Crítica: Ozzy Osbourne – “No Escape From Now” (documentário)
Quase três meses após sua morte, ainda é muito esquisito pensar em um mundo sem Ozzy Osbourne, e mais estranho ainda é pensar que realmente não temos mais o Madman em nossa presença.
O que era para ser um acompanhamento de sua trajetória dos últimos anos acabou virando um trabalho póstumo. Estamos falando do documentário Ozzy: No Escape From Now, produção da Paramout+, que traz o vislumbre da sua vida desde 2019, onde sofreu uma queda em sua casa, e daí em diante, ele passou por diversos processos, que agravaram o estado de sua saúde e principalmente, a sua locomoção.
O filme começa desse ponto em diante, com sua família e o próprio Ozzy, descrevendo como após a queda no banheiro, as coisas foram cada vez mais se agravando. O cantor passou por diversas cirurgias e sofreu com dores excruciantes, como a sua esposa e empresária, Sharon, fala por várias vezes, contando como um erro médico que submeteu Ozzy a uma cirurgia que não deveria ter sido feita da forma que foi feita, e isso desencadeou uma sucessão de problemas.
Mas Ozzy Osbourne, a estrela que nasceu para brilhar, não poderia ser diferente e foi buscar conforto na música. E aí entra Andrew Watt, que não só foi produtor dos dois últimos discos da voz do Black Sabbath, mas se tornou um verdadeiro amigo e motivador para que o cantor continuasse a sua trajetória nesses anos que lhe restavam, o encorajando em suas ideias e buscando estar ao seu lado, o motivando e assim foi feito. É incrível neste ponto vermos as diferenças entre o vulnerável e frágil homem debilitado em casa, que dorme no sofá e fala durante o sono, afundado em uma depressão de dar pena aos que estão ao seu redor, e o certeiro e convicto homem que entra no estúdio e grava uma música em um único take. Quando questionado como ele conseguiu o feito gravando a faixa “Patient Number 9“, mexendo em sentimentos tão obscuros, ele simplesmente responde com seu humor característico: “só precisei olhar para mim mesmo, tenho anos de experiência”.
O filme também aborda como Ozzy se emociona ao olhar para ele próprio como um homem de sucesso em sua carreira musical. O gosto que ele tem ao receber a notícia de sua indução ao Rock and Roll Hall of Fame, os medos de não poder comparecer a cerimônia, e como isso o machuca de verdade, e o homem emocionado que se mostra no avião a caminho desse dia que ele mesmo assume tanto ter esperado. Mais emocionante ainda ele de surpresa cantando de surpresa “Mama, I’m Coming Home” durante os ensaios, onde todos ao seu redor se emocionam, principalmente Sharon ao ver o marido cantando após um tempo longe da tarefa que tanto lhe fez bem e o manteve vivo ao longo desses anos.
Mas algo ainda faltava. Ozzy foi forçado a cancelar todos os seus planos de uma turnê devido ao seu problema de locomoção que mal o deixava conseguir ficar sentado por longos períodos, quem dirá em viagens e um palco, culminando assim em uma aposentadoria compulsória, faltando assim o adeus aos fãs. E como isso poderia ser melhor realizado se não juntando mais uma vez os quatro cavaleiros que deram início a tudo, os quatro originais do Black Sabbath.
E Sharon se jogou na tarefa que se tornaria, sem ninguém saber, uma despedida em definitivo. Uma reunião e celebração ao heavy metal, com diversas bandas, diversos nomes de peso da velha e nova geração, e assim foi feito. De volta ao começo, Back to the Begining, a despedida de Ozzy Osbourne, de seus fãs, desse mundo, e é incrível acompanhar um pouco desses bastidores, com o homem de tantos discos, tantos sucessos, tantos anos de carreira, nervoso por estar surgindo das profundezas em seu trono, de braços abertos, recebendo o calor do seu público e tudo eles tinham para lhe dar, e ele não decepcionou, fez o mesmo em retribuição e criou um momento que será lembrado para toda a eternidade. É incrível ver toda a sua dedicação para enfrentar tantos e tantos desafios para conseguir estar naquele palco, e acreditem, não foram poucos nem fáceis e isso não é omitido no longa.
Mais do que um presente aos fãs, é um grande momento estarmos acompanhando os últimos anos nada fáceis de uma estrela que brilhou atráves de décadas e que não só marcou um estilo todo, mas virou a cara disso, virou uma marca, virou um nome que se perpetuou na Terra, mais do que qualquer um poderia imaginar. Prepare seus lenços e aproveitem essa viagem de duas horas.