Metallica: “Ride the Lightning” é o aniversariante do dia, 39 anos!
O ano de 1984 é marcado por alguns fatos que entraram para a história: quem nunca viu a maratonista suíça Gabrielle Andersen chegando na linha de chegada da Maratona durante os Jogos Olímpicos de Los Angeles, completamente desidratada e desorientada? Na mesma Olimpíada, tivemos a inédita medalha de ouro para o brasileiro Joaquim Cruz, nos 800 metros. No Brasil, o movimento das “Diretas Já” ganhava força e se hoje nós temos a oportunidade de escolher nossos governantes, podemos agradecer diretamente a esse movimento. Na música, tínhamos o Megadeth, fundado pelo ex-guitarrista do Metallica, Dave Mustaine, lançando seu disco de estreia, enquanto que sua ex-banda lançava o segundo álbum, “Ride the Lightning“, exatamente no 27 de julho daquele ano e que é o assunto a ser abordado hoje.
Apesar de ter bem presente a veia Thrash Metal do primeiro álbum, que completou 40 anos nesta semana e deixou o mundo inteiro apavorado (no bom sentido, claro) com aquela nova sonoridade, o aniversariante do dia já ganhou um pouco mais de amadurecimento, e também é um disco bem mais técnico. È um disco importante em qualquer coleção de um headbanger que se preze.
O título é uma gíria usada entre os presidiários para designar a condenação à cadeira elétrica, que ilustra a capa do play. Algumas das músicas presentes aqui já eram tocadas na turnê anterior e a banda passou por alguns percalços durante esta tour, como no episódio em que teve seu equipamento roubado e contou com a ajuda dos membros do Anthrax, que emprestaram os instrumentos para que o Metallica pudesse concluir a agenda de shows.
Outro fator curioso é que, à época, James Hetfield estava desconfortável com a dupla função na banda, de cantar e tocar guitarra base e cogitou ficar apenas na guitarra. A banda ofereceu o posto de vocalista para o então jovem John Bush, mas este recusou, pois na época estava com o Armored Saint, e esta banda estava bem, inclusive, era apontada por muitos como a banda que iria dar mais certo, dentre todas aquelas da Bay Area. O futuro mostrou que não era bem assim.
Então todos partiram para a Dinamarca, a terra natal do baterista Lars Ulrich, onde ficaram no “Sweet Silence Studios”, entre fevereiro e março daquele ano de 1984. E eles tiveram que correr com o processo de gravação, pois haviam shows agendados pela Europa em breve. A produção foi de Flaming Rasmussen, que viria a produzir outros álbuns da banda futuramente. A escolha de Lars por este produtor foi porque ele havia gostado do trabalho de Rasmussen no álbum “Difficult to Cure”, do Rainbow, lançado em 1981.
Logo depois do lançamento do álbum, executivos da Elektra assistiram a uma apresentação da banda e ofereceram um contrato. Como eles estavam insatisfeitos com o apoio limitado que a Megaforce Records de Jon Zazula estava dando, eles aceitaram o contrato e em 19 do novembro daquele mesmo ano, o álbum seria relançado pela nova gravadora.
Vamos colocar a bolacha para rolar e temos a abertura com um petardo: “Fight Fire With Fire“; Uma música bem Thrash Metal e não houve escolha melhor para o início do disco. Os riffs tomam conta da canção do início ao fim e aqui percebemos o up na produção em relação ao álbum de estreia. Muitos anos mais tarde, o Sepultura gravou um álbum de covers, alguns com qualidade bastante duvidosa e ao final, eles colocaram os riffs iniciais desta faixa aqui, que valeram mais do que o álbum quase inteiro. Poderiam ter gravado a música por completo.
A faixa título dá sequência ao play e aqui temos a prova da evolução da banda nas composições. Uma música não tão rápida, mas que tem um riff e base, que, em minha opinião, são os melhores já feitos pela banda. O nível segue alto. Uma das minhas eleitas como a melhor do disco. Esta é uma das músicas em que o antigo guitarrista Dave Mustaine receberia os créditos pela composição.
