Há 41 anos, o Titãs fazia a sua estreia
Há 41 anos, em 22 de agosto de 1984, o Titãs lançava seu auto-intitulado álbum de estreia, que é tema do nosso bate-papo desta sexta-feira. Vamos te contar um pouco da história deste play.
A banda foi formada no início dos anos 1980, quando os amigos que estudavam juntos no Colégio Equipe, na capital paulistana, decidiram montar um grupo musical. A exceção era o guitarrista Tony Bellotto, que era natural da cidade de Assis, e quando da formação da banda, estudava arquitetura em Santos e morava na capital. Em um primeiro momento, eles adotaram o nome bizarro de Titãs do Iê Iê. A ideia veio do ex-integrante Ciro Pessoa, que era o nono integrante e tinha visto um show da Blitz no Rio de Janeiro e sugeriu que o projeto fosse adiante.
O título da banda foi inspirado na biblioteca da casa de Tony Bellotto, onde os primeiros ensaios aconteceram. Ele tinha diversos livros, como “Titãs da Ciência“, “Titãs do Esporte“, “Titãs da Literatura” e eles resolveram incluir o “do Iê Iê” ao nome, que depois foi simplificado para Titãs, pois sempre causava algum tipo de confusão por parte dos apresentadores das rádios e casas de shows, além de sempre a banda ser confundida com o “Iê Iê Iê”, vertente que foi bastante popular durante o surgimento da Jovem Guarda.
Os primeiros shows aconteceram no Sesc Pompéia e eles costumavam subir ao palco com maquiagens, ternos coloridos e gravatas de bolinhas. Durante este período, eles gravaram uma fita demo, que continha canções como “Sonífera Ilha“, “Bichos Escrotos” e “Marvin“. Cópias pararam nas mãos de gente como Lulu Santos, Liminha e fez com que a banda alcançasse maior notoriedade, ainda que no underground. Mas a banda conseguiu um contrato com a Warner, que enxergou na banda uma possibilidade de ser sucesso de vendas, o que demorou a acontecer.
Certa vez, Paulo Miklos relembrou como era esse período inicial da banda, e iremos reproduzir a sua fala abaixo:
“A gente já tinha claro que o barato era a coisa criativa, aquilo que a gente podia criar juntos, e defender essa criação sem preconceitos. A gente tinha toda essa carga de informação, adorava o Arrigo [Barnabé], o Itamar [Assumpção], essa vanguarda paulista. Eu queria fazer umas frases dodecafônicas! A gente tinha uma proximidade também com a poesia concreta do Augusto [de Campos], o Arnaldo [Antunes] é um cara que estudou as coisas. A gente tinha esse conhecimento profundo da música popular brasileira trombada com toda música internacional. A gente era new wave, mas curtia Alceu Valença. (…) A gente sempre gostou do The Clash, por exemplo, que é uma banda que introduziu a música caribenha, o reggae, misturados com um punk rock mais encardido, mais sectário. (…) A gente era uma coisa caleidoscópica.”
Mas pouco antes de a banda entrar em estúdio para gravar o nosso homenageado do dia, Ciro Pessoa acabou saindo da banda. Ele era contra a troca dos palcos menores pelos programas de TV e também tinha uma rivalidade com o baterista André Jung. Essas diferenças chegaram a um tal ponto que ele chegou a ser convidado a se retirar. Resolvida essa questão, eles decidiram que não lançariam nenhum single, pois queriam ser lembrados pela obra completa e não somente por uma música.
Eles se juntaram ao produtor Pena Schimidt e foram para o Áudio Patrulha, em São Paulo, onde o álbum foi gravado. O Titãs resolveu fazer versões para três músicas, originalmente gravadas em inglês. A primeira foi “The Harder They Come“, de Jimmy Cliff, que virou “Querem Meu Sangue“, “The Ballad of John and Yoko“, do The Beatles, que foi traduzida ao pé da letra e “Patches“, de Ronald Dunbar e G. N. Johnson, que virou “Marvin“. A primeira, acabou fazendo mais sucesso dez anos mais tarde, quando o Cidade Negra regravou. A música “Go Back“, foi composta a partir de um poema de Torquato Neto.
Nesta época, o Titãs ainda não tinha um baixista fixo. A função era revezada por Nando Reis e Paulo Miklos. Nando tocou o instrumento em quatro canções, enquanto que Miklos tocou nas restantes, além de ter se revezado com Sérgio Britto no teclado. E nos vocais, nada menos do que cinco dos oito integrantes faziam um rodízio, um número impressionante, além de pouco usual para uma banda.
O primeiro álbum do grupo tem onze canções e duração de 39 minutos. A sonoridade em nada se parecia com o que a banda iria abordar mais tarde, principalmente entre os álbuns “Cabeça Dinossauro” (1986) e “Titanomaquia” (1993). Aqui, o Titãs viaja por estilos como a New Wave, Post-Punk e até mesmo o Ska. Os destaques ficam por conta de “Sonífera Ilha“, que virou grande destaque nos programas televisivos e é uma das músicas mais conhecidas da banda. “Babi Índio” e “Toda Cor” foram executadas nas rádios, e anos mais tarde, a banda regravou as músicas “Marvin” e “Go Back“, que ficaram melhores em suas versões definitivas.
Apesar das presenças constantes em diversos programas, como o Chacrinha e Raul Gil, as vendas não decolaram. Em agosto de 1997, o álbum tinha vendido apenas 107 mil cópias, que configurava como o álbum menos vendido da banda até então. A capa tem uma história curiosa: todos parecem estar inclinados para o lado, mas na verdade eles estão retos, é que eles foram posicionados em uma superfície de aclive.
Após o lançamento, Nando Reis saiu da banda. Ele tinha optado em continuar com o Sossega Leão, sua outra banda e que lhe dava maior retorno financeiro. Mas logo ele mudou de ideia, decidiu voltar e ficou até o ano de 2002, quando decidiu seguir carreira solo. Outra mudança aconteceu na virada do ano de 1984 para 1985, quando o baterista André Jung foi dispensado e para seu lugar, foi chamado Charles Gavin, do Ira!, que acabou sendo o destino de Jung.
O Titãs segue em plena atividade, contando com apenas três músicos da formação original: Sérgio Britto, Branco Mello e Tony Bellotto, que fez seu primeiro show no Rio de Janeiro no último dia 14, após se recuperar da cirurgia para retirada de um tumor no pâncreas. Hoje é dia de celebrar o pontapé inicial da banda, e mesmo que não seja o álbum mais relevante, foi a pedra fundamental da principal banda de Rock dos anos 1980, e que inclusive, inspirou nomes do Heavy Metal, como o Sepultura. Longa vida ao Titãs, banda sempre querida, principalmente por sua postura antifascista.
Titãs – Titãs
Data de lançamento – 22/08/1984
Gravadora – Warner
Faixas:
01 – Sonífera Ilha
02 – Marvin
03 – Babi Índio
04 – Go Back
05 – Pule
06 – Querem Meu Sangue
07 – Mulher Robot
08 – Demais
09 – Toda Cor
10 – Balada para John e Yoko
11 – Seu Interesse
Formação:
André Jung – bateria
Arnaldo Antunes – vocal
Branco Mello – vocal
Marcelo Fromer – guitarra
Nando Reis – baixo/ vocal
Paulo Miklos – baixo/ vocal/ teclado
Sergio Britto – teclado/ vocal
Tony Bellotto – guitarra