Rage Against The Machine: 28 anos de “Evil Empire”

Há 28 anos, em 16 de abril de 1996, o Rage Against the Machine lançava “Evil Empire“, o segundo disco da carreira desta banda que é a que melhor entendeu o que é o Rock ‘n’ Roll, com seu discurso anti-imperialista e em favor das causas sociais. Esse discão é assunto do nosso bate-papo nesta terça-feira.

A banda vinha do aclamado disco de estreia, autointitulado, que rendeu notoriedade imediata ao quarteto, além de explodir em vendas, sendo certificado com Discos de Ouro, Prata e Platina em diversos países mundo afora. Era uma difícil missão superar o primeiro lançamento, eles tinham ciência disso. Assim sendo, todos se reuniram no Cole Rehesal Studios, em Los Angeles, Califórnia, na companhia do produtor Brendan O’ Brien, que vinha de ótimos trabalhos com o Pearl Jam e Rush. Eles ficaram trancafiados por lá entre março de 1995 e fevereiro de 1996 para sair com esse petardo.

O título do álbum é uma referência ao discurso que o presidente estadunidense Ronald Reagan fez para a Associação Nacional dos Evangélicos, no ano de 1983. Ele usou o termo “Evil Empire” para se referir à antiga União Soviética e também afirmar que o país era “o foco do mal no mundo moderno”. Precisamos lembrar que na ocasião, vivíamos a Guerra Fria, onde o mundo se dividiu em dois blocos, o capitalista, liderado pelos Estados Unidos e o socialista, liderado pela então União Soviética, que era composto pela Rússia e os países que hoje são “independentes” como por exemplo, Ucrânia, Azerbaijão, Moldávia, Belarus, Turcomenistão, entre outros adjacentes.

O Rage Against the Machine apostava em uma sonoridade diferente de suas bandas contemporâneas. Na década de 1990, o Heavy Metal entrou em um ocaso, assim como as bandas de Hard Rock. Nos primeiros anos, as bandas do chamado movimento grunge emergiram com força, mas a banda de Tom Morello e Zack de la Rocha atacavam na vertente alternativa, com vocais de rap e alguma influência mais pesada. E na época do lançamento do aniversariante do dia, eram as bandas pós-grunge e Poppy Punk quem mandavam. Mas o RATM por fazer diferente, se consolidou. Muito ajudou também a temática da banda e a consciência de classe dos caras. Uma das músicas, “Without a Face“, inclusive, tem uma história contada por Zack de la Rocha falou sobre a letra, durante uma apresentação ao vivo em 1996. Aspas para o líder da banda;

“Parece que assim que o muro na Alemanha caiu, o governo dos EUA estava ocupado construindo outro na fronteira entre os EUA e o México. Desde 1986, como resultado de muito discurso de ódio e histeria que o governo dos Estados Unidos tem falado, 1.500 corpos foram encontrados na fronteira. Nós escrevemos essa música em resposta a ela.”

Para escutar o Rage Against the Machine, é preciso estar em sintonia com as ideias pregadas pelo grupo, pois se o ouvinte vive em um mundo paralelo, além de não entender nada da mensagem dos caras, vai discordar, usando argumentos rasos como os dos defensores do atual dublê de Presidente da República. Vamos sem mais delongas passear pelas onze faixas que estão presentes aqui.

People of the Sun” abre bem o álbum, trazendo riffs hipnóticos aliados as belas linhas de baixo nas estrofes e ganhando peso no refrão que cola feito chiclete. Já “Bulls on Parade” pode facilmente ser considerada a segunda melhor música do RATM, perdendo apenas para a inigualável “Killing in the Nane“. Aqui, Tom Morello usa e abusa do efeito wah-wah e tal qual a faixa anterior, o refrão é igualmente pesado. Ponto também para o baixista Tim Commeford que colabora com seu Groove, deixando tudo ainda mais perfeito.

