Hellorizonte Mosh Fest: Incantation e Crypta em uma noite brutal em BH

FOTOS: PATY SIGILIANO

A capital mineira Belo Horizonte é uma cidade com uma forte tradição no metal extremo e foi berço para algumas das bandas mais icônicas e influentes do gênero no país. Na década de 1980, surgiram bandas como Sepultura, Sarcófago e Mutilator, que foram pioneiras no desenvolvimento do death e black metal no Brasil. Essas bandas influenciaram não apenas outras bandas brasileiras, mas também bandas de metal extremo em todo o mundo. Por conta dessa enorme tradição no cenário mais extremo da música, a cidade tem recebido alguns festivais com bandas de grande renome no cenário nacional e mundial.

Na última sexta-feira, dia 12 de maio, foi a vez da cidade receber no Mister Rock uma das maiores bandas de death metal americana, o Incantation, junto com Crypta, Mortifer Rage, Dorsal Atlântica e Mutilator no Hellorizonte Mosh Fest.

O Hellorizonte Mosh Fest foi idealizado para reunir algumas das principais bandas do metal extremo em um único festival. O evento era muito aguardado pelo público mineiro, principalmente por conta do line up, sendo uma grande oportunidade para os fãs do metal extremo verem algumas das bandas mais icônicas do gênero em uma única noite e também uma grande festa com as bandas mostrando suas novas músicas e projetos para um público engajado e dedicado.

A casa ainda não estava muito cheia quando a banda mineira Mortifer Rage iniciou sua apresentação por volta das 19:30hrs. A banda é um dos grandes nomes do cenário do death metal nacional e é conhecida por suas letras que abordam temas sombrios e violentos, combinando uma sonoridade agressiva e técnica bem característica do gênero.

O som da banda é um verdadeiro soco no estômago e o vocalista e baixista Carlos Pira possui uma voz poderosa, mandando um gutural que preenche todo o ambiente. O Mortifer Rage apresentou um set de oito músicas distribuídas em pouco mais de 40 minutos e que giram em torno de composições complexas e bem elaboradas. Alguns destaques ficaram por conta da faixa que abriu o show, “Genocide of Minds”, “Obscure Chains” e “Hate My Offer”. Nesta última, uma grande roda de mosh já podia ser vista. Vale mencionar que o som do Mister Rock estava muito bom e ressaltou bem todos os instrumentos. Guitarras agressivas, baixo pulsante e bateria veloz formaram a base sonora que se encaixava perfeitamente com a voz, simplesmente matador. Se curte som pesado ao extremo, conheça a Mortifer Rage e sua alta qualidade sonora e uma performance ao vivo impressionante.

A próxima banda a se apresentar foi o Mutilator, uma das pioneiras do cenário do metal extremo no Brasil, tendo sido fundada em 1985 em Belo Horizonte. Sua sonoridade é caracterizada pelo thrash/death metal, com letras que abordam temas como violência, morte e ocultismo. A banda entrou no palco 20 minutos após o encerramento da apresentação da primeira banda, e desfilou alguns de seus clássicos que receberam uma execução digna de respeito.

A performance da banda foi intensa e cheia de energia, com os membros demonstrando habilidade técnica e musicalidade em cada música. O vocalista Pedro Ladeira se destacou pela sua presença de palco e performance agressiva, interagindo bem com o público e mantendo a atmosfera intensa durante todo o show. O baixo do Ricardo Neves é poderoso e bem potente, fazendo uma cozinha destruidora com o baterista André Márcio. Nas guitarras, Igor Podrão e Cesar Pessoa mandam riffs pesados e solos muito bem elaborados.

Os clássicos da banda, como “Blood Storm” e “Immortal Force” foram recebidos com entusiasmo pelo público, que cantou junto e se agitou durante toda a apresentação. Eles fizeram uma apresentação competente e com uma boa qualidade de som e iluminação que destacaram ainda mais a performance da banda. O público que era formado por fãs antigos e novos, se mostrou entusiasmado e participativo, criando uma atmosfera de celebração da música pesada. Foi uma experiência intensa e memorável para os fãs do metal extremo com uma performance cheia de habilidade e agressividade. O Mutilator mostrou que continua relevante e inspirada após tantos anos de carreira, conquistando a admiração e o respeito do público presente.

