In Flames coloca seu nome a prova em noite incendiária em São Paulo
Texto por: Tiago Pereira
Fotos: André Tedim
Existem relações entre bandas e fãs em que a fidelidade e as interações virtuais e ao vivo são, na maioria das vezes, intensas e positivas. Na última quinta-feira (09), a banda sueca de Death Metal Melódico e Metal Alternativo, In Flames, teve um claro demonstrativo desses e retribuiu com sua musicalidade e carisma ao seu público, em apresentação realizada no Tokio Marine Hall, na Zona Sul de São Paulo, que contou com a abertura dos brasileiros do Kryour.
Essa foi a terceira passagem do grupo em São Paulo, com apresentação única no Brasil e após as vindas nos anos de 2009 e 2017. Desta vez, o In Flames veio no contexto do lançamento do 14º álbum de estúdio, “Foregone”, (leia resenha aqui), que saiu em fevereiro deste ano e que recebeu críticas positivas desde sua publicação; além de uma turnê por países da América Latina como México, Equador, Argentina, Colômbia, Costa Rica e Chile, para divulgar o conteúdo.
Da abertura ao final da apresentação principal, a visão inicial é a de que os fãs do In Flames ficaram satisfeitos com o que viram durante a noite, desde uma abertura coesa e atrativa, a uma apresentação principal de uma banda que, desde a primeira faixa, se sentiu à vontade no palco e que conseguiu variar faixas de praticamente todos os álbuns de estúdio que lançou em mais de 30 anos de carreira sem pausas bruscas, com interações e agradecimentos pontuais a um público que pulsava fortemente e curtia o show da forma mais respeitosa possível, no Tokio Marine Hall. Para ambas as apresentações, as raras falhas de som perceptíveis eram rapidamente inibidas pelo apoio incessante da plateia e pela evidente sinergia e interação entre os membros.
O pré-show e a organização
O ambiente do lado de fora do Tokio Marine Hall era o mais calmo possível, algo que pode ser considerado comum em pré-shows. Após a abertura pontual, às 19h, parte dos fãs que chegaram cedo entrou na casa e corria por um lugar nas grades das pistas ou próximo delas e, em alguns casos, se preparava nos bares internos e observava o merchan oficial das bandas; enquanto a outra parcela observava o movimento, comia lanches nos food trucks ou corria atrás de camisetas da banda principal, nos arredores. O clima interno, claro, era de confraternização, principalmente com os visíveis diálogos entre fotógrafos e jornalistas em cobertura.
Kryour
O já conhecido terceiro sinal do Tokio Marine Hall tocou perto das 19h45. Pouco antes, era possível ver membros de apoio do Kryour realizando os últimos testes e, em destaque, o baterista da banda, Matheus Carrilho, que ajustava alguns equipamentos de gravação e de seu instrumento.
A apresentação da banda paulistana começou, de fato, às 19h48. Durante a introdução, com “However… Keep Trying”, cada membro apareceu por vez no palco: Matheus foi o primeiro, seguido por Gustavo Muniz (baixo), Guba Oliveira (guitarra) e Gustavo Iandoli (vocal e guitarra). No setlist de oito faixas, houve uma mescla de músicas das duas obras até então lançadas pelo grupo: o álbum de estreia “Where Treasures Are Nothing” (2019) e o EP “Creatures Dwell My Room” (2023).
Após as duas primeiras faixas, “However.. Keep Trying” e “Anxiety” – a segunda com uma boa introdução de Gustavo Muniz -, durante a primeira interação da banda com o público, Iandoli fez os agradecimentos iniciais e buscou por aqueles que já conheciam a banda. Carrilho, pelo seu engajamento nas redes sociais com vídeos tocando bateria, foi mais reconhecido e chegou a ser chamado, via grito, de “o baterista do TikTok” por um dos espectadores. Isso, claro, em tom de brincadeira e valorizando o trabalho do músico e da banda.