Em “Vietnow” o Groove dá as caras e a quebradeira é geral, quem se destaca aqui é o baterista Brad Wilk com boa condução em seu kit e viradas sensacionais em seu kit. “Revolver“, a faixa número 4, até começa com uns efeitos bem chatinhos, que logo logo dão lugar a um clima psicodélico e que mais uma vez ganha peso no refrão. E antes que um Bolsominion ache que a música se trata de uma apologia ao armamento, não!

Snakecharmer” é pesada e densa na medida certa e os caras não deixam de colocar sua quebradeira na música. O solo tem aqueles efeitos que Tom Morello usa com muita frequência. Tire me abre a metade final do play e temos a banda tocando em um andamento mais rápido do que o comum, se aproximando do Punk, porém com mais peso e mais Groove. Sensacional.

Down Rodeo” é uma mistura de influências: na introdução, os riffs flertam com o Rock Alternativo, enquanto que nas estrofes a coisa oscila entre o peso e o noise, em um mix bastante interessante. Mais uma vez o destaque vai para o baixista Tim Commeford, o cara tem a mão pesada. “Without a Face” é bem hip-hop nas estrofes e ganha um pouco de punch nas guitarras durante o refrão. Em “Wind Below“, mais clima psicodélico com a guitarra de Tom Morello repetindo as mesmas notas e o Groove entrando com tudo no refrão, mas o melhor está guardado para o final, onde o clima denso toma conta de tudo.

Temos as duas faixas finais, “Roll Right” e “Year of the Boomerang“, sendo a primeira com fortes influências do funk, o verdadeiro funk, que fique bem claro, e Tim Commerford novamente brilhando com suas linhas de baixo, enquanto que a faixa derradeira é carregada no Groove e pesada na medida certa, ganhando um momento épico, porém, breve, no meio. E assim temos um belo álbum que faz passar 46 minutos em um piscar de olhos.

Temos um álbum que é uma paulada na orelha do ouvinte. E mais do que isso, é uma aula de pensamento crítico e preocupação com o bem-estar social, coisa que tem andado em falta, principalmente no meio do Rock em geral. O álbum foi bem recebido pela crítica e público. A banda saiu em turnê pelos Estados Unidos entre os meses de julho e agosto.

É um disco que foi super premiado e com todo o merecimento. Estreou em 1° na “Billboard 200“, mesma posição alcançada na Suécia, França e na categoria Rock e Metal Álbuns do Reino Unido. Ficou em 2° na Austrália, Áustria, Alemanha e Noruega; 3° na Nova Zelândia, 4° na Suiça, Reino Unido, Holanda e Dinamarca: 5° na Finlândia, 6° na Bélgica e 10° Escócia e na Espanha. Não somente isso, o álbum foi certificado com Disco de Ouro na Austrália, Bélgica, Espanha e Reino Unido, Platina no Canadá e triplo Platina nos Estados Unidos. Em 1997, a banda ganhou o Grammy Awards na categoria “Melhor Performance de Metal” com a música “Tire me“. Na mesma edição do Grammy, as faixas “Bulls on Parade” e “People of the Sun” foram indicadas na categoria “Melhor Performance de Hard Rock“, mas não levaram, uma pena, pois são duas músicas sensacionais.

Enfim, hoje é dia de celebrar esse baita disco e de agradecer por termos uma banda como o RATM que é nota 10 no som e nota 1000 no seu ativismo. Seria tão bom se existissem mais bandas como estes quatro gênios. Vamos escutar esse disco no volume máximo, porque a resistência a esse sistema opressor precisa continuar. Uma pena que a situação da banda esteja indefinida e não sabemos se a banda vai continuar em atividade ou não. Precisamos de mais bandas como o Rage Against The Machine para incomodar ao sistema.

Evil Empire – Rage Against the Machine
Data de lançamento – 16/04/1996
Gravadora – Epic

Faixas:
01 – People of the Sun
02 – Bulls on Parade
03 – Vietnow
04 – Revolver
05 – Snakecharmer
06 – Tire me
07 – Down Rodeo
08 – Without a Face
09 – Wind Below
10 – Roll Right
11 – Year of the Boomerang

Formação:
Zack de la Rocha – vocal
Tom Morello – guitarra
Tim Commerford – baixo
Brad Wilk – bateria

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

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