“For Whom The Bell Tolls” é a faixa que segue e o que falar do clássico da banda? A intro com o baixo de Cliff Burtoné simplesmente sensacional. Aliás, a intro é tão grande que nem nos preocupamos com o fato de a “parte cantada” ser relativamente curta. Aqui os riffs também dão as cartas. Excelente música.
Ai temos “Fade To Black“, uma música que causou polêmica. Era a primeira balada composta por uma banda que tocava músicas rápidas e pesadas. Claro que boa parte dos radicais torceram no nariz, mas é uma música muito boa, onde os caras mostraram que eram capazes de muito mais do que apenas compor músicas rápidas. no final, eles voltam com o peso e isso deixa a música mais e mais interessante.
Se você tem o vinil, é a hora de virar o lado e a faixa que segue é “Trapped Under Ice” e aqui temos uma faixa que volta com a velocidade, com mudança de andamento no meio da música. Aqui todos os músicos se destacam.
“Escape” é a faixa que dá sequência e ela vai na linha da faixa título, deixando a velocidade de lado, apostando mais na melodia e nos riffs, com aquele clima futurista. A melhor faixa deste disco, junto com a faixa título..
“Creeping Death” é a música mais matadora deste álbum. Que energia tem esta música. Até hoje ela é executada pela banda ao vivo, muitas vezes como faixa de abertura dos shows. É música para abrir o mosh de forma apoteótica. Estupenda música.
Fechando o disco, temos a instrumental “The Call Of Ktulu“, uma das poucas faixas (junto com a faixa título) que teve contribuição de Dave Mustaine. Uma música tão boa, onde temos um clima de suspense, com partes em que nos remetem ao Prog. A música é tão excelente que nem o “wha-wah” que Kirk Hammet coloca ali e que viria a se tornar uma marca dele, incomoda ao ouvinte, pelo contrário, ela melhora ainda mais o nível.
“Ride the Lightning” foi certificado com Platina no Canadá, Austrália, Alemanha, duplo Platina na DInamarca e recebeu por seis vezes o disco de Platina nos Estados Unidos. Nos charts, o disco teve boas posições, como o 9º lugar na Finlândia, 20º na Holanda, 22º na Suécia, 32º na Nova Zelândia, 38º na Austrália e 48º na “Billboard 200”.
47 minutos de pura obra-prima que nos faz apertar o botãozinho chamado “repeat” em nossos players. Sim é bem curto, mas certeiro. Em minha opinião pessoal, trata-se do melhor disco do Metallica. Claro que sem desmerecer a importância de “Master Of Puppets”, o seu sucessor, mas aqui a banda se superou na capacidade de composições mais trabalhadas. Não é um disco 100% Thrash Metal e isso enriquece ainda mais a obra.
Enfim, temos aqui um excelente disco, que fica ainda melhor a medida que fica mais velho. Em que a banda teve a capacidade de se superar das adversidades, como ter os equipamentos roubados na tour anterior. E isso era só o começo. Mal sabíamos que eles lançariam outras pérolas do Heavy Metal. E felizmente eles seguem na ativa, lançando álbuns e fazendo turnês mundo afora.
Ride the Lightning – Metallica
Data de lançamento – 27/07/1984
Gravadora – Megaforce Records/ Elektra/ Vertigo
Faixas:
01 – Fight Fire With Fire
02 – Ride the Lightning
03 – For Whom the Bell Tolls
04 –Fade to Black
05 – Trapped Under Ice
06 – Escape
07 –Creeping Death
08 –The Call of Ktulu
Formação:
James Hetfield – Vocal/Guitarra
Kirk Hammet – Guitarra
Cliff Burton – Baixo
Lars Ulrich – Bateria