As primeiras nuances de destaque de Matheus Carrilho vieram na terceira faixa, “Colorful”, que também foi o primeiro momento de ovação do público para a banda. Após “Destructive Hope” e as linhas de tapping de Gustavo Iandoli, o mesmo relembrou o EP mais recente e revelou as intenções da banda de lançar algo novo em 2024.
O Kryour também tocou as faixas “Why Should I Know?”, “Chrysalism”, “Chaos of My Dream” – esta relembrada pela banda como a primeira que lançaram, no início da carreira – e, por fim, finalizaram com “The Leaving”. Nelas, era visível a sinergia da banda, com momentos em que Matheus Carrilho dava uma baqueta para Guba ajudar no bater dos pratos, além de sequências de pedais duplos do próprio baterista e as boas linhas dos guitarristas, em conjunto ou em solos. Em determinado momento, uma das viradas de Carrilho fez todo o meu corpo tremer, tamanho o estrondo do grave.
O show terminou às 20h30 e deu espaço para os preparativos da banda principal. Em geral, uma abertura que abriu os olhos daqueles que não conheciam o quarteto e que viram uma nova banda para seus repertórios.
A chama acesa do início ao fim
Os preparativos para o show do In Flames tiveram um destaque inusitado: a iluminação do palco tinha variações de cores combinadas que, naquele momento e durante o show, foram um suporte importante. E claro, as luzes em verde e amarelo foram as que ficaram por mais tempo, em uma das várias demonstrações de carinho da banda com o público brasileiro.
Estas luzes ficaram apenas em verde e em parte dos refletores, enquanto o restante foi desligado para a entrada do In Flames, às 21h07. A entrada dos integrantes foi com a faixa “The Beginning of All Things That Will End”, que também abre o disco “Foregone” (2023). Tanner Wayne (bateria), Björn Gelotte (guitarra), Chris Broderick (guitarra), Liam Wilson (baixo) e Anders Fridén (vocal), aos poucos, apareceram no palco e levaram o público ao delírio. Na sequência, a faixa inicial foi “The Great Deciever”, do mesmo álbum recente.
O clima de êxtase e o ânimo aguçado da plateia veio na música seguinte, com “Pinball Map”. Foi neste momento em que, da forma mais espontânea possível, o primeiro mosh Pit da noite surgiu na pista Premium. Da mesma forma, Anders deu seus primeiros guturais da noite que, apesar de mais audíveis para quem estava mais para trás, não foi empecilho para um acompanhamento vocal coletivo, à sua maneira.
Ao término de um dos sucessos do álbum “Clayman” (2000), o público presente no Tokio Marine Hall ecoou o primeiro cântico de “olê, olê, olê, In Flames, In Flames”. Foi como se dessem resposta ao vídeo que a banda postou nas redes sociais um dia antes do show e que lembrava uma das apresentações anteriores, onde o mesmo grito foi cantado fortemente. Aqueles que, provavelmente, não viram o vídeo, ainda assim, cantaram da mesma forma. Os membros da banda, claro, se impressionaram com a força vocal dos presentes, que cantavam a ponto de parecer que o local estava totalmente ocupado.
Na sequência, a banda tocou “Everything’s Gone”, do álbum “Siren Charms” (2014). Os gritos de “Olê Olê” continuaram ao final e Anders afirmou não ter nada como eles. O frontman do In Flames ainda perguntou se os presentes estavam em uma boa noite e se queriam um bom show, fora confirmar que seria uma noite repleta com faixas que passariam por todo o repertório da banda.
Para representar o álbum “Colony” (1999). O grupo tocou “Ordinary Story”. Anders se sentiu tão à vontade em São Paulo que pegou um celular de um dos fãs da grade para gravar um pouco da apresentação em seu ponto de vista.
Em seguida, a banda viajou ao primeiro álbum, “Lunar Strain” (1994), para tocar “Behind Space”. Os elogios de Anders e banda ao público seguem e reforçam a impressão positiva do quinteto ao Brasil. “Graveland” deu sequência à apresentação.
O show seguiu com “The Hive” e, para a alegria de outro fã, o frontman do quinteto pegou seu celular e foi em direção à bateria. Björn mostrou suas habilidades e executou um solo louvável para o público.
