Crítica: The Boys encerra quarto ano em caixinha com formato de coração grotesco e contemporâneo
The Boys começou com a ideia de adaptar uma história em quadrinhos, que simplesmente satirizava esse próprio universo, em um época que a Marvel “ditava regras” no cinema atual com o seu universo piada farofa e dramalhões baratos, mas que enchiam os cofres do Mickey Mouse e de Robert Downey Jr. com montanhas de verdinhas.
Mas só isso era muito pouco para um universo que se desenhava a cada episódio, e começava a colocar a sua identidade própria e desenhar a sua história e marcar as telas, em meio as já citadas gigantescas produções “regratórias”, e mudava os rumos para um mundo sujo, podre e coberto com floreios para um população que abraçava essa ideia dos “anjos guardiões”.
Se lembra quando Harvey Dent diz em “O Cavaleiro das Trevas“, “ou se morre herói, ou se vive o bastante para se tornar o vilão?” Ele não mentiu, porém, os heróis da Vought já nasceram como vilões, e entre seus desejos, egos e luxúrias, há um podridão e violência, principalmente canalizada na figura do ácido, pervertido e ao mesmo tempo, carismático e impecavelmente interpretado por Antony Starr, Capitão Pátria.
Aos poucos, The Boys foi caminhando para, em suas alegorias de fantasias, roupas coladas e capas, ser um algo contemporâneo, que tocava em feridas que se abriram ao longo dos últimos anos, e expondo vísceras de um mundo que a cada dia mostra um retrato mais brutal e canhestro.
Toda essa volta nos faz chegar ao quarto ano da série, que teve seu último episódio da temporada lançado nesta quinta feira (18), no Amazon Prime Vídeo.
Foi um ano que dividiu opiniões, pois sim, houveram mudanças no ritmo, saindo do gore tradicional e uma figura vilanesca abaixo de Capitão Pátria. Mas será mesmo que o tom mudou radicalmente assim?
Sim, chegamos a um quarto ano mais político, mais sátiro a questões que estão acontecendo exacerbadas, e coincidentemente, a temporada se desenrola em meio a eleição presidencial dos Estados Unidos e a um atentado a um dos candidatos.
Nesse tempo, passamos por conotações ao nazismo com a pervertida Stormfront, que deixava até mesmo Pátria assustado com alguma de suas ideias, Soldier Boy, um alguém totalmente afetado pela guerra, corporações e controle de mídia. Será mesmo que houve a tal brusca mudança?
Na verdade não! Desde a metade de sua primeira temporada, The Boys caminhou para ser maior do que a sua proposta inicial, como já dito! Ele se alastrou para o mundo real e tocou em feridas abertas e expostas no mundo, e foca na história, e detalhe, estamos falando da penúltima temporada da série.
Então, abrem-se pontas, dentro do possível para que sejam fechadas em um final que promete ser grande, apoteótico e claro, com a dose ácida que ronda a história desde sempre em cada um dos episódios novos que é lançado.
Vemos um espelho do mundo, mais uma vez retratado em histórias travestidas, alegóricas, e que muitos fecham os olhos para enxergar, assim como fecharam os olhos para o que The Boys apresentava esse tempo todo, e muito fingiram não se tocar do que realmente era. Nada de histórias mastigadas, nada de piadas ruins. Temos aqui um embrulho em caixa em formato de coração, amadurecido, com um elenco que evoluiu com o tempo e que entregaram o que pode ser seu melhor desempenho, por necessitarem tanto do interno, de seus sentimentos mistos e tão extremos. E grotesco, assim como o mundo do lado de cá é, em um final chocante, de reviravoltas e de enredos que estão ao nosso lado dia após dia, na TV, no rádio, na internet, na nossa cidade, no nosso bairro.
O que vem pela frente, só daqui a dois anos saberemos, mas como Bruto, em sua virada insana ao final disse, “de nada, porra“, pois agradeço por algo desse calibre tomar uma proporção tão grande em mundo tão corporativo e de narrativas bélicas, essas figuras fantasiam um mundo mais do que real diante de nossos já cansados olhos.