Krisiun e Malevolent Creation iniciam turnê conjunta com apresentações pulsantes em São Paulo

Texto: Tiago Silva

A Burning House, casa de shows localizada na Água Branca, Zona Oeste de São Paulo, recebeu, na última sexta-feira (12) o início da turnê conjunta dos brasileiros do Krisiun e dos estadunidenses do Malevolent Creation, dois grandes nomes do Death Metal mundial. O evento também contou com duas bandas de abertura dos mesmos países: a Vulcano, do litoral paulista, e o Contortion, do sul da Califórinia, que representaram as sonoridades do Thrash/Death Metal e do Thrash/Groove Metal, respectivamente.

Esta foi a primeira das sete datas previstas para a turnê “Brasil Shows 2025”, organizada pela Xaninho Discos e pela Caveira Velha Produções e que passou por modificações devido aos problemas de saúde que Phil Fasciana, guitarrista e fundador do Malevolent Creation, passou recentemente, ao contrair uma pneumonia bacteriana ainda na turnê europeia. As bandas também passaram por Limeira (13/09) e Belo Horizonte (14/09), com continuidade nas cidades de Curitiba (18/09), Florianópolis (20/09), Porto Alegre (21/09) e Brasília (25/09).

A antecipação do show na capital paulista, previsto inicialmente para o início de outubro, não afetou a lotação do local, que recebeu uma grande parcela de fãs que ocupou a pista a ponto de dificultar a circulação em determinados pontos do local, a partir da penúltima atração. Junto a isso, ainda houve espaço para uma roda que, apesar de contar com poucos aderentes, ditou o clima do local com bate-cabeças intensos nos shows das principais bandas.

Enquanto o Contortion, banda na qual eu não consegui cobrir no dia, estava em sua segunda apresentação em São Paulo neste mês (e a segunda em solo brasileiro na carreira), o Malevolent Creation retornou após 13 anos de sua última vinda ao país. Vulcano e Krisiun retornaram após um período de nove e oito meses, respectivamente. Ainda assim, todas tiveram um grande nível de entrega em comum, fator que enriqueceu o evento e a noite de sexta-feira na Burning House. Veja mais detalhes a seguir.

Vulcano

O quinteto santista foi a segunda banda da noite e, de volta à capital paulista após nove meses, trouxe um repertório focado em uma volta ao tempo, com sete das doze faixas pertencentes ao álbum de estreia da banda, “Bloody Vengeance”, lançado em agosto de 1986 e que fará 40 anos em 2026. As faixas tanto tinham pegadas de Thrash Metal, quanto de Death Metal (principalmente as que remeteram aos primeiros trabalhos da banda).

Luiz Carlos Louzada (vocal), Zhema Rodero (guitarra), Ivan Pellicciotti (baixo), Bruno Conrado (bateria) e Cleiton Nunes (guitarra) iniciaram o show às 19h03, após uma passagem rápida no palco. Um instrumental mais longo foi tocado até a volta de Luiz Carlos, que clamou uma abertura e emendou para a letra da faixa, em um Thrash Metal bem cadenciado pelo grupo.

“Incubus” foi a primeira faixa do “Bloody Vengeance” a ser tocada, com alto poderio sonoro que, ao final dela, gerou gritos de “fudido” – num sentido positivo, claro – dos fãs presentes na Burning House. Em seguida, “Spirits of Evil” trouxe blast beats poderosos de Bruno Conrado, além de riffs pesados e rápidos por parte de Zhema.

Em “Witches’ Sabbath”, a euforia dos fãs mais próximos do palco ecoou até mesmo nos microfones, quando Luiz Carlos deixou parte deles gritar o refrão no microfone. O clima se manteve em “Death Metal”, a partir dos riffs poderosos e de um vocal ainda mais grave e gutural, além das viradas impressionantes do baterista do Vulcano.

“Church at a Crossroads” foi a única faixa da noite a representar o álbum “The Man, the Key, the Beast” (2013), sendo assim a faixa mais recente do repertório, uma vez que a banda optou por não tocar músicas do último trabalho, o álbum “Epilogue” (2024). O destaque se deu pelas linhas de baixo mais evidentes de Ivan e por um Luiz Carlos ainda inspirado, com direito a um momento de “saúde” com o público, reverenciado com a cerveja na mão. “Dominios of Death” retomou o repertório do primeiro disco do Vulcano, numa variação de ritmos poderosos que resultaram em pessoas bangueando na pista.

