Kool Metal Fest – Com direito a moshpits e stage divings, o Thrash Metal comprova que é a verdadeira festa do povo, pelo povo

Por Metalphysicist

O Carioca Clube, há bastante tempo, tornou-se a casa de espetáculos mais badalada para shows de Hard Rock e Heavy Metal em São Paulo: fácil acesso por ônibus ou metrô, bastante espaço em seu interior para circulação do público e, principalmente em noites de Festival, o Carioca cede espaço enorme para toda as bandas divulgarem e venderem merch para a galera, que circula para lá e para cá, nos intervalos entre os shows (praticamente sem atraso na troca de bandas no palco).
O cast deste ano do Kool Metal Fest contou com um ótimo lineup, dando voz às bandas do underground nacional mostrarem seus trabalhos (Damn Youth, Escalpo, Cerberus Attack e Santa Muerte). Nesta versão do evento, as bandas principais foram o Ratos de Porão, Exhorder e Vio-lence – na noite de despedida do guitarrista Phil Demmel da banda – da qual foi fundador e que deixou o seu recado em alto estilo nesta noite, antes de seguir adiante como integrante da nova banda de Kerry King (cujo novo single “Idle Hands”, ficou do caralho, diga-se de passagem!).

Moshpit e Stage Diving – Únicas regras do Fest

Cheguei ao Carioca Clube bem quando o Dawn Youth concluía seu set com muita energia – uma molecada com sangue nos olhos, interagindo com a galera na pista, deixando claro que eles estarem no palco não significava que o público na pista era menos importante que a banda – abrindo espaço a uma constante invasão de palco pelos metalheads para curtirem com a banda por alguns segundos em cima do palco e, em seguida, corajosamente, pularem do palco em cima da galera da fila do gargarejo, esquema stage diving com um nível de periculosidade 8/10.
E a máxima da noite foi justamente o clima de festa e comemoração Trash/Crossover ao longo da apresentação de todas as bandas. Já sabendo que isto aconteceria, a produtora do Fest e os seguranças retiraram as grandes que, usualmente, separam o palco do público. E, como de costume, o público do Metal soube aproveitar a oportunidade de maneira civilizada e festiva, sem maiores incidentes – bem diferente do que parece acontecer nas festas carnavalesca mal organizadas, zoando as ruas da cidade, invadindo a pútrida arquitetura paulistana, cuidada com desprezo pelo Prefeitos que já passaram por aqui, fazendo merda atrás de merda na reconstrução de São Paulo.

Ratos de Porão quebrando tudo no palco

Antes do Ratos de Porão entrar no palco, o público ainda era diminuto. Mas bastou o show do Ratos começar para que mais de 500 bangers, saídos dos esgotos, ocuparem praticamente toda a pista do Carioca Clube.

O Ratos apresentou um show indefectível, valendo mencionar a boa condição física de João Gordo (em comparação a alguns shows preocupantes no ano passado, que davam sinais de que ‘o traidor do movimento Punk’ – como era conhecido nos anos 80 – já não recolheria condições para conduzir um show tão energético quanto o RDP sempre nos entregou).

João Gordo conseguiu agitar mais no palco, cantou muito bem e de forma revitalizada, melhorando em muito os vocais guturais ao longo das músicas. E, graças à saúde revigorada, o mano interagiu muito mais com a plateia – irreverente e militante, vociferando verdades sobre o Brasil que poucos músicos têm coragem de dizer atualmente no Brasil.
Juntando-se a João Gordo, Boca, Jão e Juninho tocam com velocidade voraz, com energia a mil e performance Thrash/Punk incessante, passando o baixista Juninho boa parte do show praticando saltos no ar livre no palco e sendo ajudado bastante com a energia entregue por seus parceiros de crime, para tornar o esporro no palco devidamente suprido.

O show cobre diversas fases do vasto repertório do Ratos de Porão, tais como “Anarcophobia”,Beber Até Morrer”, “Necropolítica”, fechando a apresentação com os clássicos anos 80 do Ratos (que até hoje são obrigatórias nos shows) – “Crucificados Pelo Sistema” e “Descanse em Paz” esta dedicada ao parceiro de punk e metal Jabá (que nos deixou recentemente, por problemas de saúde fatais).

O Ratos de Porão fez o público agitar de enlouquecido, cantando os refrãos das músicas, e reagindo imediatamente aos pedidos de João de fazer ‘a roda girar’, além da banda aceitar, de boas, vários fãs invadindo o palco/stage diving na sequência. A parada estava tão absurda que a produção concedeu ao RDP mais 10 minutos para continuar no palco. Nesta hora João diz que está feliz de ver uma garotada na audiência, feliz com a renovação de sua base de fãs.

Realmente João Gordo e a banda parecem imortais, chegando mais longe do que um cara feito eu, Metalphycisit, que acompanha a banda desde 1986 acreditaria que pudesse ocorrer – e lá vamos nós rumo a 50 anos de RDP nos palco do Brasil e do resto do mundo também. Verdadeira Instituição do underground brasileiro.