Um dos ápices de acompanhamento vocal do público veio no refrão de “Cloud Connected”, única faixa de “Reroute to Remain” (2002). A ausência de “Trigger”, do mesmo álbum, até seria sentida ao fim do show, mas não mudaria em nada a opinião positiva de grande parte do público.
A escolha das faixas pode ser um motivo da reação aclamada do público ao In Flames. O som dos “olê olês” era tamanho a ponto de Anders Fridén, em tom de brincadeira, pedir para o público “calar a boca”, pois queria falar algo. Os risos coletivos o fizeram desistir do discurso e pedir mais cânticos. Tanner Wayne dançou se seu posto e gravou os “olês” a pedido de Anders, de modo que usassem num futuro álbum da banda; e os sorrisos dos músicos de cordas eram mais que evidentes a esse ponto do show. Anders, para finalizar este momento de pausa, apontou para o coração em forma de agradecimento.
Com “Only For The Weak”, o público presente começou a pular e cantar a faixa. No meio da faixa, o frontman do In Flames fez questão de afirmar que o público de São Paulo “é o melhor de toda a América do Sul”.
A banda segue com “The Quiet Palace”. “Foregone I” é tocada em seguida e leva o público presente ao delírio, pela espera da faixa. Anders também dedicou “State Slow of Decay” à plateia, que canta a parte final da música em coro.
As faixas “Alias” e “The Mirror’s Truth” dão abertura à reta final da apresen
tação. A segunda citada, inclusive, marcou o maior circle Pit da noite, consequência dos pedidos de Anders e do desafio só mesmo em criar uma roda “maior que a da Argentina”.
Anders tira um último momento de pausa para apresentar os membros da banda. Antes, o baterista fez questão de gravar, desta vez em vídeo, o coro de “olês” da plateia, ainda mais alto.
Ao citar Björn, o frontman respeitosamente pediu desculpas a Chris Broderick, pois tinha que exaltar ainda mais o parceiro e guitarrista solo por tudo que fez na banda. Foi algo levado numa boa pelo ex-Megadeth e, claro, pelo público presente.
Outro sucesso da banda, “I Am Above”, é tocado em refrão muito bem cantado pelos fãs e com um deles, ao meu lado, usando de um aplicativo para pedir, em inglês, que Anders gravasse em seu celular, como fez em outras duas vezes. O pedido não foi atendido.
Por último, veio a última faixa, “Take This Life”, que tirou os últimos gases da plateia em saltos.
Anders finalizou a última faixa soltando o microfone no chão. Parecia um último ato, não fosse o que viria na sequência: Tanner em agradecimentos calorosos, Chris e Liam mais contidos nos agradecimentos, um Anders ainda impressionado com o público e, dos mais inusitados, Björn com uma lata da cerveja BRAHMA nas mãos, em outro ato de brasilidade.
A saída, com “Let Me Put My Love Into You”, do AC/DC, conduziu uma multidão que não foi suficiente para lotar o Tokio Marine Hall, mas foi totalmente capaz de fazer barulho por quem não veio ou não pôde vir por algum motivo. Uma noite que, para quem viu pela primeira vez ou por mais uma vez, será memorável pela sinergia ímpar entre banda e público. Este público, inclusive, super respeitoso e que, onde eu estive, cedeu espaços de gravação de modo que nem eu pensei que conseguiria sem acabar por incomodar alguém.
Setlist Kryour
Intro: However… Keep Trying
- Anxiety
- Restless Silence
- Colorful
- Destructive Hope
- Why Should I Know?
- Chrysalism
- Chaos of My Dream
- The Leaving
Setlist In Flames
Intro: The Beginning of All Things That Will End
- The Great Deciever
- Pinball Map
- Everything’s Gone
- Ordinary Story
- Deliver Us
- Behind Space
- Graveland
- The Hive
- Cloud Connected
- Only For The Weak
- The Quiet Place
- Foregone pt. 1
- State of Slow Decay
- Aliás
- The Mirror’s Truth
- I Am Above
- Take This Life
Final: Let Me Put My Love Into You (AC/DC)
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