“Ready to Explode” explorou mais viradas de bateria de Bruno, situação que se manteve interessante na música seguinte, “Holocaust”, também acompanhada de um gutural ainda mais impressionante do vocalista, e de solos de Cleiton, na guitarra. Na sequência, a banda tocou “Total destruição”, segunda faixa na língua portuguesa da noite e que inflamou uma roda na pista, apesar das poucas pessoas que aderiram a ela. “Guerreiros de Satã” deu continuidade, emendada na faixa anterior, com maior velocidade rítmica e um par de solos dos guitarristas, além de novos fãs cantando com a permissão de Luiz Carlos.

A última música do Vulcano na noite foi “Bloody Vengeance”, do álbum de mesmo nome. Foi perfeita para que os fãs voltassem a fazer headbanging na frente da pista na primeira metade, além de um poderio sonoro digno de finalização a partir da segunda. 

Para quem esperava por um show da banda em São Paulo há um bom tempo, a apresentação do Vulcano foi, em todos os aspectos positivos, destruidora. O bom é que, como anunciou Luiz Carlos ao final do show, o retorno deles será em dezembro, o que reduz uma possível saudade.

Malevolent Creation

Quem esperou por um show do Malevolent Creation com a line atual completa, infelizmente, teve que aceitar a não presença de Phil Fasciana no palco. O guitarrista, um dos fundadores e único membro remanescente da formação original da banda, contraiu uma pneumonia bacteriana durante a turnê europeia e não esteve apto a tempo da apresentação em São Paulo.Ainda assim, em trio, o grupo estadunidense entregou uma boa apresentação na Burning House, com direito a 14 faixas e uma entrega positiva no palco.

O baixista e vocalista Jesse Jolly, o baterista Ron Parmer e o guitarrista Chris Cannella também fizeram uma breve passagem de som e iniciaram o show às 20h27, Logo de cara, mostraram o poderio sonoro com “Eye of the Apocalypse”, “Premature Burial” e “Coronation of Our Domain”, repleta de blast beats poderosos, metrancas na caixa principal, riffs tão rápidos quanto o ritmo da bateria e um vocal altamente grave de Jesse.

“Dominated Resurgency” foi o estopim para o público reabrir a roda na Burning House, algo que se desenvolveu timidamente na música anterior. Fãs do Malevolent Creation mais próximos do palco, inclusive, cantaram a faixa e acompanharam Jesse nos gritos mais destacados. Em seguida, o poderio técnico da banda por um todo foi mais perceptível com a sequência de faixas “Infernal Desire”, “Living in Fear” e “Homicidal Rant”, que inflamaram o clima e até fizeram o baixista e vocalista da banda fazer headbangings em certos momentos.

“Carnivorous Misgivings” trouxe blast beats ainda mais poderosos da parte de Ron Parmer. Outras faixas, como “Multiple Stab Wounds” e “Kill zone” mantiveram o poderio sonoro da banda.

Canella executou um ótimo solo em “Aliance of War”, faixa com intensidade contínua no som da banda. Já em “Slaughter House”, sua execução foi pouco perceptível nos agudos, porém impactante nas linhas rápidas e graves de uma faixa que ajudou a tornar a roda, mesmo que ainda com poucos aderentes, viva.

As faixas finais foram de grande impacto para encerrar o show do Malevolent Creation em grande estilo. “Manic Demise começou em um ritmo um pouco mais lento do que o comumente ouvido no setlist, porém virou para um ritmo explosivo, ditado principalmente pela bateria de Parmer nos blast beats e linhas de pedal duplo super rápidas e técnicas ao mesmo tempo. Já a famosa “Blood Brothers” veio após sinceros agradecimentos de Jesse Jolly, tanto pela hospitalidade em solo paulista, quanto pela receptividade no show. A música em questão foi uma escalada de ritmos explosivos que levaram a um bate-cabeça final naquela apresentação e que deu às últimas impressões positivas de um show explosivo, mesmo com um desfalque de tamanha importância. A retribuição final veio com o próprio Jesse, que aproveitou o intervalo entre shows para tirar fotos e autografar itens de fãs na pista.

Krisiun

O trio gaúcho de Death Metal voltou a tocar em São Paulo após oito meses da última vinda, no SESC Belenzinho. Parte do setlist de 12 músicas (que seriam 16, não fosse a redução durante o show), que finalizou a noite na Burning House, foi dedicado ao disco “Conquerors of Armageddon” (2000), que completou 25 anos em março deste ano.

Alex Camargo (baixo e vocal), Moyses Kolesne (guitarra) e Max Kolesne (bateria) subiram oficialmente no palco da casa de shows às 21h55, em meio à uma introdução com elementos de música brasileira e o clássico discurso introdutório, que finaliza com a frase “O Krisiun está aqui!”. “Kings of Killing”, do álbum “Apocalyptic Revelation” (1998), abriu o setlist a todo vapor, com fortes linhas de guitarra e baixo e, claro, os impactantes blast beats de Max Kolesne. Todos os membros foram ovacionados pelo público, principalmente por quem estava mais à frente e que se concentrou para exaltar os músicos, recebendo os cumprimentos de Max e Alex.