Na sequência viria uma das bandas mais aguardadas da noite, a Dorsal Atlântica. Sem nenhum atraso, às 21:20hrs, a banda liderada pelo vocalista e guitarrista Carlos Lopes começava o seu set que agradou muito quem estava ali para ver o trio. O Dorsal Atlântica é uma das bandas mais icônicas do metal brasileiro e, durante um show ao vivo, eles entregam uma performance intensa e repleta de energia, transmitindo paixão e comprometimento com a música.

Durante o show, a banda apresenta um repertório que mescla músicas de diferentes fases de sua carreira, passando por clássicos do metal brasileiro como “Tortura” e “Guerrilha”. O público, formado por fãs de diferentes idades, cantou junto e agitou com a energia da banda, mostrando o respeito e a admiração que o Dorsal Atlântica ainda exerce sobre os fãs do metal.

A interação da banda com o público é outro ponto forte do show. Carlos Lopes sempre conversa com a plateia e apresenta as músicas contando histórias sobre a composição e o que elas significam. Essa interação cria uma atmosfera de comunhão entre a banda e o público, tornando a experiência do show ainda mais envolvente. Vale ressaltar a habilidade técnica dos músicos. A banda toca com precisão e virtuosismo, demonstrando a qualidade do trabalho de cada um dos integrantes. As guitarras pesadas e as linhas de baixo pulsantes se fundem com a bateria forte e dinâmica, criando uma sonoridade poderosa e impactante. Ótimo show.

Apesar de o Incantation ser o headliner do festival, estava claro que a maior parte do público que já lotava o Mister Rock próximo das 23hrs, estava ali para ver a Crypta. Tanto pelos comentários quanto pelo número enorme de pessoas exibindo suas camisas da banda, isso estava bem evidente. E quando elas pisaram no palco, foram ovacionadas com muitos gritos de apoio à banda.

A Crypta caiu no gosto do público brasileiro e chama muito a atenção por sua sonoridade agressiva e técnica, além de suas performances ao vivo intensas e cativantes. Mas isso não seria diferente, principalmente por conta da trajetória da sua vocalista Fernanda Lira e da baterista Luana Dametto e o reconhecimento por terem integrado a banda Nervosa. Junto delas, as guitarristas Tainá Bergamaschi e Jéssica Di Falchi completam esse time que é digno de respeito, fazendo da banda uma das mais importantes do Heavy Metal brasileiro da atualidade.

Durante um show da banda, é possível sentir toda a energia e paixão que as quatro integrantes transmitem em cada nota e em cada movimento. Fernanda Lira comanda o palco com sua presença marcante e sua voz potente, alternando entre growls e vocais limpos com facilidade. As guitarristas entregam riffs pesados e solos virtuosos, com uma precisão técnica impressionante, enquanto a baterista Luana mostra uma habilidade rítmica única, ditando o ritmo do show com suas batidas precisas e agressivas.

Durante o show, a banda apresenta músicas de seu álbum de estreia, “Echoes of the Soul”, além da faixa mais recente, “I Resign”. A sonoridade da banda é marcada por um death metal técnico com uma atmosfera sombria e opressiva, perfeita para uma apresentação ao vivo. O público não descansou por um minuto sequer e os mosh pits não pararam. Banda e público agitavam em sintonia.

A interação da banda com o público também é um ponto forte do show. Fernanda Lira conversa com a plateia entre as músicas e cria um clima descontraído e divertido. Os presentes saíram de alma lavada após uma apresentação digna de nota. Certamente o show da Crypta é uma experiência única para os fãs do metal extremo.

Durante a espera para a atração principal da noite, ficou evidente que boa parte do público estava ali para ver a Crypta, pois a casa que estava lotada anteriormente, teve uma redução considerável no número de pessoas. Mas não ficou vazia, mas deu espaço para que durante a apresentação do Incantation se formasse uma grande roda de mosh formada por headbangers que curtiram de forma intensa o show dessa banda que fez um show devastador.

