Iggor Cavalera sobre fazer metal nos anos 80: “no Brasil, era tudo sobre samba”

Iggor Cavalera, baterista de destaque na história do metal brasileiro ao lado de seu irmão Max na formação original do Sepultura, conversou com a Metal Hammer sobre seu olhar para o metal espalhado pelo mundo, sua infância no Brasil e o que o mantém atento ao que surge nos quatro cantos do planeta. Atualmente baseado em Londres, Iggor falou com entusiasmo sobre bandas como Overthrust, da Botsuana, que recentemente vieram tocar no Reino Unido, e como essas novas cenas o inspiram.

Criar algo em um lugar como o Brasil — e eu suspeito que seja a mesma coisa na Botsuana — era sempre aquela sensação de: ‘Ah, eles fazem isso melhor’. Mas a gente pensava: ‘Foda-se isso. A gente vai fazer tão forte quanto qualquer banda nos EUA, no Reino Unido ou onde for’.”

Ele contou que descobriu Overthrust por meio de amigos que lhe enviaram material e pelas plataformas digitais, especialmente o Bandcamp.

Eu pesquiso bastante. Bandcamp é uma das minhas ferramentas favoritas. Muitos projetos sem gravadora postam coisas lá, coisas diferentes do que se vê no Spotify e outras plataformas. Um amigo me mandou Overthrust, dizendo ‘você precisa ouvir isso’. Foi de impressionar.

Raízes brasileiras e o cenário inicial

Iggor volta ao tempo para lembrar que, nos anos 80, falar de metal no Brasil era tratado quase como algo exótico. Samba e ritmos locais dominavam, e metal era algo que poucos aceitavam ou abraçavam.

No Brasil, especialmente no começo dos anos 80, era tudo sobre samba — quase ninguém falava de metal.

Além disso, Cavalera comparou o surgimento de bandas brasileiras ao de outras cenas globais: muitos sem apoio, com instrumentos escassos, sem gravadoras, tudo isso fazendo com que a iniciativa fosse artesanal, quase na base da experimentação.

Separando-se dos estilos de outras regiões

Iggor admitiu que sua geração de metal no Brasil não se identificava totalmente com o que vinha da Europa ou dos EUA. Para ele, havia uma diferença de estilo, de realidade e de espírito.

“Nós não curtíamos como o metal era feito na Europa ou na América, porque era polido demais. Eles falavam de dragões e de castelos. A gente pensava: isso não é nossa realidade.”

Orgulho como influência e legado

Ele falou também sobre orgulho de ver bandas emergindo em lugares pouco esperados; sobre se sentir validado ao perceber que aquilo que Sepultura começou continua vivo, em estilos diversos, ao redor do mundo.

“O orgulho é grande: ver bandas de todos os lugares fazendo música incrível.”

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

One thought on “Iggor Cavalera sobre fazer metal nos anos 80: “no Brasil, era tudo sobre samba”

  • outubro 2, 2025 em 1:38 am
    Permalink

    O Sepultura criou, inovou e apresentou o estilo e som brasileiro dentro do metal com influências e coisas brasileiras, fato!!!! Com o tempo veio o Angra e Krisiun, sendo que o Angra teve misturas regionais em suas músicas e estilo de tocar!!!! Krisiun veio com o seu som mais sujo, death metal com estilo próprio e cheio de técnica, velocidade e brutalidade em suas letras e música!!!! Querendo ou não queira, uma hora ou momento alguma banda brasileira iria aparecer e se destacar no mundo metal!!!! Valeu!!!!

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *