissoras de TV locais. Imagine, caro leitor, se existisse um programa como Cidade Alerta aqui nesta época.

Padre Nuestro” tem breve momento de velocidade em sua intro e ela vai se desenvolvendo mais cadenciada e pesada, para terminar bem Grindcore como no começo. “Ritmos Satánicos” encerra o play que era excelente. Uma música que em seus seis minutos, tem mais da metade somente de introdução, que além de longa, traz um clima melancólico. E após todo este tempo, o vocalista recita a letra, enquanto barulhos desconexos de guitarra soam ao fundo. Não é o fim que o álbum merecia. Mas também não coloca o trabalho a perder, porque o restante é muito superior.

Em 40 minutos temos um discaço que supera em muito o antecessor, tanto do ponto de vista técnico, de produção e qualidade das composições. A banda começava a ganhar popularidade, mas ainda assim, eles se recusavam a fazer apresentações ao vivo, pois, lembre-se, eram “narcotraficantes procurados pelo FBI”. E até que era legal esse anonimato que os caras mantiveram por um bom tempo. Se bandas como O Slipknot e o Ghost fizeram um suspense com relação às identidades de seus músicos, com certeza absoluta foram influenciados pelos caras do Brujeria, que eram vanguardistas.

Quase trinta anos depois do lançamento deste belo álbum, o Brujeria tem se mantido na ativa, com algumas mudanças, mas com a mesma pegada sarcástica e sonoridade em estado bruto. Infelizmente perdemos recentemente o grandioso Pinche Peach, mas sua obra está eternizada e hoje é dia de celebrar esse álbum que caminha para de tornar um trintão.

Raza Odiada – Brujeria
Data de lançamento – 22/08/1995
Gravadora – Roadrunner

Faixas:
01 – Raza Odiada (Pito Wilson)
02 – Colas de Rata
03 – Hechando Chigasos (Greñudos Locos
04 – La Migra (Cruza La
Frontera III)
05 – Revolución
06 – Consejos Narcos
07 – Almas de Venta
08 – La Ley del Plomo
09 – Los Tengo Colgando (Chingo de Mecos III)
10 – Sesos Humanos (Sacrificio IV)
11 – Primer Meco
12 – El Patrón
13 – Hermanos Menéndez
14 – Padre Nuestro
15 – Ritmos Satánicos

Formação:
Juan Brujo – vocal
Pinche Peach – vocal Asesino (Dino Cazares) – guitarra
Güero Sin Fe (Billy Goud) –
baixo/ guitarra
Fantasma – baixo/ voz
Hongo (Shane Embury) – baixo/ guitarra/ bateria
Greñudo (Raymond Herrera) – bateria

Participação especial:
Jr. Hozicón (Jello Biafra) –
Voz, interpretando “Pito Wilson”

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

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