O Incantation é uma das bandas mais icônicas do death metal mundial, e sua apresentação ao vivo é uma verdadeira celebração do gênero. Durante o show, a banda entrega uma performance intensa, que transmite toda a paixão e comprometimento que a banda tem com o estilo.

A formação atual do Incantation é liderada pelo vocalista e guitarrista John McEntee, que é acompanhado por músicos talentosos e experientes, como o baterista Kyle Severn, o baixista Chuck Sherwood e o carismático Luke Shively na guitarra. Juntos, eles criam uma parede sonora densa e pesada, com riffs esmagadores, solos técnicos e uma bateria devastadora.

Durante o show, a banda apresenta músicas de diferentes fases de sua carreira, passando por álbuns clássicos do death metal como “Onward to Golgotha” e “Diabolical Conquest”. A sonoridade do Incantation é marcada por um death metal brutal, com influências de black metal e doom metal, que cria uma atmosfera sombria e um peso impressionante. Com um set de 14 músicas, eles agradaram a todos que estavam ali para ver a banda.

O público agitou muito e a interação da banda com o público foi um ponto forte do show. John McEntee conversa com a plateia entre as músicas e agradeceu a todos por estarem ali prestigiando a sua apresentação. Foi uma experiência e tanto para os fãs de death metal. Mesmo com toda a brutalidade do som do Incantation, os músicos esbanjaram carisma e se mostraram muito felizes de estarem ali.

O saldo do Hellorizonte Mosh Fest foi bem positivo. Contando com bandas de alto nível musical, o ambiente criado no Mister Rock proporcionou um verdadeiro espetáculo das bandas que receberam uma produção digna de respeito, som bem equalizado e ainda contou com um público fiel e empolgado. Agradecemos ao Erick Tedesco e a Tedesco Comunicação por fazerem possível o nosso credenciamento e a oportunidade de cobrir um festival deste porte e que só mostra a força que o Heavy Metal tem em Minas Gerais.

Setlist

Mortifer Rage

  1. Genocide of Minds
  2. Self War
  3. Religious Necrosis
  4. Obscure Chains
  5. Touch of Blood
  6. The Hammer
  7. Hate My Offer
  8. Guilty

Mutilator

  1. Evil Conspiracy
  2. Blood Storm
  3. Immortal Force
  4. Tormented Soul
  5. Mutilator
  6. Psycopath
  7. Believer of Hell
  8. Nuclear Holocaust
  9. Brigade of Hate
  10. Memorial Stone

Dorsal Atlântica

  1. Imperium
  2. Stalingrado
  3. Meu filho me vingará
  4. Belo Monte
  5. Pandemia
  6. Burro
  7. Tortura
  8. Vitória
  9. Metal Desunido
  10. Caçador da noite
  11. Guerrilha

Crypta

  1. Death Arcana
  2. Possessed
  3. Kali
  4. Under the Black Wings
  5. Starvation
  6. Shadow Within
  7. I Resign
  8. Dark Night of the Soul
  9. From the Ashes

Incantation

  1. Pest Savagery
  2. Carrion Prophecy
  3. Entrails of the Hag Queen
  4. Deliverance
  5. Rites of the Locust
  6. Lead to Desolation
  7. Disciples of Blaphemous Reprisal
  8. Fury´s Manifesto
  9. Desecration
  10. Ibex Moon
  11. Once Holy Throne
  12. Impending Diabolical Conquest
  13. Profanation
  14. Seige Hive

Renan Castro

Um engenheiro que se divide entre realizar cálculos complexos e a escrever sobre música. Mineiro de Belo Horizonte, berço de grandes nomes do metal como o Sepultura e Overdose, fui apresentado ao som pesado aos 12 anos de idade. Sempre tive o sonho de escrever resenhas de álbuns de Heavy Metal e poder divulgá-las para os apreciadores do estilo, por isso criei a página Nerd Banger no Instagram. Com grande foco no cenário nacional, faço o que posso para apoiar os artistas do nosso Brasil!

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