Exhorder – o anticlímax da noite

A tarefa do Exhorder de subir ao palco do Carioca Clube logo após o esporro que foi o show do RDP – que sugou quase toda energia do público (falo por mim também…) – tornou-se uma tarefa ingrata, criando um inesperado anticlímax no andamento do festival.

A este respeito, não é de hoje que o pessoal da imprensa nacional vem insistindo para os organizadores dos Fests pararem de seguir a lógica inexistente que ‘banda gringa tem que fechar a noite’. O RDP ter engolido o show do Exhorder serviu de mais um exemplo do estamos falando.

Para ajudar ainda mais no anticlímax da noite, a mesa de som e aparelhagem de palco deram ‘pane’, fazendo com que as guitarras desaparecessem em várias músicas, além do desagradável efeito de duplicação da voz do guitarrista e vocalista Jason VieBrooks, especialmente nas primeiras músicas do show.

De todo modo, Jason e os demais integrantes da banda não deixaram que estas intercorrências técnicas estragasse o humor e interação durante o espetáculo que entregaram em cima do palco. Destaco a execução dos dois singles do novo álbum, “Year of the Goat” e “Forever and Beyond Dispair”. O legal é que estas músicas se apresentam muito mais trabalhadas e groovadas do que as antigas (“Slaughter in the Vatican”, “Exhoder”), demonstrando que banda quer seguir adiante em sua musicalidade evitando tornarem-se “mais do mesmo”, ao lado dos clássicos da banda.

VIO-LENCE encerra a noite de maneira memorável

Para os que chegaram para assistir a todas as bandas do Kool Metal Fest (que teve início às 14h00), já se passavam quase de 6 horas de Festa Thrash. Neste quesito, parabéns à produtora do evento que convidou a DJ Bajul Marota para levar às caixas da casa de shows músicas de bandas que se comunicam com a vibe e estilo do festival (livrando-nos do calvário de sempre ficar escutando “Cowboys From Hell”, “Enter Sandam” e “Thunder Struck”…).

Mesmo cansado, o público fez questão de manter-se próximo do palco para assistirem e interagirem o tempo todo com o Vio-Lence – que fez o melhor show de Thrash que cobri, desde 2019, na despedida do Slayer dos palcos, no Rock in Rio. E o show do Vio-lence no Brasil, curiosamente, foi o local marcado para a despedida do incrível guitarrista, Phil Demmel, que vai tocar na banda justamente de Kerry Kingex-Slayer.

Além da apresentação à parte de Demmel, que tocou de forma precisa e mandou muito bem nos solos de “Eternal Nightmare”, “Kill In Comand”, entre outros clássicos do Vio-lence. Confesso que eu nunca fui muito atrás dos álbuns do Vio-lence, que eu considerava a segunda safra do Thrash Bay Area, ao lado de Overkill, Sacred Reich, Death Angel e Testament, entre outras. No entanto, após este show, ouvindo as músicas clássicas e mais recentes da banda ao vivo, vou ter que adquirir os álbuns do Vio-lence.

Outro destaque do show é a presença imponente Sellian Killian em cima do palco, trocando cumprimentos com a galera mais próxima, além de ‘ajudar’ certos bangers que invadiam o palco, com “um empurrãozinho” para voltarem para a pista, o que pode ter resultado em uns pousos doloridos da galera, com os ombros se contundindo diretamente no piso da pista).
Os demais integrantes dão conta do recado, ao longo de execução de porradas Thrash anos 80 “Calling in the Coroner”, “Officer Nice”, etc. No cover para “California Über Ales”, Sellian Killian convida ao palco Jason VieBrooks para juntar-se à banda e também a um bocado dos já usuais invasores de palco.

E, para encerrar a noite de Festa Thrash Metal, a banda toca “World in a World”, agradecendo ao público pela participação intensa durante o show do Vio-lence (com direito a serem ovacionados a coros de “Olê, Olê, Olê” durante o show), ajudando a coroar esta noite de despedida de Phil Demmel que certamente ficará marcada nas lembranças deste impressionante guitarrista de Thrash Metal.

E foi assim que o Fest de Thrash/Crossover terminou em alto astral, provando que show de Thrash underground, conduzido de maneira profissional pela produção e sem medo de romper as barreiras entre o público e as bandas, tornaram a Festa Thrash deste domingo num evento autenticamente realizado Pelo Povo, Para o Povo.
Que venham mais fests e bandas Thrash Metal em 2024 para tocarem por aqui, pois este foi o primeiro show que presenciei neste ano, e estou pronto para o que vier daqui pra frente, desde já agradecendo à Confere Rock pela oportunidade e também pela receptividade pela a produção do evento, que mandou muito bem na coordenação do espetáculo.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

One thought on “Kool Metal Fest – Com direito a moshpits e stage divings, o Thrash Metal comprova que é a verdadeira festa do povo, pelo povo

  • fevereiro 15, 2024 em 2:56 am
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    Pô, Valew a menção na resenha! Muito massa!
    Só adiciono que mesmo com o público chegando aos poucos, os shows da Santa Muerte e Cerberus Attack foram sensacionais, energia explodindo! Haha Quem não conhece vale muito a pena conferir os vídeos no YouTube 😉

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