Kool Metal Fest RJ: O Underground respira no Rio de Janeiro em sexta feira avassaladora

FOTOS: DANIEL CROCE
Ah, como é bom ver o Circo Voador completamente lotado depois de muito tempo e olha que eu cheguei bem cedo e me cerquei do tradicional pessimismo com relação a presença de público nos eventos em palcos cariocas. Já estava preparado para mais uma decepção e não é que eu errei feio, graças a Sat…,digo, Deus! Digo com todas as letras que o Kool Metal Fest foi um sucesso.
Realmente eu subestimei o underground fluminense e ver uma plateia intensa e participativa já valeu a minha noite e com a “língua queimada”, pude notar que várias gerações estavam presentem e isso me fez lembrar meu camarada Luciano Paz que sempre diz: “Onde é que estava esse pessoal todo nos outros shows do underground aqui no Rio de Janeiro?“. Essa é a verdadeira pergunta de um milhão de dólares…
VELHO
Às 20h45, diretamente de Duque de Caxias, o quarteto Velho, com um visual Black Metal (corpsepaint), mas misturando Black/Death Metal com Hardcore, os caras desde a primeira música “Mais Um Ano Esfria” mostraram uma vontade absurda de estar ali e com a plateia reagindo a cada música tocada no pequeno, mas efetivo set-list de 30 minutos.
Em meio a sons como “A Nova Onda Ocultista” e “Satã Apareça“, o Velho chamou no palco Valéria Tenebra, integrante original da banda, para tocar “Coma Induzido” e me atrevo a dizer que foi o melhor momento deles na noite. Dava para sentir o respeito do Velho com Valéria.
Um momento que demonstrou todo o profissionalismo deles, foi quando a corda do guitarrista Dod arrebentou e os outros integrantes continuaram tocando como se nada tivesse acontecido, enquanto acorda era trocada. Afetação zero, porque o show tinha que continuar.
Após 30 minutos extremos, o Velho terminou sua intensa apresentação, arrancando aplausos e o respeito do público do Circo Voador. De minha parte, me surpreendeu bastante e apesar de não estar muito familiarizado com o som deles, fiquei genuinamente impressionado.
GANGRENA GASOSA
O Gangrena Gasosa é uma instituição do Heavy Metal carioca e antes que me venham com alguma conversa fiada, a formação com o Angelo Arede e seus comparsas são os únicos que tem o direito de representar o seu nome em qualquer palco do mundo. Recado dado.
Com um ponto de macumba no som mecânico, “Rei Do Cemitério” inaugurou os trabalhos com os cariocas comandados por Angelo adentrarando o palco cheio de oferendas e velas para mais uma vez honrarem o palco sagrado do Circo Voador com mais uma daquelas apresentações antológicas que o sexteto costuma entregar. “Encosto” teve a primeira participação dos presentes e já dava para notar que o Circo Voador estava completamente lotado!
“Como é bom estar em casa”, disse Angelo, ou melhor, Zé Pilintra ao lado do seu fiel escudeiro Davi Sterminium (Omulu) e mesmo enfrentando alguns problemas nos microfones de ambos, que aliás foram devidamente ajeitados pelo hardest working man do underground, estou falando da jovem lenda Bernardo Tavares, o faz tudo nos palcos cariocas, a dupla colocou o público para mover insanamente no que Seu  chamou de Lado A e Lado B, o que a maioria conhece como Wall Of Death, mas aqui é o Rio de Janeiro, irmão, sabe como é que é…
A nova “Devorador É O Diabo” foi muito bem recebida, assim como a “homenagem” feita ao ex-presidente Jair Bolsonaro, mas a rapaziada queria mesmo era escutar os clássicos como “Quem Gosta De Iron Maiden, Gosta De KLB” e “Centro Do Pica-Pau Amarelo” até chegarmos na derradeira “O Saci“. A alegria estampada no rosto de cada integrante da banda mostrou o quanto foi especial esse show.
RATOS DE PORÃO
Tenho que confessar um pecado: apesar do alto dos meus 50 anos de vida, nunca havia visto um show do Ratos de Porão antes. Não me perguntem porque, acho que nem eu sou capaz de responder, mas estou aqui para me redimir e, até que enfim, prestigiar essa lenda do Rock brasileiro.
Com João Gordo nitidamente mais magro, o Ratos supriu todas as minhas expectativas em um show de uma hora recheado de clássicos do underground misturados com o mais recente álbum “Necropolítica” (2022) com destaque para “Descanse Em Paz“, “Crucificado Pelo Sistema” e a faixa-título do já citado disco lançado ano passado. Tudo isso num mar imenso de stage-divings com a grande participação de diversas meninas nos mais insanos mergulhos que eu já presenciei na vida, inclusive percebi o baixista Juninho estrategicamente posicionado mais atrás do palco para não ser atingido pelas diversas invasões no palco.
Nesse pique todo, João Gordo aproveitou para dar uma rápida descansada para voltar ao trabalho na cair na sequência matadora com “Beber Até Morrer” e “Aids, Pop, Repressão“, ambas do seu maior clássico “Brasil”(1989), aliás, é clichê o que vou escrever, mas o álbum continua mais atual do que nunca.
Um dos grandes shows desse ano, o Ratos não me decepcionou e já não passo mais vergonha dizendo que nunca havia visto um show deles.
BRUJERIA
Comemorando 30 anos do lançamento do seu álbum “Matando Gueros” (1993), o Brujeria está de volta mais uma vez ao Brasil. Os reis do Grindcore mundial tem bastante fãs em terras tupiniquim, porém eu não sou um deles, ainda mais depois dessa apresentação.
Não sou fã do estilo, mas achei que o Brujeria foi previsível e monótono. Digno de nota, só a a execução de “Hechando Chingasos” e “LaMigra” que teve seu videoclipe vinculado a exaustão na extinta Mtv brasileira, no mais nada me empolgou e mesmo a participação da plateia foi um pouco mais brando, mas acho que o fato de terem acontecido três shows bastante participativos e acho que houve um desgaste natural.
Enfim, em geral foi um excelente evento e mostrou que existe um público para shows no Rio de Janeiro e as vezes eles saem das suas tocas e fazem a diferença com as suas presenças.
Nossos agradecimentos ao grande Erick Tedesco e a Tedesco Midia pela cortesia e credenciamento.

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