“Ravager”, primeira faixa do “Conquerors of Armageddon” a ser tocada, manteve o clima eufórico inicial, trazendo uma sonoridade ainda mais brutal à Burning House. Alex Camargo até mesmo disse, ao final dela, que sente orgulho de ser brasileiro por ter fãs como os presentes no local, incluindo amigos de longa data que deram o suporte ao trio nos primeiros anos em São Paulo. Tal discurso inflamou ainda mais a galera para “Endless Madness Descends”, com direito a pedais duplos de Max e, por parte da galera, dive stages e o sacramentar do bate-cabeça.

“Scourge of the Enthroned” e “Necronomical” trouxeram mais da técnica da banda, somada à brutalidade sonora como marca registrada. Em seguida vieram “Messiah’s Abomination”, muito bem cadenciada, e “Serpent Messiah”, iniciada após mais agradecimentos e citações aos amigos da banda presentes

A faixa-título “Conquerors of Armageddon”, foi tocada um novo discurso de agradecimento e uma reflexão rápida sobre os males da política e da religião nos tempos atuais. Isso casou com o conteúdo da canção, que relata um cenário apocalíptico e do enfrentamento ao divino, evidente principalmente no verso “Kill Lord Jesus Christ”, gritado inclusive por um fã, com a permissão de Alex, na reta final da música. Já outra pessoa próxima da região em que ficou o baixista também subiu no palco, porém para fazer headbanging com o músico.

Os irmãos Kolesne tiveram seus momentos de solo em sequência. Max foi o primeiro e esbanjou suas técnicas precisas e rápidas com a bateria, enquanto Moyses executou seu solo com fases com feeling, tapping, distorções, agudos longos e sequências mais velozes. Um combo perfeito para levar a plateia à loucura novamente.

O trio gaúcho chegou à reta final do show com a incerteza de tocar todas as faixas previstas no setlist. O resultado final foi o corte de quatro delas, priorizando duas grandes “pancadas” da banda. A primeira foi “Blood of Lions”, cujo riff de guitarra cadenciou o público a gritos de “hey” e, ao longo da faixa, a ter alguns deles subindo no palco para falar com Alex, pular de volta à pista via crowd surfing ou mandar um “vamo, Brasil!”, como um deles fez. A banda, claro, devolveu com todo seu poderio sonoro.

Já a última foi a mais pedida da noite: “Black Force Domain” teve o nome ecoado na Burning House tanto como um pedido, como um coro orquestrado por Alex Camargo antes do início do instrumental. Outros fãs ensandecidos, na parte frontal da pista, chegaram a subir em momentos esporádicos da faixa, gerando crowd surfing e ao mesmo tempo que outros se mantiveram na roda. Moyses fez ótimo solo e, ao mesmo tempo, finalizou a faixa com grandes distorções, ao lado de técnicas de Max e Alex que enriqueceram um fim de show caótico e que, novamente, marcou a importância do Krisiun no cenário do Metal Nacional, além de iniciar o final de semana da melhor forma para quem estava na Burning House.

Confira os setlists abaixo:

Contortion

  1. Idiot Box
  2. Dreaming Alone
  3. Within the Empire
  4. Guttersnipe
  5. For Want of a Nail
  6. No Destination
  7. Among the Stars

Vulcano

  1. Legiões Satânicas
  2. Incubus
  3. Spirits of Evil
  4. Witches’ Sabbath
  5. Death Metal
  6. Church at a Crossroads
  7. Dominios of Death
  8. Ready to Explode
  9. Holocaust
  10. Total Destruição
  11. Guerreiros de Satã
  12. Bloody Vengeance

Malevolent Creation

Intro: Blood Brothers

  1. Eve of the Apocalypse
  2. Premature Burial
  3. Coronation of Our Domain
  4. Dominated Resurgency
  5. Infernal Desire
  6. Living in Fear
  7. Homicidal Rant
  8. Carnivorous Misgivings
  9. Multiple Stab Wounds
  10. Kill Zone
  11. Alliance or War
  12. Slaughter House
  13. Manic Demise
  14. Blood Brothers

Krisiun

  1. Kings of Killing
  2. Ravager
  3. Endless Madness Descends
  4. Scourge of the Enthroned
  5. Necronomical
  6. Messiah’s Abomination
  7. Serpent Messiah
  8. Conquerors of Armageddon
  9. Solo de Bateria (Max Kolesne)
  10. Solo de Guitarra (Moyses Kolesne)
  11. Blood of Lions
  12. Black Force Domain

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

One thought on “Krisiun e Malevolent Creation iniciam turnê conjunta com apresentações pulsantes em São